A infraestrutura verde deve unir os espaços públicos verdes urbanos de forma a integrá-los. Uma primeira análise da malha urbana permitiu verificar que os espaços verdes públicos da cidade de Passo Fundo estão isolados entre si (Fig. 1) como na maioria das cidades brasileiras; situação diferente da cidade de San José de Costa Rica onde já foi implantada com êxito a infraestrutura verde (Fig. 2).
Sua falta de integração limita os benefícios que prestam à ambiência urbana e à população do entorno imediato. Ao se transformarem em um sistema de espaços interligados, podem ser abordados sobre o aspecto da integração de áreas verde para o desenvolvimento de atividades humanas voltadas ao lazer, recreação e práticas esportivas, privilegiando o caráter sócio cultural desses locais.
Análise da possibilidade de implantar a infraestrutura verde em Passo Fundo, Rio Grande do Sul
Critérios usados na análise
Existem diferentes enfoques para analisar o ambiente construído, sendo o morfológico um deles: é esboçado como diferentes leituras da cidade e de seus componentes: a leitura geométrica, a perceptual e a vivencial.
O estudo de espaço geométrico permite visualizar os princípios ordenadores da forma urbana e sua manifestação na estrutura urbana, os diferentes subsistemas atuantes e suas relações: subsistema edificativo, subsistema viário e subsistema de espaços verdes públicos aplicando três critérios: topológico (tipologias) geométrico e dimensional. Uma leitura da paisagem urbana (entorno construído) e seu acontecer, cujo conhecimento e realidade variam segundo o vocabulário e a sintaxe dos componentes de sua linguagem: os fatos arquitetônicos, a vegetação, as sinalizações, a gráfica publicitária e o impacto que em todo âmbito urbano provoca o usuário com a expressão de suas condutas. É o critério adotado neste caso.
Um olhar sobre o conjunto
Verifica-se a transformação da cidade nas últimas décadas que fez que as estruturas existentes da área central e das áreas intermediárias se modificassem, sem que a área central sofresse um processo de degradação. A necessidade de complementar a estruturação radial com a integração e promoção do desenvolvimento das áreas periféricas, assim como a possibilidade de ligar diferentes centros de interesse urbano como equipamentos, áreas de lazer, parques e praças propõem a ideia de um sistema complementar da atual rede principal viária urbana que permita a estruturação dos fragmentos urbanos, hoje, sem conexões.
A infraestrutura verde pode ser considerada como uma das respostas adequadas para essa necessária estruturação dos fragmentos urbanos conectando áreas de interesse através de corredores tratados ambiental e culturalmente, com o mínimo de investimento e o máximo de apoio da população usuária; estruturação que propõe a inserção de equipamentos, complementação da infraestrutura existente, o melhoramento da rede viária e das calçadas e a valoração ambiental e do patrimônio arquitetônico e urbano. Estes últimos são elementos referenciais que outorgam identidade e iniciam um processo de integração ao sistema urbano promovendo o desenvolvimento das áreas de influência.
A rua trecho 1
O primeiro trecho apresenta edificações sem recuo de jardim, edifícios com gabarito variando de um a vinte pavimentos, conforme a quadra. Arborização na via é escassa, com diversas espécies e porte, sendo, a maioria, de pequeno porte e copa rala: insuficientes para promover sombreamento e conformar um microclima mais ameno. Somente nas praças se encontra massa vegetal significativa (Fig. 3).
O trecho se caracteriza por uma conformação geométrica heterogênea, com grandes diferenças no perfil recortado e com marcação importante quando existem edifícios altos. As tipologias arquitetônicas apresentam soluções próprias, com linguagens diferenciadas, que somente fazem referência à atividade e à possibilidade de exaltar sua presença no entorno. As edificações, em sua grande maioria, não têm recuo do passeio público. A arborização é variada e mal distribuída, sendo que, na maioria das quadras analisadas, não existe vegetação alguma. As praças são os espaços verdes do entorno em estudo.
As praças
As praças escolhidas para analisar sua possível inclusão na proposta de infraestrutura verde para Passo Fundo são a Praça Tamandaré e a Praça Antônio Xavier. A Figura 5 mostra suas localizações na parte da malha urbana em estudo. A abordagem e a análise são dos aspectos geométricos e vivenciais.
Ambas as praças estão localizadas na região central de Passo Fundo. Sua forma quadrada é originária da malha xadrez presente na estruturação urbana de todo o entorno imediato, o que facilita a sua integração na possível rede de infraestrutura verde (Fig. 6-8, Fig. 9-11). São locais de extrema importância para a cidade, aconchegantes pela presença da vegetação.
Observando o uso desses espaços, verifica-se que a praça contínua a ser cena metáfora da vida cidadã. Mas são outros os protagonistas: o bate papo acontece entre os taxistas que esperam seus clientes à sombra das árvores, os anciãos e seus acompanhantes, os usuários do transporte público se agrupam nos pontos de ônibus, jovens que praticam esportes. Possuem um potencial enorme para se transformar em locais mais atrativos que atendam as possibilidades de formar parte da proposta de infraestrutura verde da cidade. São espaços de qualidade, vitais, com manutenção correta e uso intenso. Espaços que se conformam por varias aberturas no tecido urbano que direcionam naturalmente os mais diversos fluxos em busca dos, também, mais diversos usos, que imprimem a esses espaços o caráter de lugar e ponto central de manifestação da vida pública.
Conclusão
O sucesso da implantação de infraestrutura verde nas cidades depende tanto do planejamento que envolva ações a médio e longo prazo quanto de ações imediatas, que visem à mitigação dos efeitos negativos já configurados. Cabe salientar, entretanto, que é necessário fazer o advocacy por cidades saudáveis junto com os governos locais, demonstrando a necessidade e importância de se colocar a infraestrutura verde como elemento fundamental para um planejamento e desenvolvimento urbano mais sustentável.
A conjugação das estratégias sugeridas para os trechos pesquisados permitirá a configuração de um corredor verde conectando a áreas verdes livres, configurando um “embrião” de infraestrutura verde, trazendo melhor impacto visual, climático e de qualidade de vida, inclusive em longo prazo, contribuindo para a sustentabilidade urbana de Passo Fundo.
referências bibliográficas
MASCARÓ, Juan José. et al. Infraestrutura verde: base de desenvolvimento sustentável para as cidades de médio porte. Relatório Final de Pesquisa 2013. Passo Fundo, 2013.
OLIVEIRA, L.; MASCARÓ, J. J. Análise da qualidade de vida sob a ótica dos espaços públicos de lazer, Ambiente Construído, Porto Alegre, v.7, n.2, p. 21-31, abril / junho 2007.
The Conservation Fund’s strategic conservation services. Disponível em: <http://greeninfrastructure.net/>. Acesso em: 14 nov. 2013.
sobre os autores
Juan José Mascaró é professor titular do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Passo Fundo. Pesquisador FAPERGS.
Daniella do Amaral Mello Bonatto é professora adjunta do departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Espírito Santo.
Gabriela Liotto Conci é bolsista PIVIC – UPF, acadêmica do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Passo Fundo.