As cidades crescem e desafiam governantes e governados para o enfrentamento de problemas que a urbanização traz em seu bojo. A evolução urbana dos últimos 60 anos, no Brasil, demonstra com nitidez aquilo que recente pesquisa, muito oportuna, da Secretaria do Planejamento e Coordenação do Governo do Distrito Federal revelou: os contrastes intra-urbanos da Capital federal. Nenhum geógrafo, sociólogo ou economista chegaria a conclusões diferentes em termos das disparidades e desigualdades internas do aglomerado de Brasília – aqui entendida como sendo formada pelo Plano Piloto (o centro da cidade) e as cidades circundantes (as antigas "cidades-satélites").
Em razão da expansão de Brasília para os anéis externos, sobretudo no estado de Goiás, consolida-se a metrópole terciária e quaternária, diversa das grandes cidades que abrigaram parques industriais, como São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro. Nestas, o quadro geográfico não difere do de Brasília: periferias pobres, carentes de infra-estrutura e zonas centrais, bem dotadas sócio-economicamente falando.
As diferenças que poderiam ser apontadas estariam voltadas ao desenvolvimento secular nas velhas capitais estaduais e um pretenso quadro de planejamento urbano em Brasília. Aqui, como agora apropriadamente a pesquisa revela, necessita-se de políticas públicas de longa duração, não pontuais, mas globalizantes, envolvendo um largo território e suas atividades, em âmbito metropolitano. A favelização de muitas cidades está ligada à ausência de políticas públicas de médio e longo prazos, que são multiplicadores de oportunidades de emprego.
Os empregos gerados na periferia são multifacetados e capazes de reter a mão-de-obra nos locais de residência, coisa elementar que o planejamento urbano não deu conta de implementar. Assim, clama-se por política pública, em parceria com setores empresariais, para a descentralização da cidade, uma vez que não basta descentralizar a atividade de morar; deve-se descentralizar infra-estrutura e as oportunidades de trabalho para mais próximo dos moradores da periferia. Por este motivo, a pesquisa vem a calhar. Ela mostra de maneira clara, com números, aquilo que a geografia põe evidente na paisagem da bela e injusta Capital de nosso rico mas também injusto país.
notas
[publicação: dezembro 2004]
Aldo Paviani, Brasília DF Brasil