Como não posso participar do Concurso da Igreja da Puccamp – sou estudante ainda–, resolvi fazer uns croquis para ilustrar como essa edificação poderia ser. Vamos chamá-la de "igreja sem dono", à maneira como Lúcio Costa fazia com seus experimentos de casas.
A Igreja deve ser implantada em uma praça pública, de modo que sua função de reunir a comunidade acadêmica seja extremamente exaltada. Na proposta abaixo, a praça coberta definida pela laje curva faz as vezes de átrio, recebendo e preparando os fiéis para o espaço religioso. Nela deverão ser construídos jardins e um espelho dágua, de modo a reinterar o homem com os elementos da natureza e com a pureza da criação.
Sem criar uma atmosfera densa, o que separa a praça e a nave é apenas um vidro. logo na entrada, está a pia batismal, e ao fundo, o altar, com seu painel de muxarabi em madeira e uma luz zenital forte que vem de um recorte feito na laje. o fechamento da fachada oeste é feito com brises de concreto e vitrais que protegem da incidencia solar e filtram a luz que entrará na igreja, também já filtrada pelo fechamento do lado oposto. Através dos brises também pode se ver o espelho dágua lateralmente à nave principal, acontece a capela, que pode ter acesso direto da praça coberta, e se comunica diretamente com o altar através de painéis giratórios.
Atrás do altar, há uma circulação de serviço que dá acesso à sacristia, à secretaria, à sala de reuniões e aos sanitários e que termina na rua, como entrada de serviço. esse volume dos anexos deve ser recoberto por um painel de Athos Bulcão, retomando a tradição da azulejaria na arquitetura moderna brasileira.
A laje de concreto curva que define o volume da edificação é um caixão perdido que se apoia sobre 3 vigas em arco protendidas biapoiadas cortada em apenas um ponto para a entrada de luz zenital no espaço do altar. Ela não toca o solo (ver corte), o que garante uma integração visual entre interior e exterior.
Colocada sobre o espelho dágua, parecendo flutuar, nasce uma cruz esbelta, com proporções verticais e que substitui simbolicamente o campanário (não pedido no programa). Feita de tubos metálicos oxidados, ela rompe a total horizontalidade do conjunto e identifica a função do edifício.
Uma igreja que é praça, onde o mínimo é o ideal de beleza.
notas
[publicação: abril 2001]
Clévio Rabelo, Fortaleza CE Brasil