Your browser is out-of-date.

In order to have a more interesting navigation, we suggest upgrading your browser, clicking in one of the following links.
All browsers are free and easy to install.

 
  • in vitruvius
    • in magazines
    • in journal
  • \/
  •  

research

magazines

drops ISSN 2175-6716

abstracts

português
Artigo relaciona nossos espaços de moradia mais recentes e a publicidade em torno deles.

english
This article discuss the link between advertising campaigns and our most recent buildings for habitation.

español
El artículo hace algunas reflexiones sobre nuestros actúales espacios de vivienda y sus campañas de publicidad.

how to quote

DE OLIVEIRA GUIMARÃES, Cristiana Maria. Espaços planejados. Sonhos de consumo. Drops, São Paulo, ano 14, n. 081.04, Vitruvius, jun. 2014 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/14.081/5200>.



Interessa-me, há algum tempo, a relação entre nossa concepção de moradia e os valores veiculados nos folhetos da publicidade imobiliária. Realizo, então, uma pesquisa pessoal, livres dos rigores científicos e acadêmicos, mas suficiente para começar algumas reflexões, compartilhadas aqui.

Logo, à primeira vista, chama atenção como são parecidos, tanto os projetos, como o discurso, independente dos locais e regiões aos quais se destinam.Tanto faz se estão em São Paulo, Parauapebas, cidade-fronteira do sudeste paraense, Salvador ou Belo Horizonte.  As pequenas diferenças dizem respeito ao público a que se destina: possíveis compradores de super luxo, luxo ou de um acabamento simples. Mesmo essas variações são muito mais de corpo que de alma, afinal, os princípios básicos são praticamente os mesmos em todos os casos.

Será a explosão/implosão do – já antigo – Estilo Internacional? Implodido, oferece o discurso do moderno e contemporâneo como máscara dos conceitos-chave que regem grande parte de nossa produção imobiliária – claro que há louváveis exceções – construímos por menos e vendemos por mais. A imagem substitui o fundamento; acessórios o essencial. Sem perceber trocamos o pior pelo melhor: cômodos espaçosos por kidsrooms ou varanda gourmet; janelas de bom tamanho e luz natural, por recortes mínimos na fachada revestida com o último porcelanato; perdemos em pé-direito, mas temos o forro de gesso. Substituímos o contato com a rua, por vários andares de garagem. Tiramos a ventilação de todos os banheiros, mas ganhamos preciosos halls de entrada.

De todos os itens aclamados como indispensáveis aos potenciais compradores, chama atenção a menção do planejado em quase todos empreendimentos de maior porte, condomínios fechados, conjunto de torres, vilas ou loteamentos. Adjacentes, colocadas como consequências do planejamento, estão as outras benfeitorias, arborização, iluminação pública eficiente, espaços de lazer e convívio social, tranquilidade e, outro ponto, muito importante, segurança.

Evidencia-se, ao menos para mim, o valor dado ao planejado como oposto ao desorganizado, caótico e, mais importante, deficiente. Isso acontece, penso, pela associação feita em anos de críticas mal tecidas e notícias mal construídas, de que nossos problemas urbanos são fruto da falta – pura e simples – de planejamento. Trata-se, como toda boa (?) publicidade da apropriação de uma ideia chavão, já incrustada no imaginário popular, sem sua discussão ou explicação de que não é bem assim.

É mais fácil atribuir nossas grandes falhas urbanas à falta de planejamento, fato rigorosamente atrelado aos governantes, que responsabilizar a herança e persistência, em certa medida, de nossa história oligárquica e escravocrata, na qual a terra sempre foi sinônimo de poder e riqueza e, exatamente por isso, nunca foi redistribuída de modo justo.  A assunção da segunda explicação, talvez mais verdadeira, coloca a sociedade como um todo nessa questão.

Em outras palavras, é a sociedade junto dos governantes que, em última instância, são parte dessa: quem faz nossas cidades, escolhe os imóveis que compra, onde e como morar. Essa frase simples requer cuidado em sua interpretação. Se ela é válida para a sociedade como um todo, não se sustenta quando partimos para o nível dos indivíduos e seus grupos. As oportunidades pessoais de intervenção no processo de construção de nossas cidades e espaços acompanham, ou até recrudescem, toda a realidade de desigualdades que vivenciamos. A ilustração da pirâmide social caberia aqui, também como ilustração, mas agora das capacidades decisórias sobre as transformações do espaço urbano. Quanto mais próximo à base, maior número de pessoas e menor essa possibilidade. Todo o processo, aliás, é mercantilizado e valorado; inacessível à grandíssima maioria, fica dividido entre elites, grandes empresas e governos; capital e política.

Nossos espaços são o espelho de nossos desejos, aspirações e modo de vida. De algum modo, estamos confirmando o modelo do salve-se quem puder, há muito vigente no Brasil. Diante de problemas acreditados insolúveis, quem tem possibilidade econômica e cultural, numa certa renúncia do espaço público, busca em espaços privados as soluções desejadas para o primeiro.

Apesar de compreensível, o efeito a longo prazo tem sido perverso. O mercado atento às demandas genuínas em relação à melhoria de nossos espaços públicos, as devolve em forma de produtos. Traz a vida social para dentro dos muros, entre piscinas e quadras de esporte, livre de qualquer contratempo. Atrás dos mesmos muros, cercas elétricas e portarias vigiadas, instala-se a ideia da segurança e tranquilidade raras. O outro lado da moeda, forjado pelo primeiro é evidente. O discurso apresentado diz que extramuros, a cidade acontece cheia de deficiências, caoticamente, sem planejamento. Plano, planejamento, espaços planejados são transformados em itens de consumo, disponíveis apenas para aqueles capazes de arcar com seu custo.

Isso não é tudo. Infelizmente, pouco a pouco, desistimos das melhorias das cidades. Almejamos, agora, o alcance pessoal de adequadas condições para que o consumo do planejado seja possível.

sobre a autora

Cristiana Guimarães é arquiteta e urbanista, com Mestrado em Arquitetura e Doutorado em Ciências Humanas: sociologia e política, mais especificamente em planejamento urbano; todos os títulos concedidos pela UFMG. Atualmente, dirige o Ateliê Cristiana Guimarães, espaço de produção arquitetônica e cultural. Ver cristiana@ateliecristianaguimaraes.com.br.

Anúncio publicitário de condomínio em Interlagos, São Paulo
Imagem divulgação [Terrara vendas]

 

comments

081.04 mercado imobiliário
abstracts
how to quote

languages

original: português

share

081

081.01 mercado imobiliário

Artacho Jurado desconhecido

Dois “novos” empreendimentos do arquiteto mais controverso de São Paulo

Martin Jayo

081.02 modos de expor

Uma Bienal como intervenção socioespacial

Breves comentários sobre a X Bienal de Arquitetura de São Paulo

Paolo Colosso

081.03 ambiente

Infraestrutura verde para uma cidade de porte médio

O caso de Passo Fundo

Juan José Mascaró, Daniella do Amaral Mello Bonatto and Gabriela Liotto Conci

081.05 cultura arquitetônica

Beleza é fundamental

Luiz Fernando Janot

newspaper


© 2000–2024 Vitruvius
All rights reserved

The sources are always responsible for the accuracy of the information provided