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drops ISSN 2175-6716

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A obra do empresário, construtor e arquiteto Artacho Jurado ainda não é totalmente conhecida. Duas novas descobertas de sua produção do início dos anos 1950 são apresentadas através de anúncios de jornais da época.

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JAYO, Martin. Artacho Jurado desconhecido. Dois “novos” empreendimentos do arquiteto mais controverso de São Paulo. Drops, São Paulo, ano 14, n. 081.01, Vitruvius, jun. 2014 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/14.081/5196>.


O empresário, construtor e arquiteto autodidata João Artacho Jurado (1907-1983), autor de alguns dos edifícios mais marcantes nas paisagens das cidades de São Paulo e Santos, é um personagem crescentemente valorizado, seja por sua produção arquitetônica, seja pela sua visão de marketing e pelo caráter inovador de suas práticas no mercado imobiliário. Apesar disso, sua obra ainda não é totalmente conhecida: alguns de seus empreendimentos nunca foram estudados, outros sequer se encontram mapeados.

Em 2012, um artigo de minha autoria, publicado na revista Arquitextos do portal Vitruvius (1), chamou a atenção para a existência de pelo menos dois empreendimentos de Artacho Jurado merecedores de atenção, sobre os quais não existia até então nenhum registro conhecido: um prédio por ele construído em Franca SP e um conjunto de casas comercializadas no bairro paulistano do Tatuapé.

Essa lista acaba de crescer, com duas novas descobertas: dois loteamentos, denominados “Parque América” e “Jardim Jaraguá”, ao que parece incorporados em 1951 e 1952. Por enquanto, toda a informação disponível sobre eles é a que está nos anúncios publicitários aqui reproduzidos, encontrados nos acervos históricos dos jornais O Estado de S.Paulo e Folha da Manhã. Fica aqui o registro destes dois pequenos achados que, se melhor investigados, certamente poderão expandir o conhecimento disponível sobre a atuação de João Artacho Jurado no mercado imobiliário paulistano dos anos 1950.

Parque América

O Parque América foi anunciado em 1951 como o “local ideal para você possuir o seu terreno, com ônibus à porta, ruas asfaltadas, esgoto e demais melhoramentos públicos”. Pela localização indicada no anúncio, deduz-se que ele era adjacente à Cidade Monções, esta sim um empreendimento conhecido de Artacho (2). Mas apesar de vizinhos, a Cidade Monções e o Parque América eram bem diferentes entre si: o primeiro foi um loteamento de terrenos com casas, ao passo que no segundo o que se vendia eram os lotes, desprovidos de qualquer construção.

Assim como em outros projetos de Artacho Jurado, o marketing do Parque América parece ter sido concebido com bastante inventividade. Numa inovação que lembra a da Cidade Monções, em que as casas eram entregues com um carro na garagem, os terrenos do Parque América vinham acompanhados de um “certificado de bem de família”, que garantiria a quitação da dívida em caso de morte do comprador. O anúncio n’O Estado de S.Paulo, de 18 de fevereiro de 1951, explica a vantagem:

“O seu interesse em adquirir um imóvel é, naturalmente, engrandecer o patrimônio da família. Entretanto, você precisa pensar que todos estamos sujeitos às surpresas do destino, e neste caso o seu gesto de agora poderá vir a ser um encargo e não um benefício. Isto não acontecerá com os terrenos do Parque América porque (...) são entregues com um certificado que constitui um verdadeiro ‘bem de família’, pois o saldará entregando-o livre de quaisquer ônus caso a família sofra a perda de seu chefe” (3).

Jardim Jaraguá

O loteamento Jardim Jaraguá, por sua vez (não confundi-lo com o bairro homônimo da zona norte) ficava no extremo leste de São Paulo, entre os bairros de São Miguel e Itaim Paulista, em “um lugar de grande e rápida valorização” segundo o jornal Folha da Manhã, de 23 de março de 1952. Trata-se de uma região em que, até o momento, não havia qualquer registro conhecido da atuação da empresa de Artacho.

Seus “lotes secos, planos e arruados, com linda vista panorâmica e servidos por várias linhas de ônibus e trens de subúrbio” eram vendidos “sem entrada e sem juros”. A comercialização era feita em um escritório avançado da Monções, instalado na Penha, a partir de onde era fornecida “condução gratuita, aos domingos e feriados, para ver os lotes sem compromisso”. Pelas informações disponíveis nos anúncios, não é possível, infelizmente, deduzir a localização exata do loteamento.

sobre o autor

Martin Jayo é professor da EACH-USP e editor do blog “Quando a Cidade era Mais Gentil”.

notas

1
JAYO, Martin. A alma do negócio: desvendando João Artacho Jurado a partir de sua publicidade. Arquitextos, São Paulo, ano 12, n. 143.02, Vitruvius, abr. 2012 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/12.143/4318>.

2
O loteamento da Cidade Monções corresponde, aproximadamente, ao quadrilátero delimitado pelas ruas Michigan, Guaraiuva, Padre Antônio José dos Santos e Califórnia. A localização do Parque América, fornecida pelo anúncio reproduzido do jornal O Estado de S.Paulo, sugere que ele se situava a cerca de 100 metros de distância desse quadrilátero.

3
Anúncio do loteamento Parque América em O Estado de S.Paulo, 18 fev. 1951.

Anúncio do loteamento Parque América, O Estado de S.Paulo, 18 fev. 1951

Anúncios do loteamento Jardim Jaraguá: Folha da Manhã, 23 mar. 1952; Folha da Manhã 13 abr. 1952; Folha da Manhã, 20 abril 1952

Anúncios do loteamento Jardim Jaraguá: Folha da Manhã, 29 junho 1952; Folha da Manhã, 06 jul. 1952

 

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