Marcelo Tramontano: Falando sobre ensino de Arquitetura, como você transmite aos alunos a sua visão de Arquitetura, sua maneira de pensar o projeto arquitetônico?
Atsushi Kitagawara: Bem, antes de mais nada, não sei se transmito isto aos alunos... [Risos] Mas acho extremamente complicado transmitir. No meu caso, dei aula em Waseda e em Tokyo Geijutsu Daigaku [Tokyo National University of Fine Arts and Music, Tokyo] durante três anos. Agora estou na Tokyo Kogyu Daigaku [Tokyo Institute of Technology, Tokyo]. Dou aula de Projeto de Edificações, o que significa que não se trata de uma aula expositiva de, por exemplo, Teoria da Arquitetura. Ofereço um tema e os alunos desenvolvem um projeto. Eu os oriento, discutindo e dando sugestões. Basicamente não falo muito sobre mim, porque não tenho experiência suficiente para dar aos alunos. Acho que o importante é oferecer oportunidades para que os alunos possam desenvolver sua capacidade de criação, exercitando sua liberdade de imaginação. Nesse sentido, tento dar-lhes dicas e sugestões que, inevitavelmente, se baseiam no meu campo de conhecimento, na minha experiência. Neste sentido, sim, acho que eles acabam recebendo de mim alguma influência. Mas acho que o professor deve orientar o aluno a descobrir coisas por si próprio, a imaginar e a criar novas possibilidades e, por isso, tento evitar que o aluno me imite ou receba minha influência direta.
MT: Eu tenho uma última pergunta. Se você fosse convidado a organizar uma nova escola de Arquitetura, sobre que principais idéias basearia sua proposta?
AK: Acho que, numa escola de arquitetura, devem existir várias disciplinas situadas nas áreas das Artes, da Literatura, e da praxis da realidade social. Por exemplo, se fosse um curso de quatro anos, nos primeiros dois anos os alunos aprenderiam todas essas coisas básicas e, só depois, passariam a receber uma educação específica de Arquitetura. No Japão, a profissão de arquiteto não tem ainda cem anos, falando em termos de tradição. Os cursos de Arquitetura geralmente fazem parte das escolas de Engenharia. Neste sentido, Tokyo Geijutsu Daigaku é uma escola muito peculiar, já que a maioria dos alunos japoneses de Arquitetura entram no mundo da Arquitetura sem receberem praticamente nenhuma educação artística, filosófica, ou literária. [Tokyo GeDai, como é conhecida, une Artes Plásticas e Música ao ensino de Arquitetura] Como conseqüência, nota-se que as cidades japonesas são completamente desinteressantes, cheias de edifícios desinteressantes. A razão de tantas coisas sem emoção artística ou literária, sem beleza, em fim de contas, serem construídas no Japão, está aí . Por isso, se eu realmente pudesse construir uma escola de Arquitetura, eu gostaria que nela se pudesse estudar as coisas básicas necessárias para fazer Arquitetura. Se eu pudesse participar da formação desta escola, criaria uma espécie de comissão que reunisse pessoas de várias áreas – filósofos, escritores, sociólogos, ... – para realizar discussões multidisciplinares. Mas se fosse dar aula de alguma coisa, acho que só poderia ser de Projeto de Arquitetura. Poderia ser para o terceiro ou quarto ano, ou pós-graduandos. Queria poder ensinar... Ensinar, não é bem o termo, acho que não sou muito bom em ensinar, mas gostaria de poder oferecer a esses alunos oportunidades, estímulos para refletir sobre Arquitetura. Seria interessante.