Beatriz Carra Bertho: Muitos críticos de arquitetura acreditam que após a inauguração de Brasília houve uma perda gradual na qualidade da arquitetura brasileira e uma decadência dos valores “que possibilitaram uma arquitetura de tal qualidade que foi tão aclamada no exterior”. De acordo com Roberto Segre (5), atualmente, procura-se para as edificações, um mínimo de funcionalidade aliada a um custo baixo e a imagem das cidades está mais vinculada às construções especulativas anônimas do que a iniciativas de desenvolvimento urbanístico. E vocês, como posicionam a arquitetura contemporânea brasileira? E qual é o caminho por uma arquitetura brasileira mais promissora?
Marcelo Ferraz: Eu não tenho clareza sobre uma perspectiva para a arquitetura brasileira. Mas creio que o Brasil nos apresenta questões muito próprias, de um país ainda muito pobre, de cidades muito pobres, um país com carências de infra-estrutura brutais, uma sensação de ter muito por fazer. E isso nos diferencia muito de vários lugares do mundo, e nos aproxima de outros, onde a história da formação da cidade ainda está em curso, muito pouco consolidada. A gente ainda está nesse esforço de resolver problemas básicos, e isso, coloca aos arquitetos brasileiros, pelo menos em tese, uma nova noção de movimento, muito maior, com muito menos restrição, muito menos enquadramento, enfim. Pelo menos em conteúdo, isso se apresenta assim.
Francisco Fanucci: A gente vê jovens arquitetos fazendo coisas muito importantes. Há uma geração de jovens de muito valor, uma geração diferente da nossa, em que poucos, percentualmente, depois que saíram das escolas se dedicaram à arquitetura propriamente dita, por falta de oportunidades.
MF: Se você olhar para os concursos de arquitetura, tem muitos projetos bons. Esse é um lado que compensa outro: grande parte do capital é investida na cidade em construção de péssima qualidade. Às vezes de boa qualidade construtiva, mas totalmente equivocada, como os neoclássicos. Por outro lado, também tem uma média que melhora, num nível geral, temos bons arquitetos jovens. Agora, eu acho também difícil avaliar porque nos sentimos um pouco isolados, talvez pela nossa maneira de fazer arquitetura. Um pouco sós, num plano mais geral, não porque queremos ser isso ou aquilo. Um pouco sós no modo de fazer arquitetura. Continuamos insistindo em fazer assim, ou talvez a gente não saiba fazer de outro modo, não sei. Partindo do envolvimento com o tema, com o programa. Se for casa, se for um museu, se for uma escola; sempre tratamos da questão de modo a tomar todas as variantes para poder projetar. E é claro que muita gente não precisa nem tocar no tema, colocar- se no lugar do cliente. Eu senti isso quando lecionei nos Estados Unidos: lá é o oposto, eles são em sua maioria técnicos extremamente capazes de realizar os projetos, resolver estruturas e resolver espaços, sem maior envolvimento com o tema; a encomenda vem e sai um projeto. Aqui, conosco, é um pouco diferente.
nota
5
SEGRE, Roberto. Arquitetura brasileira contemporânea. Rio de Janeiro, Viana & Mosley, 2004, p. 16.