Pedro Jordão: As maquetes têm uma enorme importância no desenvolvimento dos vossos projetos, são um instrumento de trabalho com o qual têm uma relação muita intensa...
José Mateus: As maquetes têm a vantagem de teres o objeto na mão e de lhes poderes mexer e rapidamente alterar. Uma representação tridimensional em computador está distante a um certo nível e o desenho bidimensional é obviamente limitado em termos de antecipação do que é o objeto, sobretudo quando as geometrias são muito complexas. Desde o início de cada projeto há a maquete do sítio e a maquete do programa. O que é a maquete do programa? Os cadernos com programas preliminares de edifícios de grande dimensão, por exemplo, têm uma listagem de espaços com as áreas respectivas. Só que às vezes são centenas de compartimentos. E o que passamos a fazer foram volumes, a uma escala qualquer, de cada parte funcional do edifício. E depois, em primeira análise, empilhamos sobre o terreno, fazemos as primeiras constatações. Nós costumamos brincar com o fato de que, hoje em dia, faz-se muito o projeto para se chegar ao fim e ter-se uma caixa. Nós começamos com uma caixinha e no fim, até pode haver uma caixinha, mas fomos buscar muitas outras coisas. A maquete é um auxiliar extraordinário na nossa metodologia mas não é tudo. Nós desenhamos como os outros arquitetos. Saltamos é constantemente do desenho para a maquete e da maquete para o desenho, havendo sempre inúmeras maquetes em cada projeto, que acabam invariavelmente em maquetes de obra, que podem ser troços à escala 1:50 da estrutura desse edifício, o que é muito útil para descobrir contradições entre o projeto de arquitetura e o projeto de estruturas, podem ser fragmentos do edifício à escala 1:20 ou um detalhe muito completo. E, por vezes, no fim do projeto, há a maquete de representação global.
Nuno Mateus: Isto é a descrição. Quanto à motivação, eu diria que, uma maquete é para ver, outra é para construir e, no meio disso, é para pensar. E no fim é para comunicar. Percebemos os projetos são, têm de ser, cada vez mais rápidos. Para contrariar esse sentido da velocidade dos dias que correm, utilizamos a maquete, que no fundo reivindica uma certa lentidão. Uma maquete está sempre à vista, não se desliga, como um computador. Como o [Fernando] Távora diz, fazer as tripas como antigamente, fazem-se de um dia para o outro, não se fazem no mesmo dia. Essa lentidão tem a ver com o tempo da sua construção, que é mais lenta que um esquiço. Essa lentidão leva-nos a uma relação muito próxima com aquilo que estamos a fazer e com as decisões que se estão a tomar em relação à sua construção. Nós fazemos maquetes em todas as escalas, em todas as fases. Por exemplo, nós tentamos, tanto quanto possível, que arquitetura e estrutura sejam uma mesma coisa, que a arquitetura esteja toda inscrita na estratégia estrutural. E a maquete serve para apanhar os erros todos antes de ir para a obra. É uma espécie de protoconstrução, em plástico, cartão ou madeira.
JM: E há ainda o potencial da comunicação da maquete com o cliente. Muitos dos clientes que chegam cá, não fazem a mínima idéia do tipo de arquitetura que nós desenhamos. Alguns pensam que sabem. Se o cliente entrar no processo e conseguir perceber o projeto que está a ser construído aos poucos, vendo as maquetes, sente-se mais seguro e lentamente vai-se inscrevendo na sua mente que, afinal, a casa é um bocado diferente do que pensava. Porque, ao fim e ao cabo, nós não somos ilustradores dos desejos muito precisos que eles trazem. Naturalmente que há o programa e alguns aspectos que são concretos. Mas nós procuramos determinadas lógicas de arquitetura que gostamos de reafirmar e de investigar.