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interview ISSN 2175-6708

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Maria Helena Flores Guinle e Luis Guinle,administradores do Park Hotel de Lucio Costa de 1999 a 2002, comentam o projeto de restauração e relembram a história do hotel

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GUERRA, Abilio. Maria Helena Flores Guinle e Luiz Guinle. SOS Park Hotel, já! Entrevista, São Paulo, ano 09, n. 035.04, Vitruvius, jul. 2008 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/09.035/3284>.


Detalhe do folder promocional do empreendimento imobiliário "Cidade Jardim Parque São Clemente" em Nova Friburgo, Estado do Rio de Janeiro
[fonte: Acervo Família Guinle]

Abilio Guerra: O que motivou a família Guinle a construir o Park Hotel em Nova Friburgo?

Maria Helena Flores Guinle: O motivo que levou César Guinle a construir o Park Hotel em Nova Friburgo está intimamente ligado à historia do Parque São Clemente, que pertenceu a Antonio Clemente Pinto, Barão de Nova Friburgo. Ali o influente barão ergueu na segunda metade do século XIX seu chalet, circundado por jardins de Glaziou. Essa vasta e onerosa propriedade foi vendida em 1912 pelos herdeiros do Barão ao pai de César, Eduardo Guinle, que a reformou, estabeleceu residência de verão e instalou criações de animais.

Em 1935, formado em engenharia civil, César passou a dividir suas atividades profissionais entre Rio de Janeiro e Friburgo, e ao assumir a administração da Propriedades Reunidas Eduardo Guinle, decidiu transformar o Parque São Clemente em um bairro residencial: a cidade Jardim Parque São Clemente. Na quadra “O”, uma estreita faixa de terreno (entre 2500 e 3000 m2), foi então o local escolhido para construir um pequeno hotel para hospedar eventuais compradores de lotes no Parque São Clemente.

O folder publicitário realizado pela Empresa de Propaganda Standard Ltda e distribuído aos clientes contava a história da imigração suíça, do Parque e do Chalet. Seu texto, acompanhado de fotos e planta, traçava um perfil do loteamento, das “chácaras” e residências e fazia a chamada para o hotel: “em meio ao Parque, há também um hotel campestre... que oferece todo o conforto para o veranista. Edificação rústica, toda de madeira e pedra, ao natural, o seu conjunto se harmoniza com a paisagem, confundindo-se com o próprio parque, em virtude das inovações introduzidas em sua construção, essencialmente modernas.... Arquitetura e paisagem se confundem em admirável harmonia. Moderno e confortável, ao mesmo tempo simples e campestre, o Park Hotel é, sem dúvida, um hotel diferente...”

AG: Qual era a relação da família Guinle com o hotel ao longo dos anos?

Luiz Guinle: Sem dúvida existe uma ligação sentimental muito forte da família com essa iniciativa de nosso pai. Como filho mais velho, lembro-me bem de pelo menos um encontro com Lúcio Costa no qual fui com meu pai buscá-lo em sua residência no Leblon para irmos a Friburgo visitar a obra do hotel. Ficou gravada na minha memória a travessia para Niterói na barca para carros, na murada da qual ficavam meu pai e Dr. Lúcio conversando ininterruptamente e depois a visão da construção, ainda nas suas fundações. Ao longo dos anos essa ligação tornou-se ainda mais forte com a vivência freqüente da família e de seus amigos no hotel que se tornou um ponto de encontro para todos os moradores da Cidade Jardim Parque São Clemente.

Se de um lado a valorização cultural do hotel passou a ser cada vez mais evidente na medida da maior percepção da genialidade da criação de Lúcio Costa, do lado financeiro nunca representou algo significativo dado o pequeno valor do arrendamento mensal face às despesas de conservação do imóvel. Aliás, desde o início, César Guinle nunca teve em vista um negócio imobiliário com o Park Hotel. Entretanto, sempre demonstrou preocupação com a qualidade desde a construção, executada pelos melhores profissionais existentes em Friburgo na ocasião, até a continuidade do empreendimento mediante o arrendamento a pessoas muito bem escolhidas para operá-lo. O Sr. Facchetti foi o primeiro e permaneceu como arrendatário durante 16 anos; D. Irene foi a segunda, durante 36 anos.

Em 2002 foi fundado o Instituto César Guinle com a finalidade de arrecadar fundos para o restauro do hotel e de preservá-lo para a posteridade. Para tanto, os herdeiros cederam o imóvel em comodato para o Instituto pelo prazo de 25 anos, de forma que toda a receita que venha a ser auferida na sua eventual exploração comercial seja destinada à sua manutenção.

Maria Helena Flores Guinle com uma amiga no lago do Park Hotel, anos 50
[fonte: Acervo Família Guinle]

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