Mulheres! Uni-vos para que a sociedade nos escute e nos ouça. E que nos ouça com a devida atenção. Uni-vos para que homens nos ouçam e para que todos nos ouçam para além do posto de esposa e mãe. Sim, porque há uma enorme diferença entre ouvir e escutar. A sociedade encarcerou a fala das mulheres no paradigma da frivolidade recebendo com filtros a oitiva da mulher.
O discurso inteligente da mulher, aquele que pode mudar uma percepção, modificar processos ou aperfeiçoar uma decisão ainda é pouco assimilado na inglória luta das mulheres pelo seu lugar de fala e como dizem atualmente, na disputa das narrativas hegemônicas. Isso não é diferente nos Conselhos, nas entidades aonde as mulheres venham exercer um papel antagônico ou lutar por um protagonismo insurgente. O desafio é banir um direito de fala sem oitiva, que faz parte de seu processo de conquista de um lugar social próprio, porém de difícil destaque: quando escutam, dificilmente nos ouvem. Assim, opinar, presidir, coordenar, representar, dar a palavra final para nós mulheres, não é tarefa das mais simples. A mulher na atualidade quer ocupar um lugar de destaque na política institucional.
Em aparente contradição com a conquista do espaço de fala, somos maioria na categoria profissional, nas salas de aula, nos escritórios, nas ruas, mas nossa capacidade de desaparecer do protagonismo e de não conseguir deflagrar processos femininos de mudança é absurdo, chegando a ser violento. Tão violento que há mulheres que se posicionam contra ele, atribuindo ao feminismo e não a machismo social preponderante, a gênese da violência. Temos que alterar esta realidade.
Se lutamos para nos situar e ter espaço para disputar campos de conquista na hegemonia masculina, teremos que desencadear a consolidação de um processo de mudança da “programação neurolinguística” da sociedade machista que coopta inclusive o espaço do feminino desta sociedade. Exato! Isso inclui modificar a fala de homens e mulheres machistas. Alterar a cultura da formação e afirmação dos machos que independente de sexo, reproduzem e fortalecem esta natureza preponderante do machismo social.
Programados para aceitar com naturalidade a mulher que fala, mas não é ouvida, somos campo fértil para reproduzir a desigualdade de gênero e preconceituar a luta pelo direito ao lugar que também é da mulher. Temos que alterar a cultura social alterando a origem daquilo que será reproduzido e transformado no futuro: a preponderância do masculino da sociedade. Afinal, reproduzimos o estereótipo social prejudicial a nós mesmas quando culturalmente delegamos ao pai, a tarefa final de decidir pela família, mesmo quando potencialmente exercemos com distinção, nosso papel no matriarcado clandestino, efetuando mais do que também a tarefa humana mais sublime que é a da maternidade. Esta realidade cultural, portanto histórica, acentua desigualdade entre homens e mulheres e povoa o universo repressivo das mulheres mães, pobres e negras...
E aí o estrago se fez. Nas instâncias institucionais, temos o insistente modus operandi de ocupar espaços sem fortalecer a nossa presença essencialmente diferente e feminina. E legitimá-los como verdadeiras e árduas conquistas femininas.
Mulheres, uni-vos! Temos a conquista como palavra: a conquista do espaço de fala com oitiva reverbera a identidade feminina, pois temos que entrar na sala, falar, ser ouvida e trazer a nossa perspectiva de mudança contribuindo com aquilo que somos e sabemos e isso muda tudo. Entrar no jogo trazendo nossos tabuleiros, regras e valores. Sabendo que ao entrar no jogo, temos capacidade de influenciar e mudar as regras. E isso vai exigir de nós mulheres o aprendizado da sororidade. Aprender a nos fortalecer em rede, confiar uma nas outras para sustentar as mudanças dos espaços de fala e de escuta que queremos provocar. Feliz Dias das Mulheres!
sobre as autoras
Coletivo Rosa Kliass, composto pela rede nacional de mulheres Arquitetas e Urbanistas do IAB. Link para entrar no grupo: https://chat.whatsapp.com/EXHuFfeTsnmIaVDgh6BmqQ.
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Participantes da Rede Nacional de Mulheres Arquitetas e Urbanistas do IAB
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