Abilio Guerra: Como foi a vida do hotel nos primórdios?
Maria Helena Flores Guinle: Desde a inauguração do Park Hotel em 1944, César Guinle confiou a sua gerência a experientes e dedicados administradores estrangeiros. Entre eles, o suíço Edmond Chevret foi o que permaneceu menos tempo como administrador do Hotel. Sucedeu-o, como arrendatário, Giovanni Facchetti, italiano de Milão, formado em hotelaria em Genebra, cuja gestão se prolongou até início dos anos 1960.
O Park Hotel nesse período cumpriu plenamente a função de hospedar eventuais compradores de lotes no Parque São Clemente, e dado a suas características arquitetônicas e à qualidade dos serviços de hotelaria, superou as expectativas: tornou-se um pequeno hotel de referência para os habitantes do Rio de Janeiro que vinham à serra passar férias de verão, feriados e fins de semana.
Em 1963 Irene Peterdi, de origem húngara, tornou-se arrendatária do Park Hotel por um longo período que se estendeu até 1999, durante o qual trouxe para o restaurante a marca da culinária húngara, sobretudo de sua refinada pâtisserie. Durante essa gestão fizeram-se necessárias duas reformas: a dos banheiros e a da cozinha, ambas realizadas nos anos 1970. Desse mesmo período data a construção de uma piscina e de uma sauna elétrica muito solicitada pelos hóspedes.
AG: Ao longo dos anos, quais hóspedes freqüentaram o hotel?
MHFG: Na época em que o Rio de Janeiro era capital da República, além dos hóspedes de famílias tradicionais e da classe média, estrangeiros de várias embaixadas estiveram entre os freqüentadores do Park Hotel. Os recém-casados, representaram um segmento dos mais importantes entre a clientela do Park Hotel, de seus primórdios até os tempos mais recentes, e por vezes seus filhos e netos deram continuidade a essa preferência!
Entre as personalidades notáveis que se hospedaram no Park Hotel podemos citar, do meio político, Artur da Távola, Luiz Paulo Conde; do cinema e televisão, Carlos Manga, Harry Stone, Jô Soares; do meio artístico, Di Cavalcanti, Artur Moreira Lima, Paulo Sergio Valle, Paulo Rónai.
A presença de arquitetos no Park Hotel foi sempre uma constante, aliando prazer e necessidade de registrar as características inéditas dessa obra de Lucio Costa. Moradores de Nova Friburgo também freqüentaram assiduamente o restaurante do Park Hotel. Além dos freqüentadores habituais, empresários promoviam almoços de negócios, juizes faziam seu encontro de fim de ano, e assim por diante.
AG: Quem administrou o hotel ao longo dos anos?
MHFG: Na inauguração do Park Hotel no ano de 1944, o suíço Edmond Chevret assumiu sua gerência. Devido a resultados insatisfatórios, César Guinle optou pelo sistema de arrendamento e o italiano Giovanni Facchetti foi escolhido para assumir o hotel em 1947. Neste período, que durou até 1963, ele e sua esposa se dedicaram ao hotel dando ao restaurante o tom da culinária italiana, produzindo massas frescas e sorvetes, e se ocupando do jardim com muito talento. Os serviços prestados por este arrendatário corresponderam plenamente aos propósitos a que foi destinado o hotel de pequeno porte e ao mesmo tempo confortável, funcional. Essa gestão cessou unicamente por motivos de ordem pessoal do arrendatário.
A gestão de Irene Peterdi, que se prolongou por 36 anos, prosseguiu no atendimento que aliava profissionalismo e atenção personalizada, mas deu destaque especial ao restaurante. Irene Peterdi introduziu um buffet frio e especialidades húngaras, ao mesmo tempo mantendo a culinária mais convencional e dedicando-se pessoalmente à produção diária de deliciosas sobremesas. Esses “ingredientes” ampliaram a clientela de outras regiões além do Rio de Janeiro capital e de Nova Friburgo. Sua longa permanência chegou a fazer com que muitos hóspedes chamassem o Park Hotel, de hotel da Dona Irene!
Com todo esse êxito, o Park Hotel não foi poupado da grave crise que atingiu a maioria dos hotéis da cidade de Friburgo. E Dona Irene, aos 86 anos, determinada a permanecer no hotel até o fim, cedeu ao apelo de sua família para interromper suas atividades.
A partir de 1999, fizemos diversas tentativas de buscar um novo arrendatário, sem sucesso, a ponto de decidirmos operá-lo, evitando fechar o hotel. Conseguimos dar vida ao mesmo durante cerca de três anos, apesar dos prejuízos financeiros.
Em 2002 surgiu um casal interessado no arrendamento – Nívea e Stefan Schmidt – ela brasileira, ele alemão, que conseguiram operar o hotel razoavelmente por pouco mais de um ano. Em dezembro de 2003 decidiram voltar a morar na Alemanha, em parte porque problemas com o telhado do hotel começavam a tornar-se incontornáveis. Durante esse período, já havíamos feito diversos investimentos, como o reparo de uma coluna com a base apodrecida e o novo sistema de aquecimento da água dos apartamentos.
Em fevereiro de 2004 começaram as obras do telhado, custeadas por verba do IPHAN, findas as quais, não mais foi possível reabrir o hotel.