NU: No projeto da Casa Barata dos Santos para Vila Viçosa (5) uma das condicionantes era utilizar apenas as técnicas de construção locais. Como é que operando segundo métodos tradicionais se consegue introduzir novas resoluções formais e materiais sem alterar a percepção que o cliente tem daquilo que é uma habitação?
Nuno Teotónio Pereira: O que eu fiz foi uma habitação contemporânea. Uma habitação é a marca de um tempo…
Nuno Portas acabou por ser o autor principal dessa casa. E ele conseguiu isso. As formas contemporâneas não agridem o castelo que está ali mesmo ao pé, conseguem inserir-se de forma harmoniosa no contexto. E isso foi uma coisa que nós também tivemos de uma maneira geral no nosso trabalho. Eu gosto muito do território – se não tivesse sido arquitecto tinha ido para geografia, conheço Portugal de lés a lés, e também participei naquele inquérito à arquitectura popular portuguesa que reforçou essa componente. E sempre apreciei muito a arquitectura vernácula, as suas expressões, as paisagens, o carácter de cada vila, de cada localidade. Isso também tem reflexo nas nossas obras.
Nós participamos naquele momento crítico da arquitectura moderna em que esta sofreu de dogmas. Do outro lado da avenida de Roma há uns prédios compridos paralelos uns aos outros, assentes em cima de pilares com empenas cegas. Havia esses dogmas da arquitectura moderna, os pilotis, coberturas horizontais e nós sempre fomos fazendo telhados, de uma maneira ou de outra. E quisemos participar nesse movimento crítico de revisão da arquitectura moderna contra os dogmas para se adaptar melhor às condições locais, a cada ambiente.
NU: Tinha a ver com tornar o espaço identificável por toda a gente…
NTP: Sim, exactamente.
NU: No fundo democratizar a arquitectura…
NTP: Organizá-la, regionalizá-la. E aqui o Távora teve um papel muito importante.
NU: É engraçada aquela história de ter ido ao Porto de propósito conhecer o Fernando Távora depois de ele ter escrito o texto sobre a casa portuguesa…
NTP: Sim, eu fui lá. Esse artigo é um artigo histórico e o publicamo em livrinho. Acho que fizemos essa publicação em caderno.
notas
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Nuno Portas, Nuno Teotónio Pereira, Vila Viçosa, (1957-1959).