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drops ISSN 2175-6716

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O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, concedeu no dia de aniversário da cidade a medalha 25 de Janeiro para três arquitetos: Lina Bo Bardi e Vilanova Artigas, em memória, e Paulo Mendes da Rocha. O texto foi proferido na solenidade por Carlos Martins.

how to quote

MARTINS, Carlos A. Ferreira. Medalha 25 de Janeiro. Homenagem a Lina Bo Bardi, Vilanova Artigas e Paulo Mendes da Rocha. Drops, São Paulo, ano 15, n. 088.07, Vitruvius, jan. 2015 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/15.088/5416>.



Excelentíssimo Senhor Prefeito Municipal de São Paulo, Prof. Fernando Haddad, em cuja pessoa saúdo a todas as autoridades componentes da mesa de honra bem como aquelas já citadas pelo protocolo;

Excelentíssimos representantes dos homenageados em memória;

Arquiteto e professor Paulo Mendes da Rocha;

Senhoras e senhores,

O convite para proferir estas palavras de apresentação dos homenageados pela outorga da Medalha 25 de Janeiro em sua edição de 2015, constitui uma inequívoca honra mas também uma dificuldade.

Para um professor de historia da arquitetura brasileira a tarefa de destacar em poucos minutos as principais contribuições à cidade de São Paulo, e à cultura urbana, de três de nossos maiores arquitetos exige um afastamento dos hábitos acadêmicos.

Exige sobretudo refletir sobre a responsabilidade com aquele que é talvez o maior e mais atual desafio, do poder público e do conjunto da sociedade paulistana e brasileira: a construção de cidades com maior qualidade de vida e a implantação de políticas e instrumentos de superação do caráter segregador e violentamente desigual da maior cidade do nosso país.

Exige também lembrar a distinção fundamental do próprio sentido das homenagens em memória a Lina Bardi e a Vilanova Artigas e daquela neste momento prestada a Paulo Mendes da Rocha.

Os primeiros nos legaram uma obra concluída, cuja importância e sentido são permanentemente ressignificados pelo processo de reavaliação da crítica, da história e talvez mais importante, pela população no uso e na fruição cotidiana de suas obras. Foi que já assistimos ao longo de 2014 com a grande repercussão, nacional e internacional, do Centenário de Lina Bardi e o que certamente assistiremos ao longo deste ano em que celebraremos o Centenário de Vilanova Artigas.

A obra de Paulo Mendes da Rocha, apesar de seu significativo reconhecimento nacional e internacional, opera em sentido distinto, senão oposto. É o seu trabalho, em movimento, que tensiona e desafia os nossos esquemas de interpretação e atribuição de valor, que nos obriga a repensar de maneira incessante as relações entre a arquitetura e a cultura urbana, entre a técnica e a paisagem, entre a cidade e o território.

Feita a ressalva, é inescapável destacar uma primeira e fundamental característica que os une: o sentido urbano de sua arquitetura. Suas obras, independentemente da escala ou do programa rejeitam a possibilidade de considerar os edifícios como objetos isolados, dotados de valor em si. Seus edifícios constroem cidades, reais ou desejadas, propõem a atualização de memórias, o resgate de valores e a invenção de novas formas de sociabilidade urbana.

Os une também, na medida em que perpassa suas obras, a dimensão política expressa na convicção de que um projeto de arquitetura é também, contém em si, contribui para a construção um projeto de cidade, um projeto de país, por que não dizer, um projeto de humanidade.

Seu compromisso com São Paulo, cidade de adoção dos três, é o compromisso com a construção de um Brasil, social, técnica e culturalmente, justo, livre e soberano. Compromisso que custou a Vilanova Artigas e a Paulo Mendes da Rocha a perseguição da ditadura militar e o afastamento compulsório de sua atividade mais cara: a de professores, de formadores de gerações de arquitetos e cidadãos, a que só puderam retornar, formalmente, com a anistia e o processo de redemocratização do país, mas que nunca abandonaram.

Lina Bo Bardi

Lina Bo Bardi, italiana de nascimento, brasileira por decisão, legou a São Paulo dois de seus mais significativos marcos urbanos. Mais do que cartões postais, , o MASP e o SESC Pompéia se converteram em polos condensadores de relações sociais, espaços em que a população se reconhece e afirma não apenas como usuária mas como artífice de sua relação com a cidade, com a cultura, com o exercício cotidiano da cidadania.

Formalmente vinculadas a instituições privadas esses equipamentos urbanos são assumidos pela população como bens e espaços públicos. Se Lina sintetizava suas expectativas em relação ao Sesc Pompéia na expressão Cidadela da Liberdade, também o Masp e em particular sua esplanada foram assumidos como espaço privilegiado das manifestações políticas e culturais, das demandas sociais.

Difícil imaginar que a própria Lina pudesse esperar homenagem maior que a mobilização para o abraço e a defesa do vão do Masp como esplanada livre e aberta a todos.

A decisão recente da nova direção do Museu de restabelecer o projeto museográfico original constitui também uma homenagem a Lina mas sobretudo o reconhecimento de que uma estratégia expositiva original foi assumida como valor e reivindicada como patrimônio cultural paulistano.

Vilanova Artigas

Engenheiro-arquiteto formado pela Escola Politécnica e liderança inconteste da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, João Batista Vilanova Artigas não nos legou cartões postais no sentido convencional.

Mas inspirou e dirigiu em 1962 uma reforma de ensino que estabeleceu um padrão de referencia vigente por muitos anos para a formação dos arquitetos em todo o país. Sua obra mais conhecida e celebrada, o edifício da FAU na Cidade Universitária, integra o seleto grupo de casos em que o edifício que abriga o ensino de arquitetura é a obra paradigmática de uma “escola de arquitetura”.

O sentido urbano de suas obras se expressa desde cedo mesmo no caso de obras privadas como o Edifício Louveira. E se reafirma de maneira sistemática no enorme número de equipamentos urbanos, passarelas, escolas, clubes, sedes sindicais.

No conjunto habitacional Zezinho Magalhães Prado, em Guarulhos, dirige uma equipe responsável pela elaboração de uma das mais arrojadas propostas de racionalização produtiva para o programa da habitação social de promoção estatal desde os grandes conjuntos dos anos 50.

As múltiplas dimensões de sua obra serão objeto de análise e reavaliação ao longo deste ano, mas será inescapável o reconhecimento do compromisso com a educação e com a afirmação do caráter político da atuação do arquiteto como o cerne de seu valioso legado.

Paulo Mendes da Rocha

Não cabe obviamente falar de um legado de Paulo Mendes da Rocha, mas da extraordinária coerência e atualidade de sua obra, instigante e desafiadora.

Desde o Ginásio do Clube Atlético Paulistano e de suas obras dos anos 60, foi reconhecido como um dos líderes, juntamente com Artigas, da renovação da arquitetura brasileira, marcada pelo ascetismo construtivo do concreto aparente e pelo rigor na organização espacial que caracterizou esse período.

O Pavilhão do Brasil na Feira Mundial de Osaka, de 1970, é um marco obrigatório em qualquer recensão da produção moderna brasileira.

Na segunda metade dos anos 80, a sede da Loja Forma e o MuBE – Museu Brasileiro de Escultura inauguraram uma nova fase de reconhecimento público de seu trabalho e, sobretudo de aproximação das novas gerações de arquitetos e urbanistas.

As intervenções na Pinacoteca do Estado e no Centro Cultural Fiesp demonstraram um olhar agudo e atento às questões contemporâneas, e propiciaram um reconhecimento internacional que, desde então, vem se expressando, no Prêmio Mies Van der Rohe em 2000, no Pritzker Prize de 2006, em salas especiais de grandes mostras internacionais como a Documenta de Kassel de 2007 e a recente Trienal de Milão e numa já vasta produção bibliográfica sobre a sua obra.

O impacto de obras como a Pinacoteca, o Museu da Língua Portuguesa ou o pórtico da Praça Patriarca no processo de revalorização do centro de São Paulo já justificariam com sobras esta homenagem.

Para além do âmbito da nossa cidade, a obra em processo de Paulo Mendes da Rocha continua a instigar uma reflexão cada vez mais urgente sobre as relações entre o edifício e a cidade, entre a cidade e o território, entre as possibilidades sofisticadas da técnica a e premência da satisfação de necessidades ainda tão básicas de nossa população urbana.

* * *

Esta homenagem é, portanto, apenas uma questão de justiça e não posso deixar de registrar o fato de que sua iniciativa tenha partido do prefeito que teve a ousadia e a lucidez de propor a política urbana como eixo estruturante de seu programa de governo.

Parabéns, senhor Prefeito.

Parabéns, meus colegas representantes dos homenageados em memória.

Parabéns e muito obrigado, mestre Paulo Mendes da Rocha.

sobre o autor

Carlos A. Ferreira Martins é diretor do Instituto de Arquitetura e Urbanismo, USP São Carlos.

 

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