Edifícios antigos fazem parte do patrimônio edificado e urbano de um determinado lugar. Quando estes edifícios abrigam museus, este patrimônio torna-se ainda mais valioso, tendo em vista que além do próprio valor histórico intrínseco ao edifício, deve-se considerar igualmente, obras, artefatos e itens de valor histórico para a sociedade e sua memória. A preservação destes bens é essencial para que eles se mantenham sempre em condições adequadas e seguros contra riscos que podem implicar na perda de acervos e do próprio edifício. Desta forma, a gestão de riscos deve fazer parte da rotina de um museu, a fim de minimizar estas ocorrências ao antecipar diagnósticos de manifestações patológicas existentes nas edificações (1) e ou em seus acervos, além de potencialmente colaborar com os procedimentos sustentáveis (2).

Com estas premissas em mente, foram desenvolvidos nesta pesquisa (3) exploratória e qualiquantitativa, checklists, protocolos também conhecidos como listas de verificação, listas de inspeção ou fichas de identificação de danos, que segundo Tinoco (4) podem ser apresentados no formato de formulários sejam digitais ou impressos. Eles devem ser amigáveis e auxiliar em coleta de dados rápida in loco.

Este instrumento, se integrado à manutenção rotineira dos museus, auxilia no atendimento aos requisitos de desempenho das edificações, principalmente no caso daquelas mais antigas e patrimoniadas, para que sejam diagnosticadas de forma sistêmica(5). Os checklists contribuem para a preservação de edifícios antigos, tendo em vista que o intuito desse instrumento é coletar e analisar dados do ambiente construído em estudo e ponderar sobre a criticidade da situação, permitindo realizar a identificação de aspectos ambientais com desempenhos positivos e aqueles a serem melhorados mediante intervenções técnicas adequadas.

Como resultado desta pesquisa, foi proposto um checklist composto pelos requisitos de desempenho relativos à acessibilidade, ergonomia, funcionalidade, segurança contra incêndio, manifestações patológicas (do sistema construtivo) e conforto ambiental. Uma das características deste instrumento é ser um protocolo amigável e fácil de ser utilizado por gestores, técnicos em conservação preventiva, arquitetos e engenheiros envolvidos com atividades de restauro e preservação de bens culturais.

A estratégia utilizada para desenvolver o checklist foi fundamentada em duas abordagens metodológicas. A primeira delas é a Avaliação Pós-Ocupação — APO (6). A APO é um conjunto de métodos aplicado em ambientes construídos no decorrer do uso. Nesta abordagem considera-se tanto a visão do especialista na avaliação de desempenho físico como os níveis de satisfação dos diversos usuários para desenvolver diagnósticos consistentes que por sua vez, irão nortear recomendações para a implementação de programas de manutenção no próprio estudo de caso como em futuros projetos de ambientes/edifícios semelhantes. Desta forma, a APO realimenta o processo de projeto.

O checklist desenvolvido na pesquisa para apoio ao walkthrough é um dos instrumentos largamente adotados na APO, no entanto, não existe na literatura um checklist padrão a ser utilizado. A aplicação de checklists é acompanhada por um walkthrough, que é realizado por um pesquisador ou profissional treinado e pode ocorrer de forma acompanhada também por um especialista em manutenção, gestor de facilidades, arquiteto ou engenheiro que conhece o edifício, seus ambientes internos e externos e suas instalações.

O segundo procedimento metodológico no qual o checklist foi baseado é a Metodologia Ergonômica do Ambiente Construído — Meac, desenvolvida por Villarouco e Costa (7) e tem como objetivo estabelecer uma comparação entre as fases da análise ergonômica tradicional e aquelas necessárias à avaliação do ambiente com foco na atividade nele desenvolvida.

Além destas dois procedimentos metodológicos, o checklist também foi desenvolvido com base em Revisão Sistemática da Literatura, em normas e instruções técnicas, diretrizes regulamentadoras da construção civil e boas práticas reconhecidas, como a ABNT NBR 15575 (8); NBR 9050 (9) , sendo que a primeira norma permite avaliar o desempenho de sistemas que compõem as edificações e se somam aos requisitos de acessibilidade da segunda, às recomendações de Cohen et al. (10) e as instruções técnicas — IT do Corpo de Bombeiros do estado de São Paulo, como as ITs 08 (11), 11 (12) e 20 (13).

O instrumento foi desenvolvido numa planilha eletrônica amigável que contém quatro abas sendo que a primeira aba contempla os itens de desempenho, a saber: sistema construtivo; acessibilidade/ergonomia/funcionalidade e conforto ambiental. As outras três abas, portanto, correspondem a cada um destes temas, separadamente. Desta forma o avaliador tem a opção de aplicá-lo na sua integralidade, a partir da primeira aba, ou, escolher apenas alguns dos itens de desempenho para aplicar em um determinado ambiente.

Os itens de desempenho, que possuem intensa conexão entre si foram agrupados em três grandes grupos, a saber: o sistema construtivo, no qual foram contemplados os itens de desempenho “manifestações patológicas” e “segurança contra incêndio”; um grupo para os itens de “acessibilidade”, “funcionalidade” e “ergonomia” e outro grupo chamado de conforto ambiental, que contempla os itens de desempenho referentes à “iluminação” e “conforto térmico e umidade”.

Como contribuições resultantes do cheklist, gestores e projetistas poderão contar com as respostas sobre as condições dos itens de desempenho respondidas pelo avaliador relativamente aos ambientes em uso: atende, não atende, atende parcialmente e não se aplica. Além disso, existem mais três colunas. Uma para “observações”, outra para “recomendações com vistas à manutenção corretiva”, que deve ser preenchida quando algum item for respondido com “atende parcialmente” e “não atende”, e outra coluna “recomendações para manutenção preventiva”, para quando um item for respondido com “atende”, mas o avaliador considerar mesmo assim que existem ações de melhoria para o item avaliado. Há também uma coluna para inserção dos prazos de intervenção para solucionar os problemas verificados no ambiente, que podem ser: curtíssimo: imediato; curto: até seis meses; médio: sete a doze meses e longo: treze a vinte e quatro meses.

Foram elaboradas adicionalmente duas outras planilhas. A primeira mostra automaticamente a quantidade de itens respondidos em cada tipo de resposta. Aqui o avaliador pode verificar a condição técnico-física dos ambientes museológicos de acordo com a quantidade de itens que foram respondidos em cada opção de resposta. A partir das informações desta planilha, o avaliador pode verificar o resultado final da vistoria em outra planilha, demonstrativa da situação em que o edifício se encontra, de acordo com a pontuação obtida na planilha anterior. O resultado apresenta três possíveis situações: desempenho satisfatório (quando 80% ou mais do itens avaliados foram atendidos); risco moderado (foram atendidos 50% a 79$ dos itens avaliados) e alto risco (menos de 50% dos itens avaliados foram atendidos).

O checklist, organiza o que se pretende buscar em campo e auxilia as atividades de conservação preventiva em museus. É sabido que já se faz uso de checklists para realizar vistorias edilícias de rotina há décadas, porém metodologias utilizadas para desenvolvê-los e aplicá-los ainda são relativamente pouco conhecidas por especialistas dos campos da conservação e do restauro de edifícios antigos. Diagnósticos de baixo custo como no caso deste instrumento, podem sistematizar procedimentos rotineiros de manutenção no caso de edifícios antigos, alertar quanto a necessidade de diagnósticos específicos e antecipar a mitigação de eventuais danos irreversíveis a edificações museológicas e aos seus acervos, fornecendo rotineiramente informações técnicas para embasar programas de necessidades qualificados e intervenções projetuais.

notas

NA — Camilla Gomes Vitorino Alves agradece ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico — CNPq pela concessão da bolsa de IC 158120/2020-5 e Sheila Walbe Ornstein agradece ao CNPq pela bolsa produtividade 304131/2020-2.

1
SÁNCHEZ, Dora Méndez. Más vale prevenir que lamentar: importancia del diagnóstico de conservación oportuno en los museos. Gaceta de Museos, n. 56, Instituto Nacional de Antropología e História, Ciudad de México, 2013 <https://bit.ly/3HWOu2k>.

2
LUCCHI, Elena. Simplified assessment method for environmental and energy quality in museum buildings. Energy and Buildings, v. 117, 2016, p. 216-229 <https://bit.ly/3HZRUBp>.

3
VITORINO, Camilla Gomes Alves. Desenvolvimento de roteiro digital de walkthrough com checklist para espaços museológicos por meio das interfaces entre Avaliação Pós Ocupação e Metodologia Ergonômica de Avaliação do Ambiente Construído. Relatório final de Iniciação cientifica. São Paulo, FAU USP/CNPQ, 2021.

4
TINOCO, Jorge Eduardo Lucena. Mapa de Danos: Recomendações Básicas. CECI — Textos para discussão, v. 43. Olinda, 2009 <https://bit.ly/3gT3Jxq>.

5
LOPES, Sofia; ORNSTEIN, Sheila Walbe. O potencial da Avaliação Pós-Ocupação (APO) para a preservação de ambientes museológicos localizados em edifícios antigos: o caso do Museu da Imigração, SP. Projetar Projeto e Percepção do Ambiente, v. 3, n. 2, 29 ago. 2018, p. 67-79 <https://bit.ly/3HTsgOy>.

6
RHEINGANTZ, Paulo Afonso; et al. Observando a qualidade do lugar: procedimentos para a avaliação pós-ocupação. Cadernos ProArq, Rio de Janeiro, PPGAU FAU UFRJ, mai. 2009 <https://bit.ly/3LEjG8B>; ONO, Rosaria et al. Avaliação pós-ocupação: na arquitetura, no urbanismo e no design. Da Teoria à Prática. São Paulo, Oficina de Textos, 2018.

7
VILLAROUCO, Vilma; COSTA, Ana Paula Lima. Metodologias ergonômicas na avaliação de ambiente construído. V!RUS, n. 20, São Carlos, 2020 <https://bit.ly/33rRfcO>.

8
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575. Edificações Habitacionais — Desempenho. Rio de Janeiro, ABNT, 2021.

9
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050. Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro, ABNT, 2020.

10
COHEN, Regina; DUARTE, Cristiane e BRASILEIRO, Alice. Acessibilidade a Museus. Cadernos Museológicos, v. 2, Brasília, Ibram, 2012.

11
CORPO DE BOMBEIROS DO ESTADO DE SÃO PAULO. Instrução Técnica 08/19. Segurança estrutural contra incêndio. São Paulo, 2019.

12
CORPO DE BOMBEIROS DO ESTADO DE SÃO PAULO. Instrução Técnica 11/19. Saídas de emergência. São Paulo, 2019.

13
CORPO DE BOMBEIROS DO ESTADO DE SÃO PAULO. Instrução Técnica 20/19. Sinalização de emergência. São Paulo, 2019.

sobre as autoras

Camilla Gomes Vitorino Alves é graduanda em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo.

Sheila Walbe Ornstein é arquiteta e urbanista, professora titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e bolsista produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.