Cento e cinquenta e seis mil mortos. Assim, por extenso. Esse é o saldo atual da campanha genocida do grupo de celerados que foi levado ao poder num processo que já tem quatro anos.
Números, especialmente quando repetidos à exaustão, acabam por naturalizar qualquer tragédia. A chamada média móvel de mortes cai lentamente e esse alívio nos leva a esquecer a dimensão da hecatombe.
A se manter o número atual, até 15 de novembro o número total de vidas desnecessariamente perdidas no Brasil será equivalente ao número de eleitores registrados em São Carlos. E muito superior ao número daqueles que comparecerão para votar.
Cada morto é uma família enlutada, imersa na dor e talvez atirada na miséria pela falta de seus arrimos. Miséria, em termos técnicos, que coloca o Brasil no mapa da fome de que havíamos conseguido sair pouco mais de uma década atrás.
E para comemorar essa grandiosa marca, a segunda do planeta, o celerado genocida mor, determina ao seu generaleco colocado à frente do Ministério da Morte (já não é da saúde há muito tempo) que volte atrás do acordo realizado com governadores de todo o país e desista da compra de 46 milhões de vacinas Coronavac-Butantan sob o ridículo argumento de que se trata da “vacina chinesa”.
Na sua sabujice explícita, aquela mesma de comemorar a independência do país sob uma bandeira norte-americana, o celerado e seus fanatizados ou ingênuos seguidores esquecem que o macho alfa do atraso mundial, Mr. Trump, inventou o estigma de “vacina chinesa”, mas vai comprá-la!
Esquecem também (será que esquecem?) que todas, repito, todas as vacinas em desenvolvimento no planeta se fazem a partir de insumos de fabricação chinesa.
A comunidade científica protesta, os governadores protestam, os técnicos da Anvisa protestam, os seres humanos ainda dotados de algum resto de humanidade protestam. E isso nos leva à pergunta que realmente importa: quem não protesta?
O generaleco, da ativa, não protestou. As gloriosas forças armadas não protestaram em defesa da população do país que supostamente deveriam defender. A grande mídia protesta, mas ainda usa a expressão “vacina chinesa” como alertou até mesmo um comentarista da Globonews.
Mas de onde vem o mais ensurdecedor silêncio? De quem o (e)leitor não ouviu nenhum pio? Não lembra?
Dos ricos, dos muito ricos, dos donos dos bancos de lucros bilionários, dos nomes da lista Forbes, das entidades empresariais, com a ridícula Fiesp à frente.
Nem do ridículo Véio da Havan, que não tem nenhum interesse em lembrar às multidões que acorrem às inaugurações de suas ridículas lojas que eles estão ali para comprar, baratinho, quinquilharias “made in China”.
sobre o autor
Carlos Alberto Ferreira Martins é professor titular do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, Campus São Carlos – IAU USP São Carlos.