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research

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drops ISSN 2175-6716

abstracts

português
Levanta-se o impacto do ruído urbano e o dilema entre acústica e ventilação natural de escritórios, seguidos pelas desvantagens ambientais de uma abordagem simplificada no tratamento de espaços internos focada nos forros falsos.

english
The impact of urban noise and the dilemma between acoustic and natural ventilation in offices are introduced, followed by the disadvantages of a simplified approach in treatment of internal spaces focused on false ceilings.

español
El impacto del ruido urbano y el dilema entre acústica y ventilación natural en oficinas se introducen, seguidos de las desventajas de un enfoque simplificado para el tratamiento de espacios interiores, centrado en falsos techos.

how to quote

MICHALSKI, Ranny; et. al. O pobre desempenho ambiental dos escritórios por trás da caixa de vidro. Conforto acústico (parte 05/08). Drops, São Paulo, ano 21, n. 163.02, Vitruvius, abr. 2021 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/21.163/8073>.


Colagem-Manifesto 05
Colagem de Eduardo Pizarro / Collage by Eduardo Pizarro [Acervo pessoal / Personal collection]


Na sequência da discussão sobre a térmica, a qualidade do ar e a iluminação em edifícios de escritórios em “caixa de vidro”, outro ponto que merece atenção é a acústica. Como fica o conforto acústico nesses ambientes em função dos seus materiais, da configuração e dos usos dos espaços internos? E o ruído urbano? Como abrir janelas e não se incomodar com o ruído externo? Se os níveis de ruído forem elevados, o desempenho e a produtividade dos funcionários serão prejudicados. A exposição a níveis excessivos de ruído impacta negativamente na saúde, bem-estar, satisfação, motivação e concentração dos ocupantes (2).

A compatibilidade entre conforto térmico e conforto acústico é um desafio, especialmente ao se considerar vedações verticais internas e externas em edifícios. As aberturas como sistema passivo para o conforto térmico nos edifícios são as que mais influenciam o isolamento acústico das vedações em geral. Desta maneira, abrir as janelas para propiciar ventilação natural pode afetar diretamente o ambiente acústico dos espaços de trabalho. E mesmo fechadas, as janelas são o ponto fraco do isolamento sonoro global da fachada, principalmente devido à qualidade acústica dos caixilhos e à presença de frestas nas vedações. Os vidros, por outro lado, são materiais com pouca absorção sonora e, portanto, são refletores sonoros.

Para se obter o isolamento sonoro desejado de uma fachada em relação ao ruído externo local, devem ser empregados vidros e esquadrias adequados para cada caso. Vidros laminados e com isolamento térmico apresentam melhores índices de redução sonora do que o vidro simples e, quando dispostos de maneira múltipla, separados por câmaras de ar ou películas especiais, são ainda mais isolantes, acusticamente. No entanto, do ponto de vista da térmica, cuidado deve ser tomado em relação ao sombreamento destes vidros, lembrando ainda que os vidros duplos não são vantajosos para o desempenho térmico e energético em climas quentes. Por isso, a escolha desta solução de fachada por conta do ruído urbano deve ser reservada a casos extremos.

Uma estratégia potencialmente eficiente para resolver o conflito entre as vantagens da ventilação natural e as necessidades do isolamento acústico, sem causar desconforto aos ocupantes, nem diminuir sua produtividade, poderia ser o uso de ventilação noturna, pois à noite os escritórios estão desocupados, enquanto a renovação do ar remove o calor acumulado no interior. Porém, apesar de reduzir as cargas térmicas a serem retiradas pelo condicionamento de ar na manhã seguinte, isso não resolveria o conforto térmico durante o período de ocupação, sem abrir a janela ou acionar o sistema de ar condicionado nos dias mais quentes. O ideal seria “cuidar” do ruído externo através de uma política pública eficiente de gerenciamento e controle de ruído. Fala-se aqui do Planejamento Sonoro Urbano da cidade.

Atualmente, os mapas de ruído são a principal ferramenta para esse tipo de planejamento. Eles fornecem informações visuais sobre o comportamento acústico de uma área geográfica em um determinado momento, diagnosticando sua distribuição e quantificação de ruído. Uma lei municipal publicada em 2016 estabelece um prazo de sete anos para o desenvolvimento do mapa de ruído da cidade de São Paulo (3). Quando o mapa estiver pronto, o mesmo poderá ser utilizado para apoiar decisões de planejamento e ordenamento urbano com relação à gestão de ruído na cidade, assim como já acontece em muitas cidades europeias (4). Uma vez que o ruído externo esteja dentro de limites aceitáveis, abrir a janela não é um problema para o conforto acústico.

Além disso, é importante destacar que, em muitos casos, a acústica pode ser resolvida (ou pelo menos melhorada) na fase de projeto. A geometria das fachadas e seus elementos podem contribuir para reduzir a incidência sonora nas mesmas. Proteções solares externas podem ser úteis e existem inclusive brises acústicos. Diferentes configurações internas e usos de escritórios também podem influenciar na acústica dos mesmos. Escritórios de espaços coletivos (do tipo planta livre) tendem a apresentar maiores níveis de ruído e menor privacidade que aqueles com salas fechadas (do tipo celular) (5). Barreiras acústicas internas (para barrar a chegada do som no ocupante de forma direta), como biombos, divisórias entre mesas, estantes e outros, somadas a um projeto adequado das estações de trabalho também podem ajudar nestes casos.

Dentre as normativas brasileiras, não existe uma específica para acústica de escritórios, mas a norma ABNT NBR 10152 (6) estabelece valores de níveis de pressão sonora para diferentes ambientes internos a edificações, em função de sua finalidade de uso, tanto para fins de avaliação sonora como para estudos e projetos acústicos. No caso dos escritórios, a norma apresenta valores para os seguintes ambientes: centrais de telefonia, escritórios privativos, escritórios coletivos, recepções, salas de espera, salas de reunião e salas de videoconferência. Por exemplo, os valores de referência de níveis de pressão sonora recomendados para projetos acústicos de escritórios privativos e coletivos são, respectivamente, 40 dB e 45 dB. Para fins de avaliação sonora, a norma recomenda valores iguais ou inferiores àqueles, com uma tolerância de até 5 dB. De acordo com a norma, as medições devem ser realizadas no ambiente em sua configuração de uso, mas na ausência de usuários. Portanto, os valores não refletem situações reais de uso, quando ruídos gerados internamente pelos usuários estão presentes (como conversas, passos etc.).

Além do isolamento acústico do espaço, sua forma e dimensão, seus materiais de revestimento e os ruídos internos influenciam na qualidade acústica nos ambientes de trabalho. No caso dos edifícios em caixa de vidro, as reflexões sonoras internas causadas pelos vidros aumentam a reverberação sonora, o que também prejudica a compreensão da fala. Para reduzir tais reflexões sonoras, é necessário condicionar acusticamente o ambiente, por meio da aplicação de materiais com elevados coeficientes de absorção sonora, de modo a absorver a energia sonora e consequentemente reduzir a reverberação sonora e o nível de ruído interno. Daí vem a cultura do “forro falso”.

Na maioria dos casos, os forros absorventes são usados indiscriminadamente por serem considerados a solução perfeita para o conforto acústico. Contudo, vale destacar que o tratamento acústico não se resume a esta solução. Outro erro comum de projeto é utilizar o forro para separar acusticamente dois ambientes. Quando divisórias entre ambientes param na altura do forro (ao invés de seguir até a laje), o ruído de um ambiente passa facilmente para o outro, pelo forro. Nestes casos, conceitos básicos de absorção sonora (com o forro) e isolamento sonoro (com materiais pesados ou sistemas massa-mola-massa, devidamente vedados) se confundem. O forro absorve parte da energia sonora incidente no mesmo, mas não necessariamente isola ambientes.

Hoje há no mercado uma grande variedade de materiais acústicos absorventes que podem ser instalados não somente no teto; mas também em estações de trabalho (divisórias ou baias acústicas, na altura da boca); em paredes e pisos; suspensos (“baffles” acústicos e “nuvens” acústicas); materiais micro perfuradas e transparentes junto a superfícies de vidro; além de mobiliário acústico, como biombos, sofás, estantes, luminárias etc. Tais soluções, além de eficientes, interferem na imagem esperada de um ambiente de trabalho atual.

Por outro lado, absorção sonora em excesso pode também fazer com que a queda de uma simples caneta seja percebida, aumentando a distração, gerando desconforto e diminuindo a privacidade.

Enfim, um projeto acústico adequado e integrado às demais áreas de conforto é o mais indicado para o melhor desempenho ambiental geral do ambiente interno, tendo em mente que todos os aspectos do projeto (da orientação do edifício, à forma e tratamento das aberturas e ao detalhamento do mobiliário) têm seu papel na acústica resultante. Ao mesmo tempo, é fundamental que condições de ruído urbano extremamente desfavoráveis ao desempenho dos edifícios sejam tratadas no âmbito do planejamento e do desenho urbano, trabalhando a favor de uma integração maior entre interior e exterior.

notas

NA – A série de oito artigos intitulada “O pobre desempenho ambiental dos escritórios por trás da caixa de vidro” conta com os seguintes colaboradores: Amanda Ferreira, Ana Silveira, André Sato, Bruna Luz, Carolina Leme, Claudia Carunchio, Cristiane Sato, Eduardo Lima, Erica Umakoshi, Guilherme Cunha, João Cotta, Julia Galves, Juliana Trigo, Laís Coutinho, Larrisa Luiz, Marcelo Mello, Mônica Marcondes-Cavaleri, Monica Uzum, Nathalia Lorenzetti, Paula Abala, Sylvia Segovia.

NE – Este é o quinto de uma série de oito artigos sobre o tema do “desempenho ambiental”. A série completa é a seguinte:

GONÇALVES, Joana; et. al. Desempenho ambiental dos escritórios em caixa de vidro. Uma visão geral (parte 01/08). Drops, São Paulo, ano 21, n. 158.08, Vitruvius, nov. 2020 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/21.158/7926>.

GONÇALVES, Joana; et. al. O pobre desempenho ambiental dos escritórios em caixa de vidro. Conforto térmico e desempenho energético (parte 02/08). Drops, São Paulo, ano 21, n. 160.02, Vitruvius, jan. 2021 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/21.160/7999>.

GONÇALVES, Joana; et. al. O pobre desempenho ambiental dos escritórios por trás da caixa de vidro. Controle térmico e da qualidade do ar em tempos de pandemia (parte 03/08). Drops, São Paulo, ano 21, n. 161.02, Vitruvius, fev. 2021 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/21.158/8024>.

GONÇALVES, Joana; et. al. O pobre desempenho ambiental dos escritórios em caixa de vidro. Luz natural e artificial (parte 04/08). Drops, São Paulo, ano 21, n. 162.08, Vitruvius, mar. 2021 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/21.158/8072>.

MICHALSKI, Ranny; et. al. O pobre desempenho ambiental dos escritórios por trás da caixa de vidro. Conforto acústico (parte 05/08). Drops, São Paulo, ano 21, n. 163.02, Vitruvius, abr. 2021 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/21.158/8073>.

GONÇALVES, Joana; et. al. O pobre desempenho ambiental dos escritórios por trás da caixa de vidro. A força de transformação de estratégias arquitetônicas. Drops, São Paulo, ano 21, n. 164.08, Vitruvius, maio 2021 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/21.164/8186>.

MICHALSKI, Ranny; et. al. O pobre desempenho ambiental dos escritórios por trás da caixa de vidro. O mito das certificações verdes (parte 7/8). Drops, São Paulo, ano 21, n. 165.07, Vitruvius, jul. 2021 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/21.165/8199>.

GONÇALVES, Joana; et. al. O pobre desempenho ambiental dos escritórios por trás da caixa de vidro. Perspectivas futuras (parte 08/08). Drops, São Paulo, ano 21, n. 166.09, Vitruvius, jul. 2021 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/21.166/8202>.

1
Ver acima, na nota do editor, os demais artigos da série.

2
BASNER, M.; BABISCH, W.; DAVIS, A.; BRINK, M.; CLARK, C.; JANSSEN, S.; STANSFELD, S. Auditory and non-auditory effects of noise on health. The Lancet, 383 (9925), 2014, p. 1325-1332.

3
SÃO PAULO MUNICÍPIO. Lei n. 16.499, de 20 de julho de 2016. Dispõe sobre a elaboração do Mapa do Ruído Urbano da Cidade de São Paulo e dá outras providências. São Paulo, 2016 <http://documentacao.camara.sp.gov.br/iah/fulltext/leis/L16499.pdf>.

4
GEVÚ, N. V.; FERNANDES, W. C.; CORTÊS, M. M.; FAGERLANDE, G. C.; NIEMEYER, M. L. A. Mapa de ruído como ferramenta de diagnóstico e projeto. In Acústica e Vibrações, v. 50, 2018, p. 93-10.

5
BROCOLINI, L.; PARIZET, E.; CHEVRET. Effect of masking noise on cognitive performance and annoyance in open plan offices. In: Applied Acoustics, v. 114, 2016, p. 44-55.

6
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT NBR 10152: Acústica – Níveis de pressão sonora em ambientes internos a edificações. Rio de Janeiro, ABNT, 2017.

sobre os autores

Ranny Michalski é engenheira mecânica pela UFRJ, mestre e doutora em Engenharia Mecânica pela Coppe UFRJ. Professora doutora da FAU USP, onde atua como docente no ensino e na pesquisa, e orientadora do programa de pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAU USP. Membro da Diretoria da Sociedade Brasileira de Acústica – Sobrac. Participa da elaboração de normas técnicas brasileiras em acústica da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.

Joana Gonçalves é arquiteta e urbanista pela UFRJ, mestre em Environment and Energy pela AA School of Architecture, doutora e livre-docente pela FAU USP. Orientadora dos programas de pós-graduação Arquitetura e Urbanismo da FAU USP e Architecture and Environmental Design, School of Architecture and Cities, University of Westminster, Londres. Professora da AA School of Architecture, Londres. Diretora da Associação Plea.

Roberta Mülfarth é arquiteta e urbanista pela FAU USP, mestre pelo Programa Interdisciplinar de Pós-Graduação em Energia da USP, doutora e livre-docência pela FAU USP. Orientadora de pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAU USP e no Programa de Educação Continuada – Pece, no curso de especialização de Gestão em Cidades, junto a Poli USP. Vice-coordenadora do USP Cidades. Chefe do Departamento de Tecnologia da FAU USP.

Marcelo Roméro é professor titular da FAU USP. Arquiteto e urbanista pela UBC, mestre, doutor e livre docente pela FAU USP, pós-doutor pela Cuny (USA). Orientador e Professor dos Programas de Pós-Graduação da USP, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT, da Universidade de Brasília, do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo e da Peter the Great St. Petersburg Polytechnic University.

Alessandra Shimomura é arquiteta e urbanista pela PUC Campinas, mestre pela Unicamp e doutora pela FAU USP. Professora pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e orientadora do programa de pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAU USP. Advisor no Student Branch ArchTech Labaut da Ashrae e Membro do Comitê Plea (Passive and Low Energy Architecture) Chapter Latin America and the Caribbean (Plea-LAC).

Eduardo Pizarro é arquiteto e urbanista, mestre e doutor pela FAU USP. Professor da Universidade São Judas. Pizarro é Embaixador do LafargeHolcim Awards e já desenvolveu pesquisa na Architectural Association Graduate School, em Londres, e na ETH, em Zurique. Ganhador de prêmios como o Jovem Cientista (Brasília, 2012) e o LafargeHolcim Forum Student Poster Competition (Detroit, 2016).

Sheila Sarra é graduada em Medicina pela Universidade de São Paulo e especialista em Medicina do Trabalho na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Arquiteta e urbanista pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. Mestre e doutora em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo, em Tecnologia da Arquitetura. Consultora em qualidade ambiental de edificações.

Aparecida Ghosn é arquiteta e urbanista pela UBC. Mestre pela FAU USP e professora do curso de pós-graduação da Anhembi Morumbi. Experiência nos setores privado, público e acadêmico no Brasil e exterior (EUA e Austrália). Atualmente atua com Avaliação Pós Ocupação em espaços de trabalho, com foco na qualidade ambiental Interna, saúde e produtividade dos ocupantes.

Beatriz Souza é técnica em Edificações pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, arquiteta e urbanista pela FAU USP, com dupla formação pelo programa FAU Poli (USP). Foi bolsista de Iniciação Científica com apoio do CNPq e da Fapesp na área de Desempenho Ambiental e Eficiência Energética das Edificações. Atualmente é consultora da Arqio Arquitetura e Consultoria.

Karen Santos é aluna do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Foi bolsista de Iniciação Científica com apoio da Fapesp. Atualmente, está cursando o Programa de Dupla Formação FAU USP – Escola Politécnica da USP.

 

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