Abilio Guerra: Como se deu a escolha de Lucio Costa para projetar o hotel?
Maria Helena Flores Guinle: Em seu livro Registros de uma vivência, ao enumerar as fases de sua atividade profissional, Dr. Lucio inclui na terceira, em início dos anos 40, os projetos do Parque Guinle, “realizado graças à interferência de Armando Faria de Castro”, e do Park Hotel de Friburgo, “fruto da mútua dedicação e empenho – do proprietário, Dr. César Guinle, e minha”. Na mesma fonte, também podemos deduzir por seu depoimento sobre o Parque Guinle, que Dr. Lucio procurou César, e seus irmãos, no intuito de apresentar um projeto alternativo para os prédios de “estilo afrancesado” proposto por outro arquiteto. Os relatos indicam, portanto, que o encontro promovido pelo Sr. Faria de Castro foi importante para o projeto do Parque Guinle. Mas a escolha de Lucio Costa para o projeto do Park Hotel teve como fator determinante a receptividade de César Guinle para com o surgimento da modernidade na arquitetura brasileira.
AG: Qual a importância da autoria de Lucio Costa para o sucesso do Hotel?
MHFG: A funcionalidade e o conforto proporcionados pela arquitetura que tirava partido de materiais locais como madeira e pedra, foram determinantes para o sucesso do hotel. A esses fatores soma-se a localização privilegiada, em um ponto alto do Parque, com vista para os jardins de Glaziou. As palavras do folder “Cidade Jardim Parque São Clemente” sintetizam o êxito da obra de Lucio Costa: “Arquitetura e paisagem se confundem em admirável harmonia”. O prestigio do arquiteto, que culminou com a escolha de seu plano piloto para Brasília, evidentemente imprimiu um caráter diferencial ao Park Hotel.
AG: Qual era a relação do arquiteto Lucio Costa com o hotel?
MHFG: Durante a construção do hotel, Dr. Lucio e César Guinle acompanharam assiduamente a obra. Chegaram a se preocupar com os detalhes de escolha da roupa de cama e das louças, que encomendaram a fornecedores do Rio. As visitas de Dr. Lucio ao longo dos anos foram comprometidas pelo falecimento de sua esposa em acidente de carro no início dos anos 1950. Depois dessa data, sua filha Maria Elisa passou a fazer eventuais visitas, momentos esses em que sempre encontrava César Guinle. Lucio Costa só voltou ao Park Hotel em 1986, com Maria Elisa, e nessa ocasião o arquiteto José Reznik filmou a visita, que veio a fazer parte do documentário O Risco – Lucio Costa e a utopia moderna, lançado em 2003.
AG: Qual era a relação da família de Lucio Costa com o Hotel?
MHFG: Após o falecimento de César Guinle em 1989, o contato de seus herdeiros com Maria Elisa Costa se intensificou. Os sinais de precariedade nas instalações do Park Hotel fizeram com que intervenções pontuais fossem feitas. E a necessidade de elaborar um projeto de restauro tornou-se iminente. Maria Elisa deu toda a colaboração que esteve a seu alcance, para viabilizar essas obras, e a implementação dos projetos de restauro encaminhados para serem aprovados pelo IPHAN a partir de 1995. Um exemplo desse apoio deu-se em sua gestão de presidente do IPHAN: a verba destinada a recuperar parte do telhado do hotel.