“Não posso ficar / Nem mais um minuto com você / Sinto muito, amor / Mas não pode ser / Moro em Jaçanã / Se eu perder esse trem / Que sai agora às onze horas / Só amanhã de manhã”
Adoniran Barbosa, Trem das Onze
Imortalizado no samba de Adoniran Barbosa (1), o trem da Cantareira (ou tramway da Cantareira, como também era chamado) é lendário em São Paulo.
Mas embora esteja tão presente na memória afetiva da cidade, as fotos que restaram dele não costumam ter qualidade. A internet está cheia delas, mas são imagens em preto e branco, com baixa resolução e pouca nitidez.
Por isso eu fiquei surpreso quando descobri estas. Nunca tinha visto fotos do trem a cores, e muito menos com esta riqueza de detalhes. Destaque para a estação Guarulhos, que por sinal continua em pé até hoje, embora evidentemente não seja mais usada como estação.
As fotos são de setembro de 1963 (essa é a data da revelação, impressa na moldura dos slides kodachrome). Foi justamente nessa época que Adoniran compôs o samba, que seria lançado em disco, pelos Demônios da Garoa, em 1964.
O trem, que circulava desde 1893, foi desativado menos de dois anos depois destas fotos.
As fotos são reproduzidas de slides de 35 mm da época, que apareceram à venda em Bethlehem, no estado americano da Pensilvânia. Como foram parar lá, não faço ideia. Mas fico feliz de tê-las achado e poder dar esta pequena contribuição à memória iconográfica do trem das onze.
notas
NE – publicação original do texto: JAYO, Martin. Quaiscalingudum. Blog Quando a cidade era mais gentil, São Paulo, 20 jun. 2016 <https://quandoacidade.wordpress.com/2016/06/20/quaiscalingudum/>
1
Adoniran Barbosa, Trem das Onze. Versão com Demônios da Garoa <https://www.youtube.com/watch?v=a4B37kZjAYc>; versão com Adoniran Barbosa <https://www.youtube.com/watch?v=ceBdGz3eTFg>.
sobre o autor
Martin Jayo é professor da EACH-USP e editor do blog “Quando a cidade era mais gentil”.