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interview ISSN 2175-6708

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Paulo Case, 80 anos, é um dos mais importantes arquitetos de sua geração. A ousadia formal e sua capacidade em articular coerentemente estética e funcionalidade em seus projetos arquitetônicos e urbanos são características marcantes de sua obra.

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BARBOSA, Antônio Agenor. Entrevista com o arquiteto Paulo Casé. Entrevista, São Paulo, ano 13, n. 049.02, Vitruvius, jan. 2012 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/11.049/4185>.


Favela-Bairro Mangueira, Rio de Janeiro. Arquiteto Paulo Casé, 1998
Foto divulgação [Website do arquiteto]


Antônio Agenor Barbosa: Então agora a gente já está entrando numa segunda parte desta nossa entrevista que é o que eu chamo de período de sua formação. O senhor já falou que o seu processo de escolha pela escola de arquitetura foi completamente aleatório, mas como era o contexto político e social do Brasil naquela época? O senhor e seu grupo estavam interessados em outros temas, ou era uma questão apenas da formação em arquitetura que interessava? Como era o ambiente acadêmico dentro desse contexto mais amplo, que era final dos anos cinqüenta, certo?

Paulo Casé: Exatamente. Era a época de Getulio Vargas. Sempre que o arquiteto tem uma visão muito aberta para o mundo, e ele sempre estará do lado da justiça, do princípio verdadeiro. O arquiteto que não for verdadeiro não é arquiteto, o que interessa é a verdade o caminho certo, as coisas limpas, as coisas claras. Se você é um arquiteto, você é um gênero de espécie e a sua obra de arquitetura tem que representar a realidade política, social e cultural. Então você tem na arquitetura um instrumento do saber, e você tem que se considerar nessa missão, ler muito, ter cultura geral, tudo é importante, e isso faz com que você veja mais claramente o mundo em sua volta e perceba as injustiças do mundo.

Então não é aquele negócio de ser esquerdista porque isso já é um carimbo. Não é disso que estou falando. O que passava dentro de todos nós era que alguma coisa tinha que ser feita para que nós fossemos instrumentos de transformação da sociedade como um todo e não estivéssemos interessados apenas em nos relacionar com aquele grande proprietário que tinha a condição de pagar um projeto de arquitetura e etc.

Aliás, isso eu fui sentir na pele quando fui fazer o Favela-Bairro, fiz o Projeto na Mangueira. Eu fui o primeiro arquiteto a fazer um projeto numa favela grande, e logo na Favela da Mangueira. Foi um concurso, ganhei o concurso, e fiz o projeto e escrevi sobre isso, escrevi um livro. Minha satisfação era que pela primeira vez eu tinha um cliente que era pago pela prefeitura, para fazer arquitetura para eles. Eles tinham um padrinho, um mecenas que era o Estado. Isso me deu um sabor maravilhoso de fazer este projeto. Eu subi o morro, conheci gente espetacular, me preocupei com a memória da favela. Fiz reuniões lá no meu outro escritório com todas essas associações de bairro, aquele Ivo Meireles ficou meu amigo, todos eles vinham fazer a memória da favela. No meu livro tem a transcrição dessas reuniões que eu gravei lá na Mangueira e você vai ver que é interessantíssimo, pra observar que eles têm toda a noção da importância das pessoas que viveram ali com eles na naquele espaço da Mangueira. Então cabe a nós, tidos como intelectuais, mostrar a todo mundo que isso é importante, que esta memória é importante na sobrevida de uma comunidade. Então desde jovem eu já tinha esse sentimento, que a arquitetura é também um instrumento da transformação, e que na realidade era um conflito com uma ideia maior, ou seja, de o arquiteto ser um homem do bem, um homem capaz de promover a transformação de uma comunidade.

Favela-Bairro Mangueira, Rio de Janeiro. Arquiteto Paulo Casé, 1998
Foto divulgação [Website do arquiteto]

AAB: E depois que o senhor se formou arquiteto já entrou efetivamente no mercado, tinha já segurança que essa faculdade te ofereceu uma boa formação, ou essa segurança, essa qualidade só foi sendo conquistada com a execução dos seus primeiros trabalhos? Fale um pouco dessa transição da faculdade para o mercado.

PC: Eu não tinha a menor dúvida de que eu seria um arquiteto, não digo no sentido de fazer sucesso, mas no de ser um arquiteto atuante. Meu pai foi assim, ele não deixou as coisas acontecerem, ele fez acontecer. Então, eu vou acontecer na arquitetura, eu já pensava assim na época. Era hábito ou até uma norma que os arquitetos do quarto ano procurassem um escritório de arquitetura no qual ele iria adquirir experiência profissional. Sobretudo numa escola na qual o corpo docente não estava dentro da nossa linguagem. Então não havia razão nenhuma para você buscar formação profissional dentro daquela escola e com aquelas condições. Tinha que ir pra fora.

AAB: E onde o senhor trabalhou inicialmente?

PC: Eu fui fazer assim: eu fui procurar dentro daquela paisagem, e via aqueles prédios todos falsos, cheios de uma arquitetura de má qualidade, e comecei a procurar qual era a Imobiliária ou a Construtora que eu sentisse nos seu edifícios, uma tentativa de produzir alguma qualidade, e uma delas era a Sisal. Eu via o Edifício Vésper ali na Santa Clara, era da Sisal, tinham algumas coisas, eu já tinha um espírito crítico, aliás em geral o estudante de arquitetura tem um espírito critico aguçado. Eu tinha feito um concurso dentro da faculdade, de uma capela, eu ganhei esse concurso, com Arthur Lins Pontual, nós dois fomos representar num congresso em Belo Horizonte os dois trabalhos. Na volta, (eram 20 painéis que eu fiz), eu soube que um dos diretores da Imobiliária Sisal era amigo de um vizinho.

Então eu bati lá, chamei o Jadir que era amigo do meu vizinho, e ele disse: “vai lá dentro procurar um italiano chamado Gambardela” Uma peça rara! Aí é que é o guru que eu encontrei. Porque ele desenhava igual o Portinari, fazia escultura que nem o Brecheret. Aí o Gambardela me aprovou, entrei, e comecei no dia seguinte. Um mês depois, eu fiz meu primeiro projeto, e está lá até hoje em Copacabana, era um edifício residencial, dois apartamentos. Mudou tudo na minha arquitetura, já mudei toda a maneira de fazer arquitetura. O importante era que as plantas antigamente tinham o salão, uma varanda, você pode procurar e vai ver varanda, sala no meio, biblioteca de um lado e sala de jantar do outro. Tudo com portas e arcos. E eu já com influências do modernismo e do Mies Van der Rohe, não queria viga, queria planos e tetos livres, e aí eu comecei a fazer as paredes soltas, plantas livres, foi um sucesso! Ainda estava na escola, foi em 1954, estava saindo da escola, mais ou menos, e minha experiência foi dentro do mercado de trabalho. Lá na Sisal tinha alguns desenhistas maravilhosos, e o Gambardela era quem fazia as fachadas.

Edifício Estrela de Ouro, Copacabana, Rio de Janeiro. Arquiteto Paulo Casé, 1959
Foto divulgação [Website do arquiteto]

AAB: O Gambardela não era arquiteto então?

PC: Não, era um artista que fazia pilotis e fachadas (risos). É tão engraçado, porque não havia uma consciência de projeto como atualmente. Era uma planta legal e em cima da planta trabalhava todo mundo, muitas vezes não tinha uma planta executiva, não tinha o que era o detalhe. E eu comecei na Sisal a tentar introduzir certas coisas como o calculista que fazia planta de execução que era na tela, tudo feito com tela. Era um tecido para a prefeitura guardar e não deteriorar. Coisa antiga.

E um dia eu percebi que queria fazer detalhes, mas a escola não me deu nenhum conhecimento de como trabalhar na obra. Eu sei que quando o Luiz Ozil viajou, eu peguei minha prancheta e coloquei lá na obra. Medir, olhar, medir, olhar de novo e fui detalhando, detalhando as coisas dentro da própria obra. Essas várias coisas ricas, eu tenho outro livro que eu falo mais dessa reação do mestre de obra, que ele vê o arquiteto como “doutorzinho”. Ele coloca lá um diminutivo para te colocar na sua devida posição, então você tem que ter uma esperteza muito grande para que ele não te envolva. São coisas incríveis estas experiências de obra.

AAB: Então isso foi um grande aprendizado para o senhor?

PC: Sem dúvida, um aprendizado, um início da minha vida profissional.

Cidade das Crianças, Itaguaí, Rio de Janeiro. Arquiteto Paulo Casé, 2004
Foto divulgação [Website do arquiteto]

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049.02
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Fredy Massad

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