Em 22 de janeiro de 2003, o prefeito de Nova York, Michael R. Bloomberg, anunciou que a cidade estava autorizando os artistas Christo e Jeanne-Claude a realizarem uma instalação temporária chamada The Gates (“Os Portões”) no Central Park. Concebida em 1979, a obra foi finalmente inaugurada em 12 de fevereiro de 2005 e permanecerá no local por apenas 16 dias. Depois disso, todos os elementos montados serão removidos e todo o material será reciclado.
Os 7.500 pórticos – traves de quase cinco metros de altura e largura variando entre 1,67 e 5,48 metros – percorrem as trilhas de pedestres do Central Park. Penduradas livremente, cortinas industrializadas de pano cor-de-açafrão, ficam suspensas a pouco mais de 2 metros acima do chão, penduradas na trave superior dos portais. Os portais estão espaçados em intervalos de 3,65 metros, exceto quando as ramagens baixas avançam sobre os percursos e o espaçamento aumenta para que se abra a visão para a paisagem por dentre os ramos desfolhados das árvores.
Como sempre fizeram em trabalhos anteriores, Christo e Jeanne-Claude financiaram integralmente The Gates através da C.V.J. Corporation (presidida por Jeanne-Claude Javacheff), com recursos obtidos com a venda de estudos, desenhos preparatórios e colagens, maquetes, antigos trabalhos dos anos 50 e 60 e litogravuras originais sobre outros temas. Os artistas não aceitaram patrocínios ou doações. Christo, búlgaro, e Jeanne-Claude, francesa, agora moradores da cidade, doaram os direitos de merchandising para Fundação assistencial NNYN – Nurture New York's Nature and Arts, que estará dividindo estes direitos com o departamento de conservação do Central Park. Nem a cidade de Nova York, nem a administração do parque arcaram com quaisquer despesas com a obra. Por outro lado, The Gates gerou empregos para milhares de desempregados da cidade de Nova York em suas diversas fases de execução: construção e montagem das estruturas dos pórticos; obras de instalação; turmas de manutenção permanente, uniformizados e munidos de rádios-comunicadores; obras de remoção.
As barras verticais e horizontais do pórtico, de secção quadrada de cerca de 13 cm, foram construídas consumindo um total de 105 quilômetros de vinil reciclável de cor-de-açafrão. As barras verticais estão fincadas em 15.000 bases de aço, com 275 kg cada, dispostas sobre as superfícies pavimentadas, o que permitiu a não abertura de furos no terreno. Em grupos de 6 pessoas – que foram remuneradas e receberam uma refeição quente por dia –, 600 trabalhadores usando o uniforme do The Gates foram responsáveis pela instalação de 100 pórticos por grupo. A instalação dos pórticos sobre as fundações, feitas por estas pequenas turmas espalhadas pelo parque, foi uma estratégia para não causar nenhum distúrbio de manutenção e gerenciamento do Central Park e nem prejudicar o uso cotidiano do espaço pelos habitantes da cidade. A fabricação das estruturas dos pórticos e montagem das 7.500 cortinas industrializadas de nylon foi realizada em oficinas locais e fábricas. A instalação das cortinas ocorreu em apenas um dia e a obra é vigiada após o anoitecer por uma equipe exclusiva de segurança, para protegê-la da ação dos vândalos.
Um contrato escrito foi acordado entre a Cidade de Nova York, o Departamento de Parques e Recreações, e os artistas. Entre outros termos e condições, o contrato obrigava os artistas providenciarem as seguintes coisas:
- Seguros contra riscos pessoais e de propriedade, isentando de responsabilidades a Cidade, o Departamento de Parques e Recreação, e a Conservação do Central Park.
- Apólice de Restauração prevendo fundos para completa remoção.
- Cooperação integral com o Departamento de Parques e Recreação, Conservação do Central Park, Departamento de Polícia de Nova York, Comissão de Artes de Nova York, Comissão de Monumentos e órgãos da sociedade civil.
- Desobstrução para as atividades rotineiras no parque e acesso de guardas-florestais, manutenção, limpeza, policiamento e veículos de emergência.
- Os artistas deveriam arcar com todos os custos da supervisão do Parque diretamente relacionados com o projeto.
- Nem vegetação nem formações rochosas poderiam ser afetadas.
- The Gates limparia as pedras, alamedas de árvores e ramagens baixas.Somente veículos de pequeno porte poderiam ser usados e deveriam ficar confinados nos caminhos existentes durante a instalação e desmontagem.
- Os cidadãos de Nova York continuariam usando cotidianamente o Central Park.
- Depois da desmontagem, o local será inspecionado pelo Departamento de Parques e Recreação, o qual ficará responsável pelo cumprimento do acordo.
Para os milhares de pedestres que andam pelo The Gates e para aqueles que ficam apenas debruçados sobre a grama ao longo do percurso, The Gates parece uma longa e estreita cobertura dourada projetando sombras encarnadas. Quando visto a partir dos arranha-céus que se erguem ao redor do Central Park, The Gates se assemelha um rio dourado que aparece e desaparece no meio dos arbustos e das árvores, realçando a forma dos caminhos.
Os 16 dias de duração da obra de arte, totalmente aberta à visitação, será tornará uma lembrança alegre para todos nova-iorquinos, como uma expressão democrática que retoma a intenção de Olmsted quando concebeu um parque “central”. As peças industrializadas esvoaçantes realçam o desenho orgânico do parque, enquanto as traves ortogonais se referenciam ao grid retangular das quadras lindeiras ao parque.
notas
[publicação: fevereiro 2005]
[Sugestão do arquiteto Sérgio Righetto] Nova York, Estados Unidos