NS: Na sua opinião, a arquitetura moderna é um sistema formal, como o clássico? Por quê?
KF: A arquitetura moderna nunca se tornou um sistema formal consistente, comparável ao do classicismo europeu entre 1750 e 1925. Por mais que a arquitetura moderna tenha chegado a estar fora da vanguarda artística Europeia, sempre foi de alguma maneira pluralista no que diz respeito a essas lealdades formais primárias, como o purismo, neoplasticismo, construtivismo, expressionismo, etc. Inclusive se para alguns a arquitetura moderna poderia ser devidamente reconhecida como de cor branca mais ou menos unificada, cobertura plana, segundo as linhas do chamado estilo internacional canônico de Hitchcock e Johnson, que data de 1932, a obra dos arquitetos modernos europeus depois da Segunda Guerra Mundial nos anos 50 era invariavelmente muito diversa. Também pode ser citado o trabalho do pós-guerra da Alvar Aalto, que não tinha nada a ver com o estilo internacional, nem mesmo no período de sua canônica Biblioteca de Viipuri, de 1938-1939.
NS: Depois do pós-modernismo, o senhor acredita que a modernidade ainda é pertinente nos dias de hoje? Em caso afirmativo, quais são as diferenças entre a arquitetura e o urbanismo modernos realizados entre 50 e 70 e o que poderia ser construído hoje? Será que as paisagens e entornos - urbanos ou não, os programas e a tecnologia poderiam gerar progressos formais significativo para essa arquitetura?
KF: Talvez o último episódio de planejamento e renovação urbanos em grande escala verdadeiramente significativo foi o realizada em Barcelona entre 1980 e 1992, liderado em grande parte por Oriol Bohigas (7) e sob a administração neo-socialista de Pasqual Maragall. O avanço recente mais promissor foi, certamente, o crescimento do paisagismo/urbanismo como discurso ambiental, que tem sua origem no trabalho de Ian McHarg e James Corner na Filadélfia, e no de Manuel de Solà Morales e Joan Busquets em Barcelona. Embora existam outras escolas de paisagismo importantes da Europa, a escola de Versailles, de Corajoud Michel, da qual Michel Desvigne é um dos descendentes mais criativos, está um passo a frente. No que diz respeito à tecnologia, sem dúvida, uma das mais importantes linhas didáticas é aquela que deriva de Thomas Herzog, em Munique, em seu trabalho como professor pesquisador e também como profissional. Seu livro Architecture and Technology, de 2001, é uma resposta fundamental a esse respeito.
NS: Considerando que a arquitetura moderna é um importante tema de estudos, deve a pesquisa ser considerada apenas um registro historiográfico ou pode ser usada como base para futuras realizações, tais como edifícios e planejamentos urbanos?
KF: Na minha opinião, o cultivo da tradição é essencial, incluindo a tradição do novo. Estou convencido pelo argumento de que não existe tradição sem inovação e, por outro lado, não há inovação sem tradição. Quanto à tradição moderna, é provável que o legado mais fértil para o futuro da arquitetura seja o trabalho de Aalto.
nota
7
Frampton, Kenneth. Martorell, Bohigas, Mackay: trente ans d’architecture, 1954-1984. Paris: Electa Moniteur, 1985. 151 p.