A habitação social foi um dos grandes temas da arquitetura e do urbanismo do século 20 e o Brasil não se furtou a contribuir para este debate, produzindo conjuntos habitacionais de inestimável qualidade, particularmente entre 1930 e 1970. Entretanto, quando o país voltou a ter um programa federal de habitação social, na última década, os resultados foram frustantes. Apesar de ter-se alcançado números significativos de exemplares construídos ao longo de todo território nacional, as realizações do Programa Minha Casa Minha Vida foram alvo de duras críticas: a falta de relação com o tecido urbano, a localização distante dos grandes centros, ausência de infraestrutura adequada para os moradores, a monotonia arquitetônica e sua aplicação de maneira indistinta nas diversas regiões do país são alguns dos pontos destacados. Tal conjuntura provoca alguns questionamentos como: é possível fazer conjuntos integrados e relacionados à cidade, alocando-os em áreas com infraestrutura urbana? É possível desenvolver edifícios com qualidade arquitetônica, respeitando a leitura do entorno e atendendo a necessidade da população? É, ainda, viável construí-los com poucos recursos envolvendo políticas urbanas?
No âmbito de umas poucas iniciativas municipais e estaduais, alguns arquitetos brasileiros têm-se lançado neste desafio, acreditando que podem contribuir para o desenvolvimento de melhores conjuntos e aprimorar a relação entre habitação social e cidade. Entre estes destaca-se Héctor Vigliecca, o qual juntamente com sua equipe, já desenvolveu mais de trinta propostas de moradias coletivas – em modalidades de programas diversificados – buscando inseri-los dentro da cidade como alternativa ao modelo periférico. Seus conjuntos exploram as condições urbanas para criar mais possibilidades de integração com a cidade, buscando extrair o potencial da cidade informal. Alguns dos seus projetos tornaram-se referência como o conjunto habitacional Rio das Pedras/ Vila Mara nos anos 1990 e, mais recentemente, o Parque Novo Santo Amaro, e receberam atenção internacional por meio de premiações e exposições. Esta entrevista com Héctor Vigliecca e a associada Neli Shimizu, busca explorar o tema da habitação social na produção do escritório, do ponto de vista da sua prática no âmbito arquitetônico e urbanístico.