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interview ISSN 2175-6708

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Entrevista com o arquiteto alemão Peter Mehrtens, chefe da equipe de concepção computacional da Bemo Systems e sócio de uma firma de consultoria chamada Design to Fabrication.

how to quote

CELANI, Gabriela; BARBOSA NETO, Wilson; MOARA SANTOS FRANCO, Juarez. Entrevista com o arquiteto Peter Mehrtens. Do projeto à fabricação. Entrevista, São Paulo, ano 16, n. 063.02, Vitruvius, jul. 2015 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/16.063/5541>.


A máquina MONRO da BEMO, instalada em um container para poder ser transportada para qualquer local para produzir painéis de dupla curvatura diretamente no conteiro de obras
Imagem divulgação [Website Bemo]


Gabriela Celani: Qual a diferença entre a Bemo na Alemanha e a Bemo do Brasil? Quais são seus principais campos de aplicação?

Peter Mehrtens: Bemo é uma aliança entre empresas. Bemo do Brasil é controlada por seus proprietários brasileiros, ao passo que Bemo Project Engineering e Bemo Systems também são propriedades diferentes, operadas a partir da Alemanha. Isto significa que nós fazemos produtos semelhantes, mas a Bemo do Brasil é uma companhia que fabrica e instala coberturas, enquanto Bemo Systems e Bemo Project Engineering são basicamente um escritório de engenharia em uma holding que também tem instalações para a produção. Isto significa que nós projetamos e fabricamos fachadas de edifícios como um kit de montagem, mas nós não temos equipes para vão ao canteiro para fazer a instalação. A maior diferença, contudo, provavelmente é a tecnologia. A Bemo alemã é uma unidade de produção de painéis de forma livre. Trata-se de uma tecnologia controlada digitalmente e que pode produzir painéis personalizados em massa em um ambiente industrial digital. A Bemo do Brasil colabora com a Bemo Project Engineering para projetar e executar formas complexas.

GC: Alguns dos trabalhos que você nos mostrou têm os atributos de uma arquitetura de alto nível. Eles empregam material industrial mas possuem um caráter extremamente sofisticado. Não se vê este tipo de obra no Brasil, talvez porque não haja maquinário para trabalhar com chapas em dupla curvatura ou porque simplesmente não haja demanda por aqui. As pessoas talvez tenham a idéia de que o resultado seja demasiadamente industrial. Uma exceção foi a arena das Dunas em Natal. Você poderia contar qual foi o papel das duas empresas nesse empreendimento?

A máquina MONRO da BEMO, instalada em um container para poder ser transportada para qualquer local para produzir painéis de dupla curvatura diretamente no conteiro de obras
Imagem divulgação [Website Bemo]

PM: Nesse estádio da Copa do Mundo da FIFA no Brasil, a BEMO do Brasil fechou o contrato global para a montagem do sistema de fechamento sobre a estrutura reticulada espacial, que foi executada por uma outra empresa de construção metálica, contratada pelo empreiteiro geral da obra. O projeto inicial foi uma concepção de Populous. Embora o projeto conceitual já estivesse definido, a sua execução foi deixada a cargo do empreiteiro geral, que por sua vez passou a tarefa de criar as superfícies e os painéis para a Bemo. Nesse ponto, a Bemo Project Engineering na Alemanha assumiu a responsabilidade pela modelagem paramétrica e pelo projeto gerativo de distribuição dos painéis. A forma do estádio tinha regiões com uma dupla curvatura muito acentuada, o que significa que era preciso produzir painéis personalizados para cobrir essas superfícies. Por outro lado, havia regiões de simples curvatura e que poderiam ser cobertas com painéis convencionais. Para manter os custos sob controle nós tivemos que racionalizar a distribuição dos painéis de tal modo que apenas uma certa porcentagem do sistema de fechamento exigiu a tecnologia de fabricação de formas livres, que eram então fabricadas na Alemanha e despachadas para o canteiro no Brasil. A Bemo do Brasil produz seus painéis aqui e, para assegurar que os produtos executados na Alemanha e no Brasil tivessem exatamente o mesmo acabamento, bobinas com a matéria-prima e a pintura final foram enviadas do Brasil para a Alemanha com antecedência, para que nós produzíssemos os paineis especiais na Alemanha e enviássemos de volta. No final, todos os painéis tinham o mesmo acabamento. Uma alternativa teria sido transportar a maquinaria para o Brasil mas, devido a outros projetos simultaneamente em andamento e ao fato de que apenas uma pequena parte da cobertura efetivamente exigia painéis com forma livre, foi mais eficiente, neste caso, enviar os painéis em lugar da máquina. Mas ambas as estratégias são plausíveis.

GC: E os painéis foram despachados em containers, certo? Qual o maior comprimento desses componentes?

PM: Sim. Eles tinham até 11.5m, de modo que eles puderam ser enviados em um container de 12m de comprimento.

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