Fevereiro tem sido um mês emblemático para a arquitetura no Rio de Janeiro. Assistimos à apresentação do projeto para o Guggenheim de Jean Nouvel e foram veiculadas as primeiras imagens da Sala Sinfônica de Christian de Portzamparc.
Para quem esperava uma arquitetura espetacular como Bilbao, Nouvel surpreendeu com seu não-edifício, um penetrável de escala urbana composto por colagens da paisagem da cidade. A força do projeto não advém da forma, mas da descoberta de suas possibilidades.
Já Portzamparc homenageia a Oscar Niemeyer e a nossos grandes mestres onde justamente a arquitetura carioca é mais decadente, na Barra da Tijuca. Introduzindo citações ao modernismo brasileiro, o projeto da Sala Sinfônica demonstra que, enquanto rejeitamos nossa própria arquitetura, e perdidos nos afogamos em referências ao subúrbio americano, a experiência formal da arquitetura modernista já foi digerida pela elite da arquitetônica mundial e agora é reciclada com novos valores e matizes coerentes com o nosso tempo.
Tanto Nouvel como Portzamparc, ambos franceses e membros do chamado star system da arquitetura mundial, tem hoje seu reconhecimento devido à política pública de seu país. O governo Miterrand iniciou um processo de valorização da arquitetura através da promoção contínua de concursos públicos de projeto, abrangendo desde a escala do Beaubourg até pequenas creches e agências dos correios. Nouvel e Portzamparc participaram, e ainda participam, de diversos concursos, tendo a partir daí galgado seu patamar profissional.
Em 2007 o Rio de Janeiro sediará os Jogos Pan-Americanos. A prefeitura tem hoje a grande oportunidade de estimular o desenvolvimento da arquitetura carioca através dos concursos ao invés de eleger internamente os escritórios que deverão ser responsáveis pelos equipamentos olímpicos.
Existe hoje uma nova geração de arquitetos, informados e interessados, que têm toda a condição de reverter a estagnação atual e, quem sabe, recolocar a arquitetura brasileira no mesmo patamar que ocupou nos anos 40 e 50. Mas para isso é necessário que os mecanismos de escolha de projeto sejam tornados democráticos e transparentes. A promoção da boa arquitetura pelo poder público leva inevitavelmente à melhoria dos empreendimentos privados e da cidade como um todo [Leia sobre o mesmo assunto: LEONIDIO, Otavio. A arquitetura do desacontecimento. Arquitetura.Crítica, n. 011, abril 2003].
notas
[publicação: fevereiro 2003]
Pedro Rivera, Rio de Janeiro