Àqueles que estudam questões relacionadas ao conforto ambiental em espaços urbanos abertos, esta investigação inspira-se em uma problemática teleológica em torno das passagens — o espaço da rua —, onde a perspectiva analisada visa às questões das apropriações humanas nesses locais, originalmente propostos à habitabilidade momentânea — estar de passagem. Nesse sentido, a relação biunívoca de permanência, que aqui se estabelece comtempla: práticas de lazer, associadas, ou não, às questões de conforto.
De fato, os termos conforto e permanência apresentam certa sincronia. E eis que emerge algumas inquietudes. As respostas podem, mas nem sempre são específicas, quando escapam as abstrações — como as de popularização, por ações midiáticas, valorativas e afetivas — e do controle humano pelo espaço externo — como as relações meteorológicas e geográficas.
Sob essa perspectiva, explicita-se que, no intuito de conceituar uma parcela do cotidiano urbano — vivido e aprazível —, com diversos elementos variantes da paisagem, a proposta é investigar, em particular, um território da região central da cidade de São Paulo, como estudo de caso, onde estas práticas de lazer, pela apropriação dos espaços livres públicos, se dão de maneira intensa. Mas em que termos? Em busca de respostas, um posto de observação específico: a rua Aspicuelta, na Vila Madalena, região oeste, onde umas das imagens que reverberou nas mídias elucidam esse contexto da preferência pela ocupação da área, para a compreensão do modo de como é/foi vivido corporalmente. Em cena, portanto, um produto (cultural e social) urbano que a rua revela engolfada pelo lazer.
Da articulação metodológica, as contribuições conceituais apresentadas por Eugênio Fernandes Queiroga sobre “pracialidade”, designa um termo de reflexão privilegiado ao “estado de praça” que para o autor, esse princípio se abre também a outras espacialidades, como ruas, avenidas, lajes, pontes e baixios, parques, entre outros (1). O espírito de convívio que a praça proporciona a seus usuários e a escolha subjetiva desses ambientes para o convívio do momento. Assim, “sendo totalidades qualitativas de natureza complexa, os lugares não podem ser definidos exclusivamente por meio de conceitos analíticos” segundo Christian Norberg-Schulz, haja vista que, “a princípio, o lugar se apresenta como um dado e, ao fim e ao cabo, sugere a análise dos aspectos do espaço e do caráter ou essência”; um espaço “entre” (2).
A constatação favorece a exploração de searas teóricas da própria vertente dialética de interpretação das relações entre lugar e subjetividade, que permite problematizar e colocar em xeque as dicotomias a eles associadas. Em seu discurso sobre khôra, Jacques Derrida lhe atribui certo caráter metonímico ao nomeá-lo de lugar, fiando-se na alternativa do mythos e do logos, enquanto genealogia natural de um território. Trata-se, por isso mesmo, de um intervalo, um híbrido, que parece pertencer a uma lógica outra, que a lógica do logos — da concretude real e mensurável dos dados, medido e quantitativo — e, portanto, propõe um desajuste/deslocamento ao stricto sensu. Para Derrida a regularidade do logos, por sua lei natural e legítima, tem base em concretudes reais, o stricto sensu, apesar disso não pertence ao mythos, e por isso, a filosofia do lugar — a khôra — encontra-se nesse intervalo (3).
Enriquecidos por essa perspectiva, a reflexão lefebvriana se deixa subsumir ao mesmo dilema do mythos e logos; pois se “as relações sociais, por serem abstrações concretas, não tem existência real a não ser no e pelo espaço, então as práticas sociais são de fato práticas espaciais” (4). Da mesma forma — só que em via reversa, do logos ao mythos —, sob a égide das referências de bases tecnológicas e equipamentos laboratoriais, para Boon Lay Ong “the field of environmental comfort does not in fact exist” e, de fato, haja vista a dimensão oculta dos estímulos sensoriais do corpo humano e das experiências individuais, resistem aos relativismos da técnica; e o autor conclui “the titles of these subjects allude to the scientific and engineering foundation of the topic and explain the emphasis on technology and scientifically derived criteria in current literature on the topic” (5). Tais contribuições teóricas e procedimentos vão amplamente ao encontro da circunstância de fundo que marcam esta investigação.
Não é o caso aqui buscar razões para acareação da relação entre os usos da rua pelo edificado, como outrora realizado em outro estudo de Sérgio Antônio Santos Junior e Carlos Egídio Alonso que, sem dúvida, muito deve às virtudes emancipadoras de apropriação e permanência de um lugar (6). O objetivo desta investigação é, antes, contribuir para o empreendimento conceitual do estado de permanência, por questões que privilegiam os elementos quantitativos do ambiente urbano externo.
Métodos
Contemplar a produção social cotidiana, na qual as ruas da cidade aparecem com um papel metodológico relevante na interpretação do que sejam as respectivas apropriações de conforto e lazer; parece-nos assertiva as recomendações metodológicas e critérios sobre
“Environmental comfort thus begins by setting out the criteria for comfort and traditionally separates into three primary concerns — heat, light and sound. All three sub-topics are approached by describing the sense itself and the attendant criteria necessary for comfort” (7).
Se o que importa são as vivências socioespaciais que o pedestre tem sob ênfase das condicionantes de: calor, luz e ruído, nesse sentido, essas variáveis ambientais e antropogênicas, assumem relevância particular, enquanto objeto da pesquisa. Nesse estudo, entre as três categorias, vamos nos ater exclusivamente as questões térmicas.
Lançando mão desse tipo de estratégia metodológica, apresentam-se aqui os levantamentos de campo realizados com o objetivo de aferir dados da pertinência empírica, nas quais o pesquisador tem pouco — ou nenhum — controle do que está sendo pesquisado e cujo motivo do estudo é um fenômeno atual inserido no contexto da vida real sob as condicionantes locais de um momento no espaço-tempo. Fundamental nesta investigação é, pois, explorar em termos teóricos e metodológicos o fato de que a concepção do espaço da rua como mediação de práticas de lazer é indissociável de uma compreensão das relações e das variáveis ambientais e antropogênicas (temperatura radiante média — TRM, umidade e velocidade do ar), individuais (taxa metabólica e resistência térmica indumentária) e subjetivas (percepção de sensação ao conforto térmico).
Elucidada a perspectiva teórico-metodológica, abre-se espaço para uma série de outras questões, agora de cunho metodológico. Como o vivido corporal se traduz nos procedimentos de quantificação das variáveis? Ademais, como apreendê-lo analiticamente e em que momento?
A primeira pergunta diz respeito a como operacionalizar o vivido corporal. Para tanto, há que se ter clareza da perspectiva epistemológica que orienta a questão investigativa. Privilegiamos, nesse sentido, as normas internacionais que fornecem parâmetros psicométricos de percepção e sensação térmica no ambiente em questão com base em seus levantamentos laboratoriais, e que permite ser replicada sob outras condicionantes (8).
Com base nesses pressupostos epistemológicos, há como retornar ao espaço vivido corporalmente através de imagens e das medições de campo, sendo esta a vertente de apreensão analítica da segunda questão. Complementar, a baliza cronológica evocada é sugerida pelo vigor das confraternizações de rua, com o despertar do estado de latência territorial e que distinguem dias úteis de finais de semana — mais especificamente sexta-feira (fim de tarde), sábado e domingo —, estes de maior interesse dessa pesquisa pela maior capacidade em catalisar o público.
Levantamentos de campo
A operacionalização até agora empreendida convida a precisar aspectos locais, começando por sua dimensão espacial. Por referência ao campo de atividades da geomática, a rua Aspicuelta possui extensão aproximada em 750 metros e pode ser caracterizada como uma colina, onde a parte mais alta fica na confluência com a rua Fidalga; vale ressaltar a presença de uma área vegetada, a praça José Afonso de Almeida, que se encontra na interseção entre as ruas Aspicuelta e Simpatia.
Considerando a rua em questão, e devido à quantidade de equipamentos disponíveis, foram estabelecidas duas bases para levantamentos simultâneos. Para tanto, é necessário considerar que, em meio a densidade afetiva aos estabelecimentos em catalisar o público, cada uma das bases está impregnada com um intuito propositivo dos autores, sendo ao todo abarcados três locais, apresentados na figura seguinte e selecionados com base nos critérios a serem explicitados. A eleição das bases se deu buscando a diversidade de configurações tipológicas disponíveis, esses locais configuram simultaneamente pontos de passagem e de permanência, área vegetada e pavimentada, ou seja, situações urbanas reais capazes de identificar a realização das atividades comumente exercidas por esse tipo de apropriação em espaços abertos urbanos.
Para esses dois núcleos distinguíveis entre si, o espaço que interessa se constitui empiricamente nas adjacências da rua. Uma base foi fixada sob influência da área vegetada durante o período das 11h00min às 20h30min (UTC–3). A outra, houve uma alternância propositiva do ponto, por estudos preditivos e por observações diretas previamente concebidas, o intuito disso foi verificar durante o período das 11h00min às 19h30min (UTC–3) o vaivém de pessoas, as ações comportamentais desse vivido corpóreo associadas à habitabilidade momentânea que recaem sobre esse período, haja vista que, nesse território, as concentrações humanas privilegiam o lazer noturno. Convém salientar que esse procedimento foi realizado em um dia representativo com características de inverno (sábado, 10 de junho de 2017). No período das 19h30min às 20h30min (UTC–3) a energia térmica armazenada na tectônica durante o dia já de dissipou, como confirmado — noite e madrugada adentro a energia térmica refere-se, portanto, exclusivamente as ações antropogênicas —; desse modo, optamos para esse tipo de verificação por manter a base sob condicionantes semelhantes, mas com um leve ajuste: em um local transitável e desobstruído de cobertura, mas entre as mesas, como se fosse um organismo interativo nesse convívio.
Para a quantificação física das variáveis ambientais, utilizou-se a norma ISO 7726 (1998), que trata das especificações dos instrumentos.
Informações dos equipamentos: posicionamento na rua, dados do fabricante, valores médios referenciais fornecidos pelos equipamentos nos horários aproximados (os valores com (*) serão convertidos de temperatura de globo (ºC) para temperatura média radiante — MRT, afim de uma tipificação psicométrica da rua com base no padrão Ashrae 55, 2013. Os valores convertidos para o diâmetro de globo de 15cm e emissividade de 0,95, conforme estipulado pela norma com ventos a 0.1m/s, foram: de 27,86ºC para 32,80 ºC; de 17,73ºC para 18,40ºC; de 30,30ºC para 33,90ºC; de 18,76ºC para 19,30ºC. Cf. Calculadora globe temp
Elaboração dos autores com base em Ashrae, Standard 55-2013
Marcados por esses atributos, o domínio físico da rua é associado empírica e mecanicamente de maneira contundente com a observação direta. Percebemos que, do período de estabilização dos equipamentos com medições programadas a cada dez mininutos, a base n.1 estando sob influência da área vegetada apresentou temperatura mais elevada devido a maior exposição à incidência solar, enquanto a base n. 2 estava localizada em área pavimentada e ainda sombreada pelos edifícios adjacentes. A observação prossegue e não surpreende, se contemplada sob o rol de pesquisas outrora realizadas por outros pesquisadores, haja vista que os índices térmicos tendem a aumentar em áreas pavimentas após o sol no zênite; de fato, o ápice térmico de nossas medições também confirmam isso, pela base n. 2, e próximo ao horário do pôr do sol — 17h35min no período de inverno — as temperaturas caem e a energia térmica armazenada pelos materiais se dissipa rapidamente, sobretudo, pelas condições do céu que, nesse dia, se manteve descoberto, sem nuvem. Convém salientar que, no intuito de verificar/quantificar as ações antropogênicas na escala de grau Celsius (ºC), o ajuste propositivo da base n. 2 demonstrou alteração de aproximadamente ¼ (um quarto) de grau. Por fim, sobre as ações dos ventos nesse dia, manteve-se relativamente estático, conferimos esse transporte com a contribuição e intervenção dos veículos em movimento e o anemômetro apontou velocidade 0.00m/s, as rajadas ocasionais naturais marcaram máxima de 1.20m/s. Enquanto experienciadores do lugar, notabilizamos que a rua Aspicuelta é de baixa circulação de veículos, com características de uma rua do tipo local e muitos pontos de sinalização semafórica que a anteveem, já nas proximidades da rua Fradique Coutinho (de tráfego intenso) o fluxo é pouco maior e assume a sub função coletora.
Quantificação de variáveis
Para a quantificação física das variáveis ambientais e para uma melhor compreensão deste vivido corpóreo, nos alinhamos e nos referenciamos nas ISOs 8996 e 9920 que tratam, respectivamente, sobre valores de taxa metabólica observando as ações comportamentais; e dos valores de isolamento térmico, fornecidos pela roupa do usuário.
O procedimento vai amplamente ao encontro da circunstância de fundo que marca esta investigação. O contato com o vivido corporal, aqui, é necessariamente balizado por fontes psicométricas conferidas por um modelo dedutivo analítico de temperatura efetiva padrão (SET* ºC) e, portanto, não empírico, de sensação térmica (conforto), De fato, essa ressalva por nós acrescentada se justifica segundo os critérios que levam em conta a subjetividade, não podendo, assim, estabelecer-se enquanto totalidade, tal procedimento se percebe nas pesquisas realizadas por Monteiro, onde o pesquisador aplica questionários aos transeuntes para efeito de calibração subjetiva para, então, se obter o produto relativo à temperatura equivalente percebida — TEP. N. A (9). Os gráficos elucidam essa dimensão analítica e podem ser refletidos na dimensão empírica.
Estão em pauta, pelo modelo computacional ilustrado nos gráficos, determinados modos de emprego do corpo — isto é, uma ferramenta interpretativa de como os indivíduos usam seus corpos, ainda que de modo intuitivo e, talvez, propositivo, para interagir ao meio externo e praticar o mais interessante dos esportes: como metáfora, o flâneur.
Embora estejamos no intervalo entre o mythos e o logos, que subsidiam empiricamente a constituição dos padrões de individualização, esses modos de comportamento corporal dos pedestres, forjados sobre posturas, posicionamentos e movimentos físicos corporais específicos nos ensinam que interagir é comunicar-se pela mediação do próprio corpo. Partindo de uma descrição de cunho etnográfico de um local de pesquisa, pela observação participante, revela por referência anunciada àquilo que corrobora com o experienciado. Eis que surge o caráter sintático dos arranjos gráficos.
Operacionalizado o vivido corporal por meios técnicos, há como enfrentar a questão de como apreender analiticamente as condutas que permitiram operacionalizá-lo. Se o que importa são as vivências e com os usos dos estabelecimentos, especialmente noturno, essencialmente é revelador como a técnica foi de encontro ao vivido. Próximo ao pôr do sol (às 17h30min de um sábado), a rua estava pouco apropriada, o movimento tênue era destinado a permanência dentro dos estabelecimentos e na acolhida da praça; noite adentro (20h30min) o flâneur propicia aos usuários da rua maior sensação de conforto, frente à estaticidade nas mesas — psicometricamente desconfortável segundo padrão Ashrae 55–2013 — e, talvez, nisso, resida à preferência do pedestre pelo vaivém, um flanar característico da Vila Madalena nessa época do ano.
Verificação reflexiva
Cotidiano e paisagem. No que se refere à delimitação de um lugar para o lúdico está diretamente ligado à sua limitação no espaço-tempo e uma de suas qualidades fundamentais reside nesta capacidade de repetição. Da mesma forma com que acontece nos jogos, ou em quaisquer brincadeiras, em determinado momento, acabou! O mistério, encanto, fascínio, a ser conservado pela memória reside pela oportunidade de repetição e pela imprevisibilidade do próximo encontro, por circunstâncias que não são as mesmas duas vezes. Nessa separação entre dias úteis e finais de semana, pode-se, também, intuir a vinculação com o lugar sagrado, reservado a um momento específico; caso não haja esta distinção, há uma profanação, banalização, do lugar.
Verificamos que uma das características mais marcantes nessa apropriação do espaço urbano aberto (a rua) pelo jogo do lazer, verte-se por sua separação espacial em relação à vida cotidiana, sobretudo do trabalho. Aqui, atributos interativos da rua expressos pelo vaivém dos pedestres tornam-se contraponto ao que lhes é reservado rotineiramente, quer material ou idealmente, um espaço fechado, estático, isolado do ambiente cotidiano externo, e é dentro desse espaço que as imaginações — imagens-ações — se processam melhor. Da articulação entre cotidiano e paisagem, enquanto está decorrendo tudo se transforma, é movimento, mudança, alternância; tais funções fisiológicas, tão próprias e inerentes ao humano, recebem caráter apreciativo de bem-estar e, por tudo isso, torna-se, enquanto possibilidade, um rito.
Conforto. O objetivo investigativo observado é constituído pelas transformações nas regras de conduta dos transeuntes — ora sentado, em permanência, ora circulando entre estabelecimentos, o ir e vir — apreendê-las é aproximar-se interpretativamente de como foi vivido corporalmente esse processo lúdico-social no espaço em questão. De um lado, o dia convida ao estado contemplativo, mais estático junto ao recolhimento das áreas mais sombreadas; do outro, a noite inspira certa transgressão às amarras do dia, da rotina das mesas, mais liberdade e, desse modo, estar em movimento, é, também, estar em descanso, um conforto psicossomático. A atenção às transformações das ações comportamentais pressupõe que, não somente é importante o uso do e com o edificado, se leve em conta a variável ambiental, pela interação que esses usuários têm sob si mesmos em relação ao meio. É porque essas vivências se transformam com maior ou menor intensidade, se contemplados sob as condicionantes do meio externo; uma forma prazerosa (conforto) e sinestésica de sensações impressas ao corpo.
Efeitos térmicos e da vegetação. As árvores são fontes de amenidade que fazem uma diferença em termos de temperatura, umidade, vento e luz. Nas áreas urbanas, os espaços verdes constituem uma importante forma de adaptação às alterações climáticas, pela sua contribuição para a melhoria das condições microclimáticas da área envolvente e para a mitigação da ilha de calor. No entanto, como elucidado pelos estudos de Duarte, o efeito de um parque ou uma praça é apenas local, os modelos preditivos apontam que o ideal não é dado pela concentração, mas pelo espraiamento do verde (10).
Uma maneira de intervenção pelo planejamento urbano seria considerar uma rede de infraestrutura verde com vias arborizadas — semelhante ao que já acontece na Vila Madalena —, que conecte a cobertura vegetal aos demais espaços públicos da cidade. Cientes de que o uso das cidades é heterogêneo, escapando pelos conflitos e convergências dos modelos: dedutivo analítico, mas, também, se deve considerar o dedutivo empírico. Assim, a variedade de perfis espaciais encontrados na rua Aspicuelta, que se estende as demais ruas da Vila Madalena, contribuem com características e elementos.
Considerações finais
Como consideração geral, pode-se afirmar que os pontos de amenidades das situações microclimáticas levantadas na rua Aspicuelta e os respectivos resultados em termos de respostas pelos modelos preditivos SET* com base nos padrões Ashrae-55 distinguiram-se entre dia e noite, além disso, refletiram exatamente o vivido comportamental por nós observado (11).
Nessa perspectiva, surpreende que o modelo dedutivo analítico sem base empírica — subjetividade e entrevista ao pedestre — o fato de que o índice tenha apresentado resultados correlativos significativos, com calibrações pontuais pelo met. É compreensível o fato de que, durante o dia e com menor concentração humana, o recolhimento sob as copas das árvores não foi tão significativo/expressivo, haja vista que no período de inverno as pessoas privilegiam a exposição ao sol, muito embora o estado neutro (conforto) se dê pelo sombreamento; pela noite, o efeito da árvore é ainda perceptível, mas este se oculta em outras sombras.
Por fim, ressaltam-se os resultados gerais das simulações e calibrações realizadas, ao que tudo nos interessa, mais especificamente o período noturno, apontando para os gráficos que obtiveram melhores resultados, a fim de dar prosseguimento aos estudos dessa pesquisa pré-tese das situações reais, em face do vivido corpóreo, por nós vislumbrado. Em suma, o índice SET* (Ashrae-55, 2013), apresentou resultados correspondentes para a predição da percepção de sensações térmicas observadas e vivenciadas na rua Aspicuelta e permite aplicações em trabalhos futuros, respectivamente com relação a:
- possibilidades de verificação de modelos preditivos simplificados, em situações onde se realizem levantamentos in loco;
- possibilidades de estudos comparativos em regiões com infraestrutura semelhante, sobretudo com relação aos usos do edificado, e estabelecer possíveis relações que conduz o prestígio do público sobre determinada área urbana que se sobrepõe a outra;
- verificações e extrapolações teóricas além das bases empíricas, leituras da paisagem e conformismo em relação aos usos existentes, ou ainda a serem estabelecidos.
notas
NA — Agradecimentos à professora doutora Denise Helena Silva Duarte, pelo apoio à realização deste trabalho. Ao técnico Ranieri Carvalho Higa, do Laboratório de Conforto Ambiental e Eficiência Energética — LabAut, pelo apoio com o parque de equipamentos, desde a preparação ao processamento dos dados do trabalho de campo.
1
QUEIROGA, Eugênio Fernandes. Dimensões públicas do espaço contemporâneo: resistências e transformações de territórios, paisagens e lugares urbanos brasileiros. Tese de livre docência. São Paulo, FAU USP, 2012, p. 26.
2
NORBERG-SCHULZ, Christian. O fenômeno do lugar. In NESBITT, Kate (org.). Uma nova agenda para a arquitetura. Antologia teórica (1965–1995). São Paulo, Cosac Naify, 2006, p. 445.
3
DERRIDA, Jacques [1993]. Khôra. Campinas, Papirus, 1995.
4
LEFEBVRE, Henri. La production de l’espace. Paris, Anthropos,1974.
5
ONG, Boon Lay. Introduction: Environmental Comfort and Beyond. In Beyond Environmental Comfort. Nova York, Routledge, 2013, p. 1.
6
SANTOS JUNIOR, Sérgio Antônio; ALONSO, Carlos Egídio. Sintaxe de representação da Vila Madalena pela rua Aspicuelta. Anais da 3ª Jornada Discente Pós/FAU-Mackenzie: Pesquisa em Arquitetura, Urbanismo e Design, São Paulo, FAU Mackenzie, 2015, p. 287-301.
7
ONG, Boon Lay. Op. Cit., p. 2. Grifo dos autores.
8
INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 7726: ergonomics: instruments for measuring physical quantities. Genève, ISO, 1998; INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 8996: ergonomics: metabolic heat production. Genève, ISO, 1990; INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 9920: ergonomics of the thermal environment: estimation of the thermal insulation and evaporative resistance of a clothing ensemble. Genève, ISO, 1995; TYLER, Hoyt; STEFANO, Schiavon; ALBERTO, Piccioli; DUSTIN, Moon; KYLE, Steinfeld. CBE Thermal Comfort Tool. Ashrae Standard 55-2013. Center for the Built Environment, University of California Berkeley, 2013 <https://bit.ly/3IzT3Cj>.
9
MONTEIRO, Leonardo Marques. Modelos preditivos de conforto térmico: quantificação de relações entre variáveis microclimáticas e de sensação térmica para avaliação e projeto de espaços abertos. Tese de doutorado. São Paulo, FAU USP, 2008.
10
DUARTE, Denise. O impacto da vegetação no microclima em cidades adensadas e seu papel na adaptação aos fenômenos de aquecimento urbano. Contribuições a uma abordagem interdisciplinar. Tese de livre-docência. São Paulo, FAU USP, 2015.
11
Ashrae Standard 55-2013. Thermal Environmental Conditions for Human Occupancy. Ashrae, Atlanta, 2014 <https://bit.ly/3Z5HoAJ>.
sobre os autores
Sérgio Antônio dos Santos Júnior é professor e pesquisador adjunto nas universidades Paulista e Anhanguera. Mestre em Arquitetura e Urbanismo e doutorando pela Universidade de São Paulo, com ênfase em Urbanismo Moderno e Contemporâneo. Graduado em Turismo e em Arquitetura e Urbanismo.
Maria Fernanda Wadt é professora do Centro Universitário Estácio de São Paulo. Doutoranda em Saúde Global e Sustentabilidade pelo Centro de Apoio à Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, mestre em Ciência Ambiental, especialista em Direito Ambiental e graduada em Ciências Biológicas.
Taísa Dóccosse Pavani é mestranda em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo, graduada em Arquitetura e Urbanismo e em Teologia.