Conhecendo o parque
Fiquei de dar aqui algumas impressões sobre o Parque Augusta. Visitei-o rapidamente no sábado e no domingo, dias 6 e 7 de novembro.
A primeira impressão extrapola o parque: uma área desse tipo deveria existir para cada x habitantes da cidade. O parque estava tão lotado, mas tão lotado, que mal deu para apreciar seu desenho.
A segunda impressão: por ter sido resultado de muita briga da população local (eu mesma fui a “n” manifestações, ajudei nos abaixo-assinados etc.), este espaço parece nascer com esse ar de respiro. Trata-se de região da cidade em que os casais homoafetivos não se escondem, em que há convivência de faixas etárias, de preferências musicais (o Baixo Augusta, de alguma maneira, sem entrar em detalhes aqui, expressa isso). Passam ônibus na rua Augusta, na Caio Prado e isso também torna o parque super acessível.
Os diferentes usos parecem coexistir bem – anfiteatro com lâminas de madeira sobre o piso, playground, área para soltar os cachorros, pequenas trilhas, redário etc. E banheiros! Fiquei impressionada com a quantidade de cachorros! Imagino o quanto a manutenção e limpeza do parque terão de ser eficientes.
Os brinquedos do playground me pareceram bem tradicionais, mas não consegui ver direito, juro, de tanta gente! Lembrei, mais uma vez, com grande saudade e admiração de Elvira de Almeida e do que ela teria feito ali!
Para mim, a grande dissonância foram os bancos de concreto, desenho que mostra – falta de desenho!
Acho que os designers deveriam fazer exposição mostrando alternativas para toda a cidade com propostas de bicicletários, abrigos de ônibus, bancos, postos de engraxates, brinquedos, áreas de wifi, pisos etc.
Retornando ao parque
Hoje, 10 de novembro, visitei o Parque Augusta com mais atenção; no fim de semana era quase impossível caminhar, de tanta gente. Foi um prazer, ver, numa quarta-feira, final da manhã, gente sentada lendo, gente deitada tomando sol, gente passeando com cachorros, caminhando, correndo, fazendo ginástica, crianças brincando.
Mas, para mim, vizinha do parque, o maior prazer foi me sentir numa clareira da cidade. Pude olhar para os edifícios altos e baixos que circundam o quarteirão. Prestei atenção, pela primeira vez em prédios que jamais olhara por falta de espaço e perspectiva.
No limite do terreno, dá para ver a arquitetura de Rino Levi, da PUC, antigo Sedes Sapientiae. Deu para ver também a rua Gravataí como ponte entre o Parque e a Praça Roosevelt (havia essa ideia de transformar essa rua em bulevar de pedestres, não sei se micou).
Pela primeira vez entendi que, para apreciar os edifícios sem ser por fotos, precisamos de espaços abertos nas cidades. Talvez esta seja uma das razões que levava Enzo Mari a dizer que, no futuro, o trabalho seria muito mais destruir que construir.
Dou razão aqui à Renata Paiva de Andrade, que me falou do desenho bem ruinzinho dos bebedouros. Só hoje os enxerguei. Há grande diferença entre brutalismo e brutalidade. Concreto aparente não significa falta de elegância no desenho. Aliás, os guarda-corpos me fizeram lembrar daqueles do MuBE, tão sutis, claro, Paulo Mendes da Rocha.
sobre a autora
Ethel Leon é pesquisadora e professora na área de história do design brasileiro, e autora dos livros Memórias do design brasileiro, IAC – Primeira Escola de Design do Brasil, Michel Arnoult, design e utopia – móveis em série para todos e Design brasileiro – quem fez, quem faz.