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drops ISSN 2175-6716

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Carlos Martins, professor titular do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP São Carlos, argumenta sobre as mudanças estruturais do capitalismo e seu impacto na Amazônia brasileira.

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MARTINS, Carlos A. Ferreira. Capitalismo predatório, feudalismo tecnológico e o fim da Amazônia. Drops, São Paulo, ano 22, n. 176.03, Vitruvius, maio 2022 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/22.176/8483>.


O arcaico e o contemporâneo colocando em risco a Amazônia
Fotomontagem AG [Imagem divulgação]


Enquanto as redes sociais, de direita e de esquerda, andam às voltas com questões super relevantes como o debate de um presidenciável com um comediante, o mundo segue em frente, embora não se saiba exatamente para onde.

Na mesma semana em que o biliardário Elon Musk veio de surpresa ao Brasil e recebeu a deferente visita do pseudo presidente da república no hotel onde estava hospedado, a Der Spiegel (O Espelho), tradicional revista do mainstream alemão, dedicou sua capa aos “Fora da Lei. O mundo feudal dos super-ricos”.

Sobre uma ilustração onde aparecem o próprio Musk e Jeff Bezos, da Amazon, dois outros megaempresários e uma influencer californiana, a revista explicita no “fio” na capa o novo fenômeno: “Super bilionários como Jeff Bezos e Elon Musk estão formando uma nova nobreza global endinheirada. Eles quase não pagam impostos e, ao mesmo tempo, sua participação na riqueza mundial está crescendo. Os políticos olham impotentes”. E arremata com uma pergunta surpreendente dado a caráter tradicional da revista: “Estamos diante de uma nova luta de classes?”

Interessante que a revista tenha usado a expressão “mundo feudal” quando há vários economistas e cientistas sociais debatendo, ainda num âmbito restrito, a hipótese de que já não se trate do capitalismo em sentido clássico, mas de uma outra coisa, que alguns chamam de “tecno-feudalismo”.

Basicamente a ideia é que as mega plataformas tecnológicas estabelecem formas de dominação novas, altamente regressivas e causadoras de aprofundamento abissal das desigualdades sociais.

O mito de uma era de liberdade apoiada no acesso ilimitado à informação deu lugar a uma acumulação escandalosa de lucros, a um punhado de tecno-oligarcas que acumulam fortunas inimagináveis, a milhões de novos desempregados e a um empobrecimento brutal de enormes contingentes populacionais. A “nova economia” se transformou em patamares inéditos de dominação e desigualdade.

Sobre a rápida incursão de Musk pelo Brasil, as versões ainda estão em disputa. Segundo algumas leituras ele veio para uma reunião de empresários que teria sido sequestrada pela invasão abrupta de Bolsonaro e Fabio Faria. Aliás, a esposa de Faria, Patrícia Abravanel, não deixou por menos e chamou Musk de “o novo Noé”.

Alguns fatos, entretanto, não dependem de versões. O primeiro é que seu Starlink não serve para o monitoramento ambiental, como deixou claro o cientista Ricardo Galvão, ex-presidente do INPE, que pediu demissão em função das pressões presidências contra a divulgação dos dados de desmatamento.

O segundo é que o Sr. Musk é aquele que, perguntado sobre a relação entre o apoio estadunidense ao golpe da Bolívia e as enormes reservas de lítio, fundamentais para o desenvolvimento dos carros elétricos de sua empresa, respondeu sem titubear: “Sim, daremos golpes onde for necessário”.

Segundo Jânio de Freitas, em matéria na Folha, repercutida em vários veículos, a versão de uma intromissão de última hora de Bolsonaro numa reunião de empresários não se sustenta porque Fabio Faria teria sido um dos articuladores da vinda desde o início.

Se o sistema de satélites de Musk não serve para monitoramento ambiental, ele pode sim ser usado para prospecção das riquezas minerais da Amazônia, o que coincide plenamente com o projeto da atual cúpula militar para a região.

Depois das declarações do presidente, acompanhado de ministros militares, de que os acordos estavam feitos sem maiores burocracias, uma coisa é certa: o homem mais rico do mundo, segundo a última atualização da Forbes, passa a ser mais um – e que um – a ter interesse pessoal e direto em evitar uma vitória de Lula.

Dinheiro e mídia não faltarão aos generais interessados em manter o capitão amigo de milicianos como seu boneco de ventríloquo.

A Amazônia, que havia sobrevivido às tentativas de ataque de Henry Ford, com sua Fordlândia nos anos 1920 e de Daniel Ludwig, com seu projeto Jari nos anos 1960, dificilmente resistirá ao ataque do tecno feudalismo mustiano.

A preservação da maior floresta tropical do planeta, com seu papel crucial no equilíbrio climático e a sobrevivência do que resta das populações indígenas, dependem apenas da eleição de um candidato que tem contra si a grande mídia, o big Money brasuca, o alto oficialato militar e, para não deixar dúvida agora, o mega capital trumpista e suas maravilhosas máquinas de comunicação.

Jânio de Freitas conclui declarando saudades da Amazônia. A menos de uma vitória épica em outubro, teremos saudades do Brasil.

sobre o autor

Carlos Alberto Ferreira Martins é professor titular do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP São Carlos.

 

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