Sérgio Hespanha e Federico Calabrese: Por que o nome Obvius para o livro que acaba de editar/publicar?
Benaminio Servino: A definição de Obvius é: o que se apresenta espontaneamente e facilmente ao pensamento ou à imaginação, como coisa natural, normal, evidente.
De Elementar/Superficial a Natural/Normal/Evidente.
Monumental Need e Obvius são dois livros do mesmo volume. O primeiro trata um tema [A necessidade monumental da paisagem do abandono] de maneira extensa [e com digressões que retornam ao tema]; o segundo sistematiza uma teoria através da composição de fragmentos. Fragmentos de uma autobiografia quase autêntica, quase verdadeira.
SH/FC: Retomando a velha questão da relação forma-função, mas não necessariamente nos termos históricos, como o senhor desenvolve(rá), especificamente junto aos seus alunos, a questão da passagem ou da tradução das necessidades de espaço destinados às práticas da vida (ou o conteúdo ‘social’ do espaço), para as formas que o espaço deva ter, na satisfação dessas necessidades (formas estas a serem elaborados no projeto)?
BS: Sobre o Monumento e sobre a Memória.
[Eu / Ego] Desenho monumentos eternos onde você, dentro, pode colocar qualquer função e quando estas funções estiverem desatualizadas você pode mudá-las, mas o monumento permanece.
A forma segue a função leva consigo o funcionalismo - os programas - os organogramas.
A forma segue a ela mesma [e colocamos dento o que você quer]. O monumento é a representação física da memória transfigurada das pessoas. É a memória que as pessoas pensam conservar. Mas, entretanto, já se transformou ...
O monumento vem da memória e a devolve [a memória] assim como se pensava tê-la.
A memória é como a água, toma a forma do recipiente que a contém.
…
Depois
o monumento
se torna um pedaço de você
Um pedaço que você ainda possui, mas que você acha que sempre teve.
Uma arquitetura nunca nasce para uma função. Nasce para definir [determinar fixando os limites] um lugar.
SH/FC: Quando o senhor fala de forma, de seu valor simbólico, o que é esta forma? Esta palavra, mesmo no âmbito das artes e da arquitetura é meio controversa, não?
BS: A forma é associada ao descomprometimento. A autoreferencialidade, a superficialidade. A tradição. A linguagem. Ao solipsismo narcisístico.
SH/FC: O que significa ‘a forma não segue a função, a forma segue ela mesma’? Isto significa que há realmente uma contraposição inconciliável entre programa - como expressão das funções/atividades a serem acomodadas num edifício - e uma possível flexibilidade da forma? Ou quando diz que a forma segue a si mesma o senhor usa de uma metáfora, ou cria um slogan, para referir-se mais exclusivamente à forma e, na verdade, não à função?
BS: Se a arquitetura se modelar sobre a função, sobre o uso previsto pela sua construção, teremos muitas arquiteturas não usadas. Felizmente a arquitetura resiste à função que a gerou.