Entrevista com Emanuel Dimas de Melo Pimenta
Fábio Duarte
No início dos anos 90 chegaram alguns computadores com "boa" interface gráfica na Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo, e alguns então alunos da arquitetura imediatamente, como nunca antes acontecera, tornaram-se freqüentadores assíduos dos laboratórios de informática – os antigos CPDs. A opinião inicialmente generalizada entre os professores era que seria apenas uma mecanização do desenho técnico. Mas um restrito grupo de alunos, e restritíssimo de professores, encabeçado por Roti Turin, com aliados como Jorge Caron e Marcelo Tramontano, ligados já a alguns colegas de São Paulo, achávamos (nós, alunos, com a sadia irresponsabilidade do risco, tínhamos a certeza) que os computadores alterariam tanto a forma de representação da arquitetura quanto mudariam como viveríamos e pensaríamos o espaço contemporâneo.
Em 1993 Roti Turin levou a São Carlos Emanuel Dimas de Melo Pimenta, que falava e mostrava projetos de arquitetura virtual. Um ano depois, estava em seu escritório em Lisboa para estágio, e a partir dali, em universidades e institutos de mídia, geografia e planejamento urbano por diferentes países, estudando as relações entre inovações tecnológicas e alterações no pensamento e criação de espacialidades. Pimenta vinha trabalhando com arquitetura e computadores (o que chamaria de arquitetura virtual ainda no final dos anos 80) havia já uma década. Provavelmente, como explorado nesta entrevista, o impulso vinha menos do ambiente arquitetônico do que de seu trânsito por outros meios e linguagens, especialmente fotografia e música.
Aluno e parceiro, admirador e admirado por Johh Cage, Merce Cunningham, René Berger, Joachim Koelreutter, Emanuel Dimas de Melo Pimenta parece colocar em todas as suas obras (arquitetônicas e musicais) a ênfase no processo – mas não no registro de um processo que leva a um resultado final, e sim no processo em si da descoberta da linguagem. Esta entrevista foi realizada a convite do Portal Vitruvius por email; na verdade, parece-me a edição de conversas que em diversas ocasiões temos tido nos últimos 10 anos.