A fluidez e a impermanência da água em suas formas e reflexos, suas imagens e sua materialidade, significam o meio e o percurso deste trabalho. Seu movimento contínuo – contornos, rugas, ondulações – constitui, para mim, uma metáfora do tempo. Ao gravar, singrando a goiva na madeira, pensava também nas proas dos barcos em forma de v, abrindo caminho nas águas. Veios da madeira, veios d’água. Superfícies que se comunicam.
A chuva no mar. Perdemos a nitidez das coisas. A linha do horizonte esvai-se, fundindo mar e céu. Distâncias.
E mesmo quando a água não se faz presente nas imagens de modo concreto, ela norteia os possíveis significados que delas possam emergir – múltiplas e diferentes perspectivas, aquilo que nos escapa.
Talvez, tudo tentativa vã; posto que contraditória – afinal, nascida do desejo de apreender seu caráter transitório.
nota
NE
Texto de apresentação de exposição de gravuras da autora. Galeria Gravura Brasileira, São Paulo, de 6 de junho a 13 de julho de 2012
sobre a autora
Ana Calzavara é graduada em artes plásticas pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), pós-graduada pela Byam Shaw School of Art, Londres e mestre em Poéticas Visuais pela ECA/USP. Foi assistente de gravura dos professores Marco Buti e Lygia Eluf (Unicamp). Desenvolve seu trabalho em fotografia, gravura e pintura, expondo no Brasil e no exterior. Doutora pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, com o projeto ‘Entremeios’.