Em 12 de julho de 2010 faleceu aos sessenta e nove anos o Arquiteto e Professor Célio Pimenta, evento que certamente causou não somente surpresa e pesar, mas forte sentimento de perda entre amigos e colegas de profissão. Formado Arquiteto na década de 1960 pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, Mestre e Doutor pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, atuou intensamente como profissional e professor universitário. Foi incansável defensor da profissão e das entidades de classe, e da conduta ética dos arquitetos e de seu reconhecimento social.
O “A” maiúsculo que leva a palavra Arquiteto no parágrafo anterior consiste em inevitável homenagem ao defensor aguerrido da especificidade da profissão, inconformado que era com o aviltamento da prática profissional, da qualidade da arquitetura realizada e descaso e falta de reconhecimento experimentados pelos arquitetos nos dias de hoje. Como forma de resistência, Célio Pimenta participou intensamente de órgãos e instituições representativas dos Arquitetos, destacando-se como Conselheiro da Câmara de Arquitetura do Crea SP, permanecendo até dois anos atrás nessa posição. Exerceu também funções públicas, a exemplo da direção do Conpresp, o que lhe garantiria a possibilidade de dedicar-se ao patrimônio histórico artístico e arquitetônico.
Bem mais importante que a trajetória junto às instituições, cabe lembrar a figura do ardoroso defensor da Arquitetura como expressão de Arte, “A” maiúsculo a que nos sentimos incapazes de omitir, pois suas firmes convicções pleiteavam a afirmação do objeto e das práticas próprias à profissão.
A formação em Arquitetura fora sempre um domínio de grande interesse para o professor dedicado, ao resgatar a importância da expressão artística e do desenho livre e expressivo como exercício obrigatório para os arquitetos, maestria alcançável pela prática constante e livre, que deveria ser apresentada aos estudantes e estimulada pela atividade artística e habilidade de desenho de seus mestres. Célio pensava que todos os que se dedicam a educar arquitetos deveriam desenhar e desenvolver a sensibilidade estética e artística para exercer a posição de professores. Desenhar com o sentimento, a lápis ou instrumento digital, não importando o meio, mas a finalidade de refinar o gosto e o olhar sensível. Assim dedicava-se ao exercício diário do desenho e da arte como dever ético e estético, reafirmando o domínio obrigatório da matéria a ser ensinada aos jovens arquitetos.
Do passado lembraria sempre as lições de desenho arquitetônico e princípios estéticos aprendidas com a saudosa Élide Monzeglio, das orientações de Plinio Croce, o mackenzista que ensinara projeto na FAU USP, um hábil desenhista. Das tardes passadas como ouvinte nas aulas de projeto do severo Arquiteto Franz Heep, no Mackenzie, “do outro lado da rua”... Como devorador desse ambiente cultural que se formara naquele momento de efervescência cultural, em São Paulo.
Um caldo de cultura que se podia notar nas firmes posições assumidas, apresentadas em erudição bem conduzida, mas ampla, leitor que era de historiadores, filósofos, poetas, artistas e literatos, amplitude que se fazia visível no refinamento do discurso.
Como professor dedicou-se com afinco aos estudos estéticos e artísticos, e ao desenvolvimento de pedagogias para desenvolver a aptidão dos jovens para o requinte, desenvolvendo as formas de apreensão sensível de tudo o que é do mundo. Merleau-Ponty e Heiddeger. Interessava-lhe não o estudante quase arquiteto, mas sim o jovem dos primeiros anos da formação em Arquitetura, a quem educaria a partir do ímpeto e da vontade de criação. Fenomenologia....
Sua atividade universitária recente e dedicada à pesquisa aprofundou temas relacionados ao ensino, à formação dos arquitetos em São Paulo e especificamente no Mackenzie, escola em que atuava e pela qual nutria grande afeição. Encantou-se com o estimulante estudo das relações entre a formação dos arquitetos mackenzistas e suas obras arquitetônicas, o que garantiu a produção de denso e respeitável resultado científico e acadêmico, realizado com seriedade e também paixão.
Célio Pimenta nos deixa, embora legue a imagem de integridade e disposição para amar a profissão, de Arquiteto.
sobre a autora
Eunice Helena Sguizzardi Abascal é Professora de Teoria e História da FAU Mackenzie.