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drops ISSN 2175-6716

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português
Qual é a verdadeira cara de São Paulo? Quais os seus limites? São as perguntas de Guilherme Wisnik para as fotos de Tuca Vieira, presentes na exposição Atlas fotográfico da cidade de São Paulo e seus arredores.

english
What is the true face of São Paulo? What are its borders? Is it possible to get any sort of mental picture of this formless, tentacular mass which by its scale and complexity defies any effort of human cognition?

how to quote

WISNIK, Guilherme. Cidade inacabada. A fotografia de Tuca Vieira. Drops, São Paulo, ano 17, n. 106.03, Vitruvius, jul. 2016 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/17.106/6092>.



Qual é a verdadeira cara de São Paulo? Quais os seus limites? Será possível figurar na mente uma imagem qualquer dessa massa informe e tentacular que desafia, por sua escala e complexidade, qualquer esforço de cognição humana?

Essas são perguntas sem resposta, e que só podem ser levadas a sério através de duas posturas aparentemente opostas: a ficção, por um lado, ou o experimento científico, por outro. Partindo de regras e métodos muito claros, o trabalho de Tuca Vieira flerta claramente com o segundo caminho. O fotógrafo queria conhecer melhor a cidade na qual nasceu e vive, e, ao mesmo tempo, ser capaz de registrá-la fotograficamente. Mas como fazê-lo? Por onde começar? Diante da evidente impossibilidade da empreitada, escolheu um critério objetivo e impessoal: basear-se no guia de ruas da cidade. Isto é, seu trabalho consiste em produzir uma foto para cada página dupla do guia, que, por sua vez, corresponde a um número. Assim, cada número, ou página dupla, representa uma seção quadrada que divide a mancha urbana da região metropolitana de São Paulo em 203 partes iguais.

Note-se que a escolha do guia de ruas não é um critério qualquer. Ao mesmo tempo que dá conta de quase toda a extensão da mancha urbana da metrópole, o guia permite também uma apreensão palpável da cidade, uma vez que sua escala é feita para possibilitar a identificação de todas as suas ruas e praças. Tem-se, portanto, através do guia, um trânsito possível entre as partes e o todo da cidade, algo que era chave para a realização desse projeto de mapeamento. Entra em cena aqui um elemento crucial do projeto: a experiência real do espaço. Afinal, para que visitar ao vivo lugares que estão plenamente mapeados pelo Google e pelos sistemas de georreferenciamento da cidade?

Daí o aspecto algo quixotesco do projeto. Podemos imaginar o grau de infortúnios cotidianos enfrentados para a consecução da tarefa, que envolve imensos deslocamentos, congestionamentos, gastos com combustível e equipamentos, cansaço e eventuais problemas com segurança. E assim como o guia de ruas é um instrumento em total desuso nos dias de hoje, também o fotógrafo opta por registrar a cidade não através de máquinas leves e portáteis, e sim com uma câmera artesanal de grande formato com chapas individuais, montada cuidadosamente sobre um tripé, o que torna cada foto um ritual cênico claramente anacrônico.

Aqui retomo o aspecto ficcional do trabalho. Pois Tuca Vieira tempera o método científico empregado com um importante halo de ficcionalidade, próprio de quem sabe não haver respostas exatas, muito menos únicas, para o problema em questão: o retrato da cidade. Resulta daí um esforço de Sísifo, algo inglório, para se realizar um trabalho cujo sentido parece escapar ao bom senso.

Afinal, podemos pensar a sua ação de catalogação como um ato silencioso de construção paralela de outra cidade latente que nós ainda não vemos, enquanto a cidade que vemos continua se transformando continuamente. A propósito, como bem notou o ensaísta francês Georges Didi-Huberman, “se o atlas aparece como um trabalho incessante de recomposição do mundo, é, em, primeiro lugar, porque o mundo mesmo sofre decomposições constantes”.

nota

NE – Texto de divulgação da exposição Atlas fotográfico da cidade de São Paulo e seus arredores, de Tuca Vieira, Casa da Imagem, São Paulo, de 9 de julho de 2016 a 12 de outubro de 2016. Disponível em <www.museudacidade.sp.gov.br/exposicoes-expo.php?id=158>.

sobre o autor

Guilherme Wisnik (1972) é professor na FAU USP. É autor de livros como Lucio Costa (Cosac Naify, 2001), Caetano Veloso (Publifolha, 2005) e Estado crítico: à deriva nas cidades (Publifolha, 2009). Editou o volume 54 da revista espanhola 2G (2010) sobre a obra de Vilanova Artigas, e publicou ensaios em livros como Brazil’s Modern Architecture (Phaidon, 2004), Álvaro Siza modern redux (Hatje Cantz, 2008) e O desejo da forma (Berlin Akademie der Künste, 2010). É membro da APCA – Associação Paulista de Críticos de Arte e da LASA – Latin American Studies Association. Crítico de arte e arquitetura, foi curador do projeto de Arte Pública Margem (Itaú Cultural, 2008-10), das exposições Cildo Meireles: rio oir (Itaú Cultural, 2011) e Paulo Mendes da Rocha: a natureza como projeto (Museu Vale, 2012). Foi o Curador Geral da 10a Bienal de Arquitetura de São Paulo (2013).

 

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