Abilio Guerra: Como se deu o processo de degradação do hotel?
Maria Helena Flores Guinle: A evolução da indústria de turismo no Brasil e no mundo exigiu das redes hoteleiras um processo de radicais transformações. A rede de Friburgo, a partir do final dos anos 80 não conseguiu responder a essas exigências. A já mencionada preferência dos turistas para o litoral veio se somar a essa situação, como mais um elemento complicador.
Em Friburgo, um hotel grande e importante – o Sans-Souci – fechou suas portas em meados dos anos 90. Outros hotéis como o Hotel Olifas e o Hotel Floresta deram sinais de crise. O mesmo se deu no Park Hotel. A hospedagem caiu sensivelmente, embora os serviços de restaurante mantivessem uma razoável clientela.
Ao longo da existência do Park Hotel, César Guinle sempre forneceu os meios de fazer reformas e reparos no hotel. Sua firma, Construtora Parque São Clemente, tinha pessoal qualificado e materiais de reposição (peças de eucalipto, por exemplo) para atender as necessidades do imóvel. No período em que ele adoeceu, de 1980 a 1989 – quando veio a falecer - não foi possível dar a mesma qualidade de manutenção ao hotel.
Ocorreu também que com a queda da receita do hotel e o gradual cansaço decorrente da idade, Dona Irene na década de 90 foi diminuindo a manutenção do dia a dia do prédio. Cientes da situação, nos últimos anos do contrato de arrendamento abrimos mão do aluguel e demos início às providências para o restauro.
O grande impacto da degradação se deu, entretanto, em 2003 porque, embora a verba da recuperação do telhado já tivesse sido liberada em agosto, a burocracia do IPHAN atrasou o início da obra até fevereiro de 2004. Naquele ano inusitadamente choveu muito de agosto em diante e o estrago no interior do hotel foi muito grande.
AG: Qual a repercussão do manifesto “SOS” Park Hotel” de Gilberto Paim?
MHFG: A iniciativa de Gilberto Paim com o manifesto SOS Park Hotel, veiculado na editoria Agitprop do Portal Vitruvius e em um jornal de Nova Friburgo, foi fundamental para despertar a atenção de órgãos da imprensa e dos profissionais de arquitetura para a situação do Park Hotel. Vale acrescentar que, além dele ser conhecedor de design e arquitetura, sua atitude foi independente dos proprietários do hotel. Muito importante também foi o trabalho do jornalista friburguense Girlan Guillan, que desenvolveu o assunto dando-lhe sustentação na imprensa e alcançando um espectro mais amplo do publico leitor.