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drops ISSN 2175-6716

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Rosa Artigas escreve sobre exposição em Curitiba que apresenta desenhos de Vilanova Artigas, a serem doados ao Centro Georges Pompidou, em Paris.

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ARTIGAS, Rosa. Caligrafias - desenhos de Vilanova Artigas. Drops, São Paulo, ano 13, n. 067.05, Vitruvius, abr. 2013 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/13.067/4717>.


Caligrafias - desenhos de Vilanova Artigas [divulgação]


“Desenhos são para gente folhear, são para serem lidos que nem poesias, são haicais, são quadrinhas e sonetos”. (Mário de Andrade )

No pequeno texto “Do Desenho”, Mário de Andrade afirmava que “(...) o desenho, fala. Chega mesmo a ser muito mais uma espécie de escritura, uma caligrafia, que uma arte plástica”. Está ligado à prosa e à poesia e também às artes plásticas; situa-se, assim, entre espaço e tempo. É evidente que o Desenho a que se refere o poeta, é bom esclarecer já de início, não é o mesmo desenho-desígnio das teses elaboradas por Vilanova Artigas e por Flavio Motta nos anos sessenta, sobre a etimologia da palavra que, em ambos os casos, eram fundamentadas no significado de desenho-design – projeto, linguagem da arquitetura.

Os desenhos de Vilanova Artigas, que se seguem, não estão impregnados de desejo, nem são instrumento de emancipação porque trata-se de um  conjunto de redesenhos, feitos em 1980,  para figurarem numa pequena exposição que viajava com ele pelas escolas de arquitetura do Brasil e agora - quem sabe? – viajará para Paris para compor, junto com a obra de outros arquitetos brasileiros, o acervo arquitetônico do Centro George Pompidou.

E porque feitos depois da obra construída, eles são, então, narrativa a respeito dos projetos, da arquitetura e da cultura em tempo e espaços dados. São história e induzem ao debate sobre a validade e necessidade de redesenhá-la permanentemente.

O primeiro passo para elaboração desta crônica foi a escolha dos ideogramas – pondo a metáfora, mais uma vez, na conta de Mário de Andrade – que o artista apresentou como síntese da obra, cronologicamente organizados. De um universo de 400 a 500 obras construídas, Artigas pinçou cerca de trinta, apresentadas por meio de alguns desenhos feitos a mão livre. Essa escolha também denota a finalidade didática da exposição e dos desenhos: é um dizer sobre a obra já pronta e a intenção é explicá-la pelo redesenho, que é resumo, síntese, escritura sobre os desejos e desígnios contidos na obra arquitetônica construída. Quase um discurso sobre o método: a constante e profunda busca de expressão própria de um artista, que quis elaborar sua obra a partir das “raízes brasileiras no universo”, como Artigas gostava de dizer, lembrando o poeta Moacyr Felix.

No segundo passo,cabe a nós seguirmos cada escritura, cada desenho para descobrirmos as influências, as contribuições da arquitetura brasileira, a casa paranaense, a morada paulista, as escolas, clubes, sindicatos, a técnica, as cidades, o povo brasileiro, a história e a arte.

Assim, aprenderemos que a Casa Baeta (1956) tem as proporções da casa de madeira paranaense e, por isso, o arquiteto dispôs as tábuas das fôrmas da empena na vertical, como se fosse a concepção estrutural da casa da sua infância. E também que, na mesma casa, a divisão espacial foi elaborada como um quadro de Piet Mondrian. Os recortes do lambrequim da Casa Elza Berquó (1967) pertencem à mesma tradição da morada comum a várias regiões brasileiras, mas aqui, nesta outra casa,o  tratamento do  espaço é feito sem nenhuma intenção de racionalidade estrutural, como a casa do povo. Olhem as plantas, vejam os cortes e elevações.

E há também as escolas (1959 a 1962) que constituíram proposta de utilização do espaço diferente do que era a tradição da construção escolar brasileira. Artigas propôs os pátios cobertos e os jardins abertos para a vida na cidade, iluminação zenital, tudo um pouco com cara de praça pública, lugar de encontro. Uma concepção espacial que encontra o clímax no edifício da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, que, embora seja sua obra maior, não ganha um destaque especial, com desenhos mais elaborados. É como se já se soubesse tudo sobre ele e o narrador raconta, com a mesma caligrafia, essa e outras histórias. Nos desenhos da Estação de Jaú, por exemplo, a sequência dos pilares em flor é tão sutil, que quase nos distraímos sobre a importância da configuração urbana do edifício, que também ganha destaque no Edifício Louveira e na Rodoviária de Londrina.

E ainda há a Garagem de Barcos, os Vestiários do São Paulo Futebol Clube, o Clube de Tênis Anhembi, que pertencem à família resultante da pesquisa sobre as técnicas construtivas, arte que surge nas formas quase insólitas dos desenhos dos pilares com seus apoios pontuais, às vezes somente sugeridos na escala dessa escritura.

E os desenhos se sucedem, a exigir um olhar agudo e atento: plantas, cortes, elevações – caligrafias que escrevem histórias, novas e velhas, sobre palavras e coisas já ditas e feitas, reorganizadas como memórias, pedaços preciosos e delicados da obra de um grande arquiteto. 

nota

NE1
Texto elaborados para a exposição "Caligrafias - desenhos de Vilanova Artigas"

NE2
Saiba mais informações sobre a exposição na agenda cultural do Vitruvius. 

sobre a autora

Rosa Camargo Artigas é historiadora, pesquisadora, professora da Escola da Cidade, diretora da Oficina da Palavra-Casa Mário de Andrade e coordenadora dos livros “Paulo Mendes da Rocha”, “João Walter Toscano” e “Vilanova Artigas”. Co-curadora da 7ª Mostra de Arquitetura da Bienal de Veneza e pesquisadora da Exposição “Vilanova Artigas” no Instituto Tomie Ohtake

 

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