Entre o 18 e o 25 de novembro de 2002 se desenvolveu no Programa de Pós-Graduação em Urbanismo (PROURB) da FAU/UFRJ, um workshop dirigido pela arquiteta búlgara residente em Miami, Galina Tahchieva, que contou com a participação dos professores do PROURB, Roberto Segre (Coordenador) e Flávio Ferreira; Sérgio Magalhães da FAU, e alunos do Mestrado e Doutorado em Urbanismo. A empresa Atlântica Residencial disponibilizou recursos para a concretização desta iniciativa docente. A arquiteta Tahchieva foi convidada por pertencer a um dos maiores escritórios profissionais de Miami – Duany Plater-Zyberk –, dedicados ao desenho urbano e identificados com o movimento New Urbanism, que há mais de uma década elaboram projetos tentando humanizar e qualificar esteticamente as anônimas áreas suburbanas das cidades norte-americanas, criando bairros e povoados com uma própria personalidade.
Rio de Janeiro é caracterizada pelos bairros “nobres” da Zona Sul e a infinita difusão de bairros com uma precária imagem urbanística nas Zonas Norte e Oeste. Tem que ser abolido este contraste, que se manifesta na diferenciada qualidade dos prédios residenciais e na restrita presença de espaços públicos com serviços sociais e áreas verdes na periferia onde reside a classe média e os operários. Urbanistas e arquitetos cariocas – como já aconteceu nos programas de Rio-Cidade e Favela-Bairro desenvolvidos pela Prefeitura nos anos noventa –, devem concentrar-se na renovação e qualificação de bairros que possuem uma grande potencialidade de desenvolvimento, não só por a alta densidade de população, mas também pela qualidade do sistema de transporte.
Por isto foi selecionado um terreno pertencente à Supervia no bairro de Deodoro, na proximidade da estação ferroviária. Centro importante de conexões viárias, o bairro teve um desenvolvimento menor em relação aos próximos de Marechal Hermes e Madureira. O terreno que conteve as propostas dos quatro grupos de alunos tem uma particular significação pela diversidade de elementos que o circundam: a estação de precária qualidade arquitetônica; uma favela encostada com os trilhos da ferrovia, os armazéns para o concerto de vagões, e as instalações militares. Isto cria uma variedade de elementos urbanísticos que geram a necessidade de assumir o conceito de “convivência de diferenças” nas propostas, obtendo a interconectividade dos espaços e funções.
Não é fácil resumir em poucas linhas as diferenças das quatro propostas. A importante experiência profissional da arquiteta Tahchieva orientou alguns critérios comuns entre as iniciativas: manter a altura dos prédios residenciais na altura de quatro ou cinco andares; criar uma malha contínua de quarteirões, estabelecendo a unidade do espaço urbano; definir áreas de usos mistos, que integrassem residência e comércio; separar radicalmente a circulação dos veículos e dos pedestres; estabelecer sistemas verdes ao longo de avenidas ou com pequenas praças para o uso dos membros diferenciados da comunidade: meninos, adolescentes, idosos, namorados, trabalhadores. Estes elementos, que caracterizam os princípios do New Urbanism, podem ser aplicados também no subúrbio carioca, transformando a desordem e a feiúra dominante, em ambientes urbanos de qualidade.
Enquanto um grupo assumiu a estação Deodoro como eixo de um centro cívico e comercial de dimensão regional, criando um prédio complexo multifuncional, outro colocou um shopping-center nos armazéns da ferrovia, aproveitando as gigantescas estruturas de concreto. Outra proposta expandiu o projeto até os prédios modernistas do conjunto habitacional Deodoro e em direção contrária, até o bem estruturado sistema urbano de Marechal Hermes, para definir uma continuidade urbanística ao longo dos trilhos da ferrovia. Em todas as soluções predominou a valorização do pedestre, do equilíbrio entre espaço privado e espaço público, e a dimensão dos prédios residenciais, distantes da intensa circulação dos carros, para promover a integração social e o sentido de pertença ao bairro da comunidade. Estes são os novos componentes de uma tipologia urbanística e arquitetônica que favoreceria a mudança e a requalificação do subúrbio carioca.
notas
[publicação: julho 2003]
Roberto Segre, Rio de Janeiro, Brasil