Com a construção de um custoso projeto de proteção das marés no entorno de Veneza (3,5 bilhões de euros), os opositores argumentam que as obras de engenharia poderão acelerar o declínio da cidade. Eles estão incentivando uma aproximação mais sutil para salvaguardar a arte e a arquitetura de Veneza.
O Projeto Moses, proposto pelo governo italiano, é baseado em 78 diques móveis instalados dentro d’água – 300 toneladas cada – posicionadas no Mar Adriático. Eles podem ser mecanicamente movimentados em relação à superfície do mar, conforme a força da maré. Mas os críticos afirmam que as barreiras não têm a capacidade de conter o processo de deterioração permanente da cidade – o resultado das forças mais sutis na laguna moribunda necessita de soluções menos glamourosas e mais eficazes.
Veneza afundou dentro da laguna algo em torno de 23 cm nos últimos 100 anos [Cf. “Venice launches anti-flood project”. BBC News World Edition]. O processo lento e constante de afundamento da terra e subida do nível da água deixou partes de paredes de edifícios irremediavelmente dentro d’água. O aumento de salinidade da água dos canais tem abalado as fundações da cidade. A morte da vida vegetal dentro do leito da laguna contamina a água corrente, vazando para dentro da cidade sempre que acontece uma tempestade marítima. Por fim, os ecologistas afirmam: “a proteção anticorrosão dos diques liberarão na laguna mais de 10 toneladas de zinco tóxico por ano” [DRAKE. Cathryn. ”Venice's 'Moses' Dam: Salvation or Curse?” Metropolis Mag].
“Não gosto nem de pensar o que pode acontecer com Veneza em 100 anos. É algo arrasador, e triste. Talvez esteja fechada como um lago. Talvez esteja abaixo d’água e os turistas possam vê-la pelo casco envidraçado dos botes...”, diz Jane da Mosto, moradora de Veneza (1).
notas
1
[Apud ROSENTHAL, Elisabeth. “The debate in Venice: nature or nurture”. In International Herald Tribune, 4 fev. 2005].
Abilio Guerra, São Paulo SP Brasil [Baseado em Riba World Issue 355]