Nicolás Sica: É difícil começar a falar sobre o senhor e sua carreira como crítico sem mencionar pelo menos três das suas obras mais famosas. E eu quero dizer que estas obras são importantes para o senhor e para todo aquele que estuda arquitetura moderna em cursos de graduação e pós-graduação. Me refiro a História Crítica da Arquitetura Moderna (3), Estudios Sobre Cultura Tectónica: Poéticas de la Construcción en la Arquitectura de los Siglos XIX y XX (4) e Oppositions (5), revista da qual foi editor e co-fundador. Ultimamente, mais precisamente em 2008, participou de uma publicação sobre a nova arquitetura do Chile chamada Pulso. Parece que depois de alguns anos está mais focado na arquitetura contemporânea. É assim? No que está o senhor trabalhando agora?
Kenneth Frampton: Eu sempre estive preocupado com a evolução da arquitetura contemporânea. As sucessivas edições História Crítica da Arquitetura Moderna a partir de 1980 até o presente têm sido finalizadas com um capítulo de atualização de alguns aspectos de recentes e significativas evoluções em todo o mundo. Atualmente estou ocupado preparando um seminário novo sobre o tema da "arquitetura global", enfatizando obras não eurocêntricas realizadas em lugares como Austrália, Canadá, Brasil, África, etc.
NS: O senhor tem estudado e criticado (no estrito sentido da palavra) por muitos anos a arquitetura moderna praticada e teorizada pelos mais importantes arquitetos do século passado, tendo principalmente como referências Le Corbusier e Alvar Aalto. São estes estudos uma referência importante na análise da arquitetura praticada no mundo atualmente? O senhor utiliza essas idéias da modernidade, que para muitos estão fora de moda, como base para criticar a arquitetura construída nos dias de hoje?
KF: Sem dúvida o trabalho de ambas figuras continua sendo um grande legado para o presente, ou seja, são parte da tradição moderna. Aalto, na minha opinião, continua sendo um ponto de partida fundamental para o cultivo de uma arquitetura contemporânea significativa.
NS: Dia 13 de novembro deste ano (2010) o senhor foi curador de um encontro chamado Five Architects: A North American Anthology, do qual participaram como palestrantes cinco escritórios de arquitetura do Canadá e dos EUA. Que razões teve para juntar o arquiteto Steven Holl (Nova York), Rick Joy (Tucson), John e Patricia Patkau (Vancouver), Stanley Saitowitz (San Francisco) e Brigitte Shim + Howard Sutcliffe (de Toronto)? Quais são as conclusões mais importantes que o encontro nos deixou?
KF: Ao realizar o seminário Five Architects: A North American Anthology queria, em primeiro lugar, chamar a atenção da comunidade universitária de Columbia para o nível excepcional da arquitetura que está sendo feita nos últimos anos no Canadá, o vizinho cultural que os EUA continuam a ignorar devido ao provincianismo perene existente no grande centro. As três práticas norte-americanas representaram em certa medida o trabalho exemplar feito nas diferentes partes do país, desde o sudoeste, na costa do Pacífico e também aa costa leste. Além disso o que todos tinham em comum era um certo ênfase fenomenológico e um forte sentido da importância da topografia e da luz.
notas
3
Frampton, Kenneth. História crítica da arquitetura moderna. São Paulo: Martins Fontes, 2008. 529 p.
4
Frampton, Kenneth. Studies in Tectonic Culture: The Poetics of Construction in Nineteenth and Twentieth Century Architecture. Cambridge: The MIT Press, 1995. 446 p.
5
Oppositions: journal for ideas and criticism in architecture. New York: Institute for Architecture and Urban Studies, 1973-1984. 26 v.