Um observador da beleza do mundo
Nanda Eskes
Christian de Portzamparc – ganhador do Prêmio Pritzker Prize em 1994 – é hoje, ao lado de Jean Nouvel e de Dominique Perault, um dos arquitetos mais populares na França. Conhecido mundialmente pelo projeto da Cidade da Música, obra construída no Parque de La Villette em Paris, e pela Torre LVMH em Nova York, o arquiteto se dedica hoje, entre outros projetos, à Filarmônica de Luxemburgo, ao Centro Hospitalar de Lyon, a uma torre no bairro de La Defence e à finalização do bairro Massena em Paris.
Portzamparc, como arquiteto, é um bon vivant, obstinado observador da beleza do mundo, à qual busca transformar em matéria construída. Uma de suas maiores ambições não é a de simplesmente construir, mas a de criar edificações que sejam “felizes”, prenhes de uma generosidade e de uma beleza que transcendam a simples funcionalidade. Seu ateliê, mais do que um simples escritório, se transforma em um verdadeiro laboratório, aonde cada projeto é analisado, estudado, representado por dezenas de maquetes e imagens. Um lugar aonde os projetos sempre em evolução, nunca são vistos como acabados, aonde a busca é sempre infinita.
O escritório de Portzamparc é um perfeito reflexo de sua personalidade. Situado num ateliê de artista edificado na década de vinte do século passado, foi construído por um cego que esculpiu a casa na argila. O prédio de seis andares é totalmente pitoresco e labiríntico, cheio de escadas e salas por todos os lados onde se amontoam maquetes diversas, e de onde se divisa uma vista maravilhosa de Paris. Trabalham ali mais ou menos trinta pessoas, de diferentes nacionalidades e diversas personalidades. De certo modo, ali são todos excêntricos. Exemplares quase caricaturais do que se pode encontrar na profissão – o artista plástico, o músico de Rock and Roll, o viajante mundial, o poeta, o clássico burguês, o maquetista escultor, o politécnico formal, e diversos outros tão interessantes quanto estes.
Os inúmeros aperitivos, almoços, festas e jantares contribuem para o bom ambiente do escritório, constituindo-se em momentos especiais, que unem as pessoas. Tirando partido do que são verdadeiramente as pessoas, e proporcionando um universo de trabalho flexível, Portzamparc conseguiu criar em torno de si um clima de trabalho único, constituído por uma verdadeira família, que lhe retribui com devoção e fidelidade no trabalho.
A presente entrevista foi realizada informalmente, durante um almoço, quando eu já trabalhava no escritório há mais de um ano. Não havia um tema específico, mas fundamentalmente a vontade de conversar sobre coisas que me intrigavam na sua maneira de trabalhar. Foi aquela discussão que sempre sonhei em ter e a entrevista foi um ótimo pretexto para viabilizá-la – uma visão de dentro das coisas, sem muita ambição teórica, mas que mostrou rica em detalhes e idéias.