Premiar é escrever um manifesto.
Uma premiação é uma forma de manifestar apoio a formas de pensar e fazer, que trazem o desenvolvimento das práticas profissionais.
Em arquitetura e urbanismo, escrever um bom manifesto significa valorizar elementos que, no nosso âmbito disciplinar, trazem qualificação ao habitat.
Sendo assim, e de forma resumida, o que manifesta a premiação IAB-PB 2015?
Um teatro que reestabelece suas funções, de maneira engenhosamente adequada, conectando e fortalecendo dimensões espaciais, históricas e sociais num bairro popular e tradicional da cidade. Teatro da Juteca, premiado na Categoria Arquitetura e Edificações, arquitetos Ernani Henrique Junior, Rebeca Lopes Conserva Jansen e Tatiana Moura Rodrigues. Estagiários: Marcia Virginia Costa e Thais Xavier.
Um ateliê que nos recorda, em sua simplicidade, aspectos essenciais do fazer arquitetura: redescobertas e invenções do lugar, referências culturais, essencialidade, materialização de possibilidades. Ateliê Experimento, menção honrosa na Categoria Arquitetura e Edificações, arquitetos Paulo César Lopes e Susana Montenegro.
Casas que expõem, em alguns gestos, o desejo de resgatar a inventividade arquitetônica em meio a espaços herméticos e desnaturalizados. Casa IF, menção honrosa na Categoria Arquitetura e Edificações, arquitetos Kleimer Martins e Márcio Lucena. Residência RS, menção honrosa na Categoria Arquitetura e Edificações, arquitetos Antônio Cláudio Massa, Ernani Henrique Jr e Silvia Muniz Henrique.
Uma torre de escritórios que manifesta valores plásticos e funcionais mas também desejos efetivos de aproximação com o espaço público e a economia urbana. Atlantis Offices Design, menção honrosa na Categoria Arquitetura e Edificações, arquitetos Antonio Claudio Massa, Ernani Henrique Jr e Silvia Muniz Henrique.
Uma reflexão teórica sobre maneiras de valorizar o cotidiano dos bairros, fomentando o entrecruzamento e o uso do espaço, a partir da valorização estrutural, plástica e funcional das habitações e suas relações com o espaço público. Quadra híbrida no cotidiano do bairro, premiado na Categoria Produção Teórica, arquiteto Marco Suassuna.
A aplicação racional e adequada de uma idéia de escola na estrutura urbana da cidade, configurada a partir de uma solução formal compacta, econômica e funcional no âmbito de uma maior integração de um campus universitário e uma cidade. Escola de Aplicação da UFPB, premiado na Categoria Estudantes, aluno Thyago Ramon.
Uma proposta de requalificação urbana generosa com os aspectos formais e estruturais. Requalificação Urbana da Comunidade e da Feirinha de Mangabeira, menção honrosa na Categoria Estudantes, aluno Victor Hugo Ferreira.
Um conjunto de diretrizes projetuais que atravessam uma parte degradada e esquecida da cidade, enriquecendo o conjunto de centralidades, potencializando o espaço público. Parque das Estações, menção honrosa na Categoria Estudantes, aluno Raphael Santos.
Uma iniciativa que atesta a importância da materialidade mas principalmente da ação das pessoas na constituição do espaço e na produção de cidade. Ocupaçude, premiado na Categoria Ação Social, equipe Manoella Cavalcanti, Marihana Cirne e Raphael Albuquerque.
E um conjunto de fotografias que nos fazem refletir sobre as trágicas lógicas que afetam o tempo e o espaço de nossas cidades. Cidade Para Quem?, premiado na Categoria Fotografia, equipe Bruna F. Pontes, Marco J. de Sousa e Roberta M. Gomes.
Ou seja, atentos à cidade em suas diferentes escalas, mesmo com algumas omissões, o conjunto de projetos premiados manifesta:
1) que não podemos dissociar natureza, materialidade e ação do homem;
2) que não podemos desconsiderar a simultaneidade que envolve as condições sociais, culturais, econômicas e políticas na formação do espaço urbano;
3) que devemos valorizar a inventividade;
4) e, por fim mas não finalmente, que devemos recuperar e manter a ideia de que fazer Arquitetura é, antes de tudo, ter a humildade de reconhecer que podemos e devemos mudar o mundo.
Sendo assim, parabéns à diretoria do IAB-PB, à comissão organizadora, à comissão julgadora e a todos os premiados por este Manifesto.
sobre o autor
Xico Costa, arquiteto e professor do curso de arquitetura e urbanismo na UFPB, foi membro da comissão julgadora do Prêmio IAB-PB 2015.