Wilson Barbosa Neto: Como a Bemo recrutou você?
Peter Mehrtens: A contratação foi uma decorrência de minha atividade docente. Eu estava lecionando CAD paramétrico, Grasshopper, modelagem em Rhinoceros e técnicas de scripting em tempo parcial e alguns de meus alunos eram técnicos e arquitetos trabalhando para a Bemo. Eles me recomendaram e a empresa entrou em contato comigo. Eu fiquei impressionado com a unidade de novas tecnologias da Bemo. Eles haviam desenvolvido, junto com um fabricante, uma nova máquina inteiramente nova, para a qual ainda não existiam algoritmos para gerar os dados que a fizessem trabalhar. Sequer havia, naquele momento, experiência anterior para construir as fachadas de edificações com formas livres. Então foi uma feliz coincidência que eu tivesse algo a oferecer e que eles tivessem desafios interessantes para resolver.
WBN: Porque a Bemo montou uma equipe de projeto? Qual o significado de incorporar arquitetos na planta de uma fábrica?
PM: A principal razão é a complexidade da fachada de edificações com formas livres, que não só exige certo conhecimento de projeto generativo como também de detalhes construtivos. Em certos casos, os arquitetos que desenvolveram o projeto conceitual não têm necessidade de manter profissionais tão especializados em seus escritórios. A Bemo já tem uma equipe de projeto pronta, apta a resolver questões que vão de detalhamento a aspectos estruturais e, agora, este serviço está abarcando o auxílio para edificações de formas livres e projeto generativo.
WBN: Então, de certa forma, vocês estão fazendo a ponte entre fabricantes e arquitetos?
PM: Exatamente! Existe uma lacuna de conhecimento a ser vencida entre o fabricante e o escritório de projeto. E, obviamente, existem muitas maneiras diferentes de fazê-lo: você pode procurar ajuda fora do escritório ou montar sua própria equipe de especialistas. Esta decisão se baseia não apenas na viabilidade econômica de manter mais funcionários como também em criar uma equipe bem entrosada que se sente parte de algo maior. É por isto que nem sempre vale a pena terceirizar.
WBN: Quantas pessoas trabalham na sua equipe de projeto? São arquitetos ou possuem outro tipo de formação? Há estudantes trabalhando como estagiários?
PM: Há uma certa variedade nos profissionais da nossa equipe. Nós temos arquitetos, engenheiros civis, desenhistas e técnicos formados (desenhistas com formação complementar e enorme capacitação em detalhamento). Nós também temos estudantes que estão estudando tecnologia de fachadas na Universidade de Ciências Aplicadas. Eles trabalham e estudam: permanecem na empresa por três meses e então retornam à faculdade por outros três. Trata-se de um programa de formação técnica.
WBN: Em qual estágio do projeto você costuma entrar?
PM: Graças à modularidade dos componentes da bemo, eu sou apto a colaborar já no projeto conceitual, auxiliando na modelagem geométrica para a produção desde as primeiras fases da concepção. Contudo, nem todos os projetos chegam à minha equipe no mesmo estágio, isto varia muito de caso a caso. Há ocasiões em que somos chamados a participar quando as decisões já evoluíram em certo sentido e isto torna realmente difícil voltar atrás e mudar alguma coisa. Algumas vezes o projeto já estava na etapa de pré-contratação. E nós tivemos alguns projetos, penso eu, que foram mais frutíferos e a colaboração funcionou melhor porque começamos a trabalhar juntos o mais cedo possível. Por exemplo, é que temos feito para Foster and Partners. Também trabalhamos com Mecanoo já há alguns anos em um projeto em Taiwan, em uma estação ferroviária. Quanto mais cedo começamos, mais fácil é expressar e explicar todas as possíveis interdependências. As vezes isto implica em parametrizar projetos para escritórios de arquitetura que até então estavam trabalhando com representações convencionais de desenho.