O que menos a Rocinha precisa é de um banho de loja, neste momento em que seus moradores estão, mais uma vez, prisioneiros de uma guerra que parece não ter fim.
Acredito que o prefeito Marcelo Crivella prometeu dar o referido banho em um momento de grande emoção, afinal é preciso coragem para visitar o front da batalha, mesmo contando com a proteção do exército e da polícia.
A garganta fica seca e o perigo de uma bala perdida faz, qualquer um, dizer a primeira coisa que vem à cabeça, por conta disso não devemos crucificar o prefeito, o que temos a fazer é informá-lo de que o povo da Rocinha sabe o que quer, além da paz de que tanto precisa.
Será que ninguém contou para o senhor que, há doze anos atrás, o Governo do Estado mandou fazer um Plano Diretor para a favela?
Sei disso, porque coube a mim coordenar a equipe vencedora, transferindo meu escritório, durante um ano e meio, para dentro da Rocinha. Foi essa a melhor forma que encontramos para fazer o Plano Diretor Sócio Espacial da Rocinha com os moradores e não para os moradores, como habitualmente se faz.
O Plano, com ampla participação da população, foi responsável pela construção do Complexo Esportivo da Rocinha, da passarela, do alargamento da Rua 4, da Biblioteca Parque e da construção de 150 apartamentos.
Mais recentemente, o Plano foi utilizado pelos moradores como respaldo técnico para rejeitar a implantação do teleférico na Rocinha e, em contrapartida, para exigir saneamento.
As diretrizes, planos setoriais e projetos do Plano Diretor estão disponíveis na Caixa Econômica Federal e na Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro – EMOP, responsáveis, respectivamente, pelo financiamento e fiscalização das obras.
Tenho certeza que o Prefeito Crivella prestaria um enorme serviço à Rocinha e ao Rio de Janeiro se, em vez de começar do zero, desse uma olhada no Plano Diretor Sócio-Espacial da Rocinha e, se gostasse do que ali está proposto para transformar a favela num verdadeiro bairro, fizesse dele um Plano de Governo, compromisso desta e das próximas administrações.
sobre o autor
Luiz Carlos Toledo, arquiteto, mestre e doutor pelo PROARQ-UFRJ, diretor da Mayerhofer & Toledo Arquitetura, autor do Plano Diretor Sócio-Espacial da Rocinha (2006) e diretor da Casa de Estudos Urbanos. Recebeu do IAB-RJ o título de Arquiteto do Ano em 2009.