Entrevista com Atsushi Kitagawara
Marcelo Tramontano
Enfant terrible da Arquitetura contemporânea japonesa, Atsushi Kitagawara costuma enfrentar as problemáticas que lhe são apresentadas com um raro vigor. Às vezes, chega ao ponto de, em plena atividade criativa, sofrer de um mal muscular que lhe paralisa o corpo, obrigando-o a retirar-se, só, em repouso absoluto, por vários dias. Sua arquitetura é, sabidamente, produto deste processo sofrido, de um envolvimento que ultrapassa os limites do emocional, do mero gesto plástico, mergulhando em porções pouco conhecidas de integração entre diferentes campos disciplinares. Kitagawara é capaz de mesclar filosofia, literatura, música e técnica na concepção de um único projeto, às vezes um minúsculo espaço sem função claramente definida, como aquele chamado de Mion-kaku, escondido em uma das muitas ruelas da capital japonesa. Ou então, surpreende-nos ao ir ao cerne de uma suposta espacialidade inerente à dança, revelando sua energia em projetos como o do Nederlands Dans Theater, de Jiri Kylian, ou em "In the middle, somewhat elevated". Kitagawara é, assim, amigo de coreógrafos, músicos, escritores, designers de moda, criando em torno de si um universo que se confunde, continuamente, com os pressupostos de sua arquitetura. Creating hollows, como ele mesmo costuma dizer.
Entrevistamos Atsushi Kitagawara em Tóquio, no dia 8 de julho de 1994. Foram cinco horas densas, ricas, prazerosas, das quais extraímos os trechos a seguir.