Rosana Soares Bertocco Parisi e Ana Cristina Villaça: Diga-nos seus interesses no Brasil e suas impressões sobre Ouro Preto. Sabemos que o senhor deseja visitar o Rio de Janeiro e conhecer uma favela, quais as suas expectativas? Existe algum outro lugar que o senhor se interesse em conhecer, além do Rio de Janeiro?
Paul Oliver: Bem, eu estou interessado em conhecer diferentes tipos de arquitetura, nas maneiras peculiares de se morar. Então, interesso-me por subúrbios e periferias, como interesso-me por assentamentos urbanos. Então penso que Ouro Preto é surpreendente, porque é curiosamente suburbana e os subúrbios se enquadram tão confortavelmente na paisagem! Além de ter outras características curiosas: você desce por qualquer caminho e há sempre outra igreja à vista. Se estivéssemos na Inglaterra, haveria somente uma igreja para cada cidade. Vocês sabem... isto é uma outra experiência. Eu penso que a cidade de Ouro Preto é muito bonita, o que eu gosto muito, é certamente uma surpresa. Quanto a outros lugares no Brasil, a escala é tão grande, que eu não saberia dizer.... Bem, eu gostaria muito de ir à região amazônica - eu tenho que fazer isso algum dia! Tenho um casal de amigos que fazem pesquisa em lingüística com culturas no extremo oeste das terras amazônicas. Como o meu trabalho é com arquitetura, eu não poderia ajudá-los, mas ainda vou até lá um dia... Agora, no âmbito dos “assentamentos informais” (“squatter settlements)”, estou interessado na maneira como esses assentamentos se desenvolvem e com que intenções os migrantes e primeiros habitantes o faziam. Sob qualquer ponto de vista que se olhe para eles hoje, podem ser muito pobres, e viver em condições muito ruins. Mas existem enquanto assentamento, até mesmo se não estivessem implantados de uma forma desordenada, como as primeiras construções irregulares que foram construídas por migrantes. Pode ter sido errado agir desta forma, mas as famílias desses assentamentos vêm tentando ter uma vida mais estável e segura. Eles deveriam ter casas melhores... Agora, penso que essa é uma responsabilidade nacional.
Já estive em alguns destes assentamentos, no Vale Mathare no Quênia, por exemplo. Lá designers estiveram trabalhando em “core housing”, que é baseado no desenho de uma célula que inclui instalações sanitárias básicas, construídas em intervalos distantes e as pessoas são estimuladas a ampliá-las conforme queiram. O governo poderia ter provido as casas, mas preferiram prover os serviços de infra-estrutura básicos e estimular os migrantes das áreas rurais a construir conforme suas vontades. Tais assentamentos podem ser comparados aos “bustees” de Calcutá, na Índia, que são construídos com restos de materiais. Estes estão onde as pessoas se fixaram e se assentaram. O sistema aceito que tenham seus prédios, não importa o quão precário estes possam ser. Algumas vezes são providos de serviços e de materiais melhores.
Assim, a tais grupos é dado o direito do uso da terra que tomaram e estes tornam-se “bustees consolidados”. Mas , vocês sabem, existem diferentes maneiras de os governos enfrentarem os problemas destes sistemas de assentamentos, e eu penso que é muito importante que isto seja compreendido. As culturas podem ser muito diferentes nos assentamentos, mas ainda penso que este problema tem que ser confrontado. Algumas pessoas referem-se aos “squatter settlements” frequentemente, enquanto outras referem-se como assentamentos informais ou não-formais. Visitando-os, pretendo identificar quais são as similaridades, ou diferenças, e como são tolerados ou ignorados, e se eles estão melhorando. E, se estão, por quê? Vejam: Existe uma tradição muito interessante na Turquia chamada ”gecekondus”, que significa (”built overnight”), “construído durante a noite”. Estes assentamentos situam-se perto de Ankara ou Istambul e alcançam números recordes de ocupantes. Porém, trazem uma tradição brilhante para as cidades, e muitos deles mantêm suas conexões com suas aldeias originais. Então, são diferentes novamente e têm sido bem aceitos. Na Turquia, existe um sistema interessante chamado “trade-off”, que significa, por exemplo, que o governo pode prover iluminação pública, se o grupo interessado providenciar, por exemplo, o parque para as crianças como contrapartida. Os políticos envolvidos e as populações podem receber benefícios pela troca. É um outro sistema. Há tanto a ser aprendido com tais experiências...