Encontrar com a fotografia de João Diniz é navegar com um viajante cuja trajetória de vida tem uma pluralidade de linguagens, como se a cada momento estivesse a nos gritar através da sua arquitetura, sua poesia, seu desenho, sua música: – Estou aqui!!!! Eu existo, sinto e apalpo o mundo a todo momento.
Porque a escolha do Morro do Cantagalo? O nosso fotógrafo, aqui, se apropria da sua arquitetura para mapear esse lugar, cuja localização está entre dois bairros nobres do Rio de Janeiro: Ipanema e Copacabana. Ele, com esse local, quer evidenciar que mesmo com a diferença grotesca de nosso País, lugares com universos tão desiguais podem estar se socializando desde 1930, quando surge essa comunidade.
Mergulhando nessas imagens, vemos a todo momento o traço do desenhista-fotógrafo escorrer sobre a fotografia. É a horizontalidade e a verticalidade nos levando a descobrir signos que interpretam uma sociedade.
Fios multicoloridos e ao mesmo tempo tão harmônicos na sua miscelânea, neste emaranhado com um ar de improviso é como se estivéssemos assistindo a um desfile na Sapucaí: diversas classes sociais, todos com ritmo e música. Duas fotos na horizontal e, logo em seguida, outra na vertical – parece que João Diniz quer nos mostrar que podemos fazer diferente, que existe um desafio e um céu azul para idéia do infinito, do novo, do que está por vir.
A bola no pé, a pipa solta, símbolos de sonho e de liberdade, e, ao final da viagem, a imagem da fé do povo brasileiro com Nossa Senhora Aparecida dizendo-nos que a fé salva. E nós, com um olhar mais cético do que o nosso fotógrafo-professor, nos perguntamos: – Sim, a fé pode até nos salvar, mas o que nos liberta, nos dá esperança, não é a educação?
João Diniz é um autêntico mapeador do mundo. Ele tem um olhar que se interessa por tudo que não lhe pertence, mas que transforma em registros pessoais. A imagem das pinturas em grafite, o enquadramento com a cidade ao fundo – esta forma de arte tão marginalizada e que ao mesmo tempo dialoga com a nossa sociedade – faz sussurrar aos nossos ouvidos Ferreira Gullar: “ A arte existe porque a vida não basta”.
nota
NE
Texto sobre a Exposição “Morro do Cantagalo”, com fotografias de João Diniz, Barracão Butiquim, Belo Horizonte, de 22 de novembro a 31 de dezembro de 2011.
sobre a autora
Carminha Macedo é galerista.