Júlia Kotchetkoff: Considera que o modo de projetar durante a vida profissional, e a atuação como arquiteto em geral, é reflexo, continuidade da formação na universidade ou há uma ruptura?
Maria Madalena Pinto da Silva: Durante o ensino de projeto, durante os seus seis anos normais de curso, os alunos vão percebendo o que é a realidade. Precisamente essa relação muito peculiar, mas ao mesmo tempo muito rigorosa com o sítio, com as condicionantes, com os regulamentos, eles vão construindo uma aprendizagem que, apesar ser um faz-de-conta fazendo arquitetura, há determinadas questões que nós não deixamos de fazer. Portanto, nós tentamos seguir algumas regras, alguns regulamentos, algumas questões que eles vão ter na prática do dia-a-dia quando chegarem lá fora. Portanto, em relação àquilo que é possível ou não é possível fazer, eles já são mais ou menos ensinados. Não vão achar que tudo é possível. Depois, em relação àquilo que sabem, e àquilo que têm que mostrar que sabem, para fazer e para construir, normalmente não têm problemas. Aliás antes pelo contrário, nós temos um feedback que nossos alunos se adaptam muito bem, porque têm uma capacidade muito grande de trabalho. Portanto, não sinto que os alunos, quando chegam lá fora como profissionais, que tenham problemas. Antes por contrário, e em diversas áreas, porque cada vez vemos mais que o aluno que se forma em arquitetura é capaz de diversificar, o seu campo profissional não é só fazer arquitetura. Há quem vá para o ensino, para câmaras, os que não fazem arquitetura, mas fazem gestão, ou há quem se dedique ao planejamento, há quem se dedique ao cinema, no teatro ou ao design, quer dizer, há áreas de outras artes que naturalmente podem abarcar, anexar no seu seio um arquiteto. Cada vez vemos mais capacidade, precisamente por não sermos especialistas. E precisamente por quem escolhe arquitetura já ter esta vontade de ambular pelas artes e auto referenciar-se em cada uma delas, ou numa especificamente. E portanto a notícia que vamos tendo costuma ser sempre do sucesso, mesmo internacionalmente.
Aliás, a dificuldade atual não será tanto a competência dos nossos alunos depois de saírem da faculdade, mas a dificuldade de encontrarem trabalho no nosso país. O que cria a obrigação de deixar o seu país, não como escolha, mas como única possibilidade de trabalho e sem saberem quando ou em que condições poderão regressar para fazerem o que amam fazer e para o qual estão preparados.