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drops ISSN 2175-6716

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O arquiteto Ruy Ohtake, falecido no dia 27 de novembro de 2021, recebe homenagem de Ruth Verde Zein.

how to quote

ZEIN, Ruth Verde. Ruy Ohtake (1938-2021). Drops, São Paulo, ano 22, n. 170.05, Vitruvius, nov. 2021 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/22.170/8328>.



O primeiro arquiteto que entrevistei como “jornalista de arquitetura” foi Ruy Ohtake, há quarenta anos. Sempre educado e gentil, explicava suas razões com clareza e aceitava com elegância outras percepções distintas.

Naturalmente já conhecia seu trabalho, ao menos o que havia sido publicado: folhear as revistas Acrópole foi uma das grandes “aulas” que desfrutei no meu curso de graduação em arquitetura nos anos 1970. Lembro claramente o impacto que me causou a publicação da residência Chiyo Hama (1967), acompanhada de uns croquis explicando que a “casa era uma praça abrigada onde se encontram os amigos”. Uma metáfora poderosa, que demorei décadas para compreender plenamente.

A oportunidade para rever cuidadosa e criticamente essas primeiras casas foi oferecida por Abilio Guerra ao me convidar a participar do novo livro sobre a obra de Ruy que sua editora editou. Estudar de novo suas primeiras obras e os textos que as acompanhavam, com a experiência ganha em décadas de reflexão crítica, foi um imenso prazer (e virou capítulo do livro que a Romano Guerra lançou este ano).

Quem trabalha com o que gosta jamais trabalha. E assim era Ruy Ohtake: um arquiteto workaholic, incessante, inquieto, sempre explorando outras possibilidades. Pelo caminho, desfazendo, indiretamente, fronteiras e categorias historiográficas estanques. Refletindo sobre esse tema, Abilio e eu apresentamos ao congresso do Docomomo 2020 a proposta de análise de uma obra de Ohtake: a embaixada do Brasil na capital japonesa. O evento seria celebrado em Tóquio, o que nos daria a oportunidade de conhecê-la pessoalmente; com a pandemia tudo ocorreu online, e ficou para outra oportunidade.

Enquanto pesquisávamos as informações sobre essa obra, visitamos Ruy Ohtake, no seu escritório, em janeiro de 2020. Como era de seu hábito sempre que alguém perguntava algo sobre suas obras, ele fez um croqui de memória, retratando fielmente suas proporções e partido, esclarecendo algumas de suas concepções. O momento foi informalmente registrado por mim e por Abilio.

A última vez que nos encontramos, também com toda equipe da Romano Guerra, foi na casa Tomie Ohtake, alguns meses depois. Conversamos sobre o lindo livro sendo editado por Silvana e Abílio, sobre suas casas e, como sempre, a conversa fluiu agradável. Nem sempre estávamos de acordo em nossas posições, mas isso jamais nos impediu de continuar conversando e trocar ideias. Ruy Ohtake não colocava limites na sua liberdade criativa, e tampouco na dos demais.

Ruy Ohtake se foi. Perdemos uma grande pessoa. E a arquitetura brasileira perde mais uma de suas dimensões modernas excelentes. Senti muitíssimo, e me solidarizo com sua família.

sobre a autora

Ruth Verde Zein é arquiteta (FAU USP, 1977), mestre e doutora (Propar UFRGS, 1999 e 2005), Prêmio CAPES de Teses 2006, professora e pesquisadora na FAU Mackenzie, São Paulo, Brasil. É autora de mais de uma dezena de livros e centenas de artigos sobre a arquitetura moderna brasileira e latino-americana.

Croquis da Casa Chyio Hama, Acrópole, 1971
Imagem divulgação [Acrópole, ano 33, n. 386, jul. 1971]

Página do artigo “Morar na praça”, de Ruth Verde Zein
Imagem divulgação [GUERRA, Abilio; ROMANO, Silvana. Ruy Ohtake, arquiteto. São Paulo, Romano Guerra/In]

Ruy Ohtake desenhando em giz croquis da Embaixada do Brasil e da Casa do Embaixador no Japão
Foto Ruth Verde Zein

Ruth Verde Zein fotografando Ruy Ohtake, que desenha em giz croquis da Embaixada do Brasil e da Casa do Embaixador no Japão
Foto Abilio Guerra

 

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