Hoje passava a tarde na avenida Faria Lima e de repente um energúmeno cruzou na minha frente, gritando “quero ver o que a turma dos direitos humanos vai fazer sobre a facada ao capitão Bolsonaro”. Fingi de conta que não ouvi. Foi assim que tomei conhecimento do atentado ao candidato da extrema direita.
Trata-se de um atentado, um crime gravíssimo que deve ser investigado, os responsáveis processados e levados a julgamento o mais celeremente possível. Todos os candidatos fizeram muito bem em condenar e repudiar o crime. Absolutamente injustificável, apesar de a radicalização da violência ter sido trazida para a campanha presidencial pela vítima do atentado.
Faz poucos dias aquele declarou que todos os membros do PT deviam ser fuzilados e chegou a mostrar mesmo o paredón onde esses fuzilamentos deveriam ocorrer. No programa de TV “Roda Viva” foi lembrado seu lamento pela ditadura não ter matado 100.000 pessoas, incluindo Fernando Henrique Cardos e meu companheiro José Gregori. A todo momento celebra a tortura e torturadores.
A grande imprensa e televisão tem sido totalmente lenientes com essa apologia da violência; ontem mesmo numa primeira página, um quarto da página, uma imensa foto daquele candidato dando um chute num boneco do presidente Lula. A procuradora geral da República ou os procuradores e ministros do TSE são silentes quanto a essa incitação à violência por parte do candidatos.
Agora já desencavaram que o criminoso que desferiu o atentado foi membro do PSOL, e daqui a pouco, como em outros momentos do nascimento do fascismo, as esquerdas serão responsabilizadas pela violência. Dejemonos de farsas inutiles fazendo de conta que a campanha da extrema direita é algo normal em uma democracia. Estamos diante de uma gravíssima ameaça ao estado constitucional de direito.
Um cronista televisivo logo verberou, classificou o crime bárbaro como um atentado à democracia. Mas quem vem cometendo atentados à democracia é o candidato vítima do crime ao prometer mais violência todos os dia. Todas as forças democráticas à direita, no centro direita, no centro, no centro esquerda e na esquerda devem parar com as agressões entre si e formarem um arco de repúdio ao atentado criminoso absolutamente injustificável, mas igualmente condenando as promessas diárias de violência, de atentados ao Estado de Direito e à democracia feitas pelo candidato da extrema direita e seus aliados.
sobre o autor
Paulo Sérgio Pinheiro é cientista político, ex-secretário de direitos humanos e membro da Comissão Nacional da Verdade. É professor aposentado do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo.