Eu defendo com vigor que nós arquitetos nos apropriemos das ferramentas de fabricação digital e exploremos suas potencialidades, mas não acredito em milagres.
Parece crível que uma casa cujas paredes foram construídas com uma ponte giratória que deposita uma massa de base cimentícia possa ser efetivamente mais barata e mais rápida do que uma construção convencional.
Mas um edifício é uma combinação de sistemas. Ou seja, instalações, vedações, acabamentos, impermeabilizações etc. ainda são instalados da forma habitual e não “impressos”. As paredes não bastam para reduzir em 70% (!!!!!) o custo de uma construção.
Também me pergunto, já que estamos discutindo tecnologias inovadoras, se fazer vedações em concreto, ou em uma massa de base cimentícia, é realmente uma boa ideia, considerando a inércia térmica do material e a brutal emissão de CO2 gerada na produção do clínquer, tornando discutível a característica sustentável da tal casa defendida pelos seus idealizadores.
Há algum tempo, uma moça brasileira apareceu com uma startup nos jornais, prometendo reduzir porcentagens absurdas do custo da produção de habitação social com uma tecnologia similar. Ela não tinha dados concretos nem formação técnica, apenas hipóteses, o que não a impediu de sair por aí prometendo mundos e fundos.
Claro que devemos continuar estudando essas tecnologias e sua aplicação, mas não podemos prometer milagres. Uma atitude responsável deve prevalecer, principalmente nos tempos atuais, em que falastrões tem mais credibilidade do que deveriam.
sobre o autor
Luiz Alberto Fresl Backheuser é arquiteto (Mackenzie), mestre (Universidade do Porto), especialista (Universidade Politécnica da Catalunha) e doutorando (Universidade de São Paulo). Professor da FAU Mackenzie, é membro do grupo de pesquisa Teoria e Projeto na Era Digital.