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drops ISSN 2175-6716

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Galerista Carminha Macedo fala sobre a exposição de fotografias de João Diniz , o "mapeador do mundo", que retrata a favela do Morro do Cantagalo, no Rio de Janeiro

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MACEDO, Carminha. João, o mapeador. Exposição de fotos de João Diniz sobre o Morro do Cantagalo. Drops, São Paulo, ano 12, n. 052.04, Vitruvius, jan. 2012 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/12.052/4174>.



Encontrar com a fotografia de João Diniz é navegar com um viajante cuja trajetória de vida tem uma pluralidade de linguagens, como se a cada momento estivesse a nos gritar através da sua arquitetura, sua poesia, seu desenho, sua música: – Estou aqui!!!! Eu existo, sinto e apalpo o mundo a todo momento.

Porque a escolha do Morro do Cantagalo? O nosso fotógrafo, aqui, se apropria da sua arquitetura para mapear esse lugar, cuja localização está entre dois bairros nobres do Rio de Janeiro: Ipanema e Copacabana. Ele, com esse local, quer evidenciar que mesmo com a diferença grotesca de nosso País, lugares com universos tão desiguais podem estar se socializando desde 1930, quando surge essa comunidade.

Mergulhando nessas imagens, vemos a todo momento o traço do desenhista-fotógrafo escorrer sobre a fotografia. É a horizontalidade e a verticalidade nos levando a descobrir signos que interpretam uma sociedade.

Fios multicoloridos e ao mesmo tempo tão harmônicos na sua miscelânea, neste emaranhado com um ar de improviso é como se estivéssemos assistindo a um desfile na Sapucaí: diversas classes sociais, todos com ritmo e música. Duas fotos na horizontal e, logo em seguida, outra na vertical – parece que João Diniz quer nos mostrar que podemos fazer diferente, que existe um desafio e um céu azul para idéia do infinito, do novo, do que está por vir.

A bola no pé, a pipa solta, símbolos de sonho e de liberdade, e, ao final da viagem, a imagem da fé do povo brasileiro com Nossa Senhora Aparecida dizendo-nos que a fé salva. E nós, com um olhar mais cético do que o nosso fotógrafo-professor, nos perguntamos: – Sim, a fé pode até nos salvar, mas o que nos liberta, nos dá esperança, não é a educação?

João Diniz é um autêntico mapeador do mundo. Ele tem um olhar que se interessa por tudo que não lhe pertence, mas que transforma em registros pessoais. A imagem das pinturas em grafite, o enquadramento com a cidade ao fundo – esta forma de arte tão marginalizada e que ao mesmo tempo dialoga com a nossa sociedade – faz sussurrar aos nossos ouvidos Ferreira Gullar: “ A arte existe porque a vida não basta”.

nota

NE
Texto sobre a Exposição “Morro do Cantagalo”, com fotografias de João Diniz, Barracão Butiquim, Belo Horizonte, de 22 de novembro a 31 de dezembro de 2011.

sobre a autora

Carminha Macedo é galerista.

 

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