Isa Clara Neves: E alentos que lhe têm chegado para continuar o seu trabalho? Esta lufada de Prêmios que nestes últimos dois anos recebeu, que impacto é que sente a nível pessoal e a nível profissional?
Eduardo Souto de Moura: A nível pessoal é agradável, não sou falso modesto a dizer “não os merecia, pá!”.
Até agora trabalhei muito. Agora menos, só. trabalho de tarde, estou a fazer coisas que nunca fiz: a ler mais, a sair, ouvir música, descobri que tinha discos por abrir ainda! Cultivo fazer algumas coisas mais. A profissão era de tal maneira absorvente que deixei de as fazer.
Portanto, a nível dos Prêmios é compensador. A atividade que tive até agora tem sido de grande intensidade, portanto é uma espécie de reconhecimento, fico contente. E fiquei mesmo muito contente sobretudo com este último Prêmio, o Prêmio Wolf das Artes que não tem a ver somente com a arquitetura, tem a ver com as artes e ciência e, pela lista que eu vi, são pessoas que eu considero muito, pintores e músicos. Não é um Prêmio de profissão específico.
Tenho praticamente suspenso tudo, porque o pouco tempo que tenho aqui em Portugal é para poder acompanhar os trabalhos. Praticamente mantive o mesmo número de pessoas na chamada “crise”, e portanto tenho trabalho, aguento, e é preciso fazê-lo. Sobra muito pouco tempo para fazer outro tipo de atividades...
ICN: E as aulas que ainda lecciona?
ESM: Este ano não dei, praticamente. No ano passado dei na Suíça. Quando dou aulas tenho sempre o mesmo assistente, com quem me dou muito bem e resolve-me muitos dos problemas, que são pesados. Portanto eu fico só com a carne do lombo.
ICN: E no Porto também lecciona?
ESM: No Porto não estou a dar aulas, estou a fazer outro tipo de trabalho, que é a preparação de um curso de pós graduação.
ICN: Com alguma temática específica?
ESM: Não. É um curso pós graduação, frequentado por arquitetos, e depois é uma especialização, no fundo. Já não se discute a formação do arquiteto mas é uma prática, um exercício, feito com vertentes diferentes, com professores convidados, é mais exigente, mais profissionalizado de que o curso em si.