Sérgio Hespanha e Federico Calabrese: O senhor nasceu em San Giuseppe Vesuviano e mora em Caserta. O que quer dizer ter nascido nesta região? O que é ser um arquiteto nesta região da Itália (Campânia, Caserta, inclusive Nápoles)?
Benaminio Servino: Eu sou um homem desta terra [Campânia, o interior do Vesúvio, Campânia Felix – a planície entre Nápoles e Caserta]. Um homem, antes de um arquiteto. Assumo [desta terra] – mesmo inconscientemente, as maneiras, costumes, tiques. Eu descendo dessa cultura e, portanto, daqui que parto.
Meu repertório mnemônico que se torna repertório expressivo é construído selecionando fragmentos conhecidos [familiares, queridos]. Torno-me um rapsodo. Levo para os outros as historias que ouço.
SH/FC: Como vê a sua cidade e o seu território?
BS: Macabro e sublime, traços milenares imortais e sobras recém-nascidas de morte.
SH/FC: O que destacaria na história, na cultura, na urbanização/urbanismo desta região? Como vê a arquitetura produzida neste seu território (as três referências anteriores)? Quais relações julga serem interessantes entre arquitetura e urbanismo?
BS: Opostos e oposições. Registros reguladores e sobreposições. Promiscuidade. Complexidade.
A memória [minha memória] dá [me da] seus traços sincronicamente. É [se me apresenta] bidimensional.
A cidade [a paisagem] se representa sincronicamente. É [a cidade/a paisagem] bidimensional.
Tudo chega à superfície e lá é que para. Flutua. Um lugar mostra-se em duas dimensões. É percebido bidimensional. Não há espaço para a atenção. Para a profundidade. Não há espaço para a terceira dimensão. Ele vai diretamente para a quarta. A do tempo. Um lugar e sua cultura são preservados reduzidos e comprimidos num plano bidimensional. E um plano é sobreposto a outro plano. Muitos planos, muitas cartas. Tantas cartas. E com tantas cartas um maravilhoso castelo de cartas.
O antigo não existe. O tempo, as pessoas e as coisas são comprimidas e achatadas juntas no presente.
SH/FC: No projeto, na projetualidade, como um pensamento arquitetônico, não caberia libertar o desenho da bidimensionalidade (liberá-lo do texto, termos, então, mais castelos que cartas ou podermos dobrar estas cartas no lugar de apenas sobrepô-las; embora, para isto, a sobreposição não seria excluída)?
BS: A dimensão sincrônica é aquela que corresponde à contemporaneidade.
Contemporaneidade significa que as coisas que cada um vê/toca vê/que toca você vive ao mesmo tempo.
Significa então algo horizontal.